quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O Ensinamento da Não-Alma






Anatta: O Ensinamento da Não-Alma

O Buddha contrapôs toda teoria de uma alma e especulação sobre uma alma com Sua doutrina de Anatta. Anatta tem sido traduzido sob vários rótulos: não-Alma, não-Self, não-Ego.

Para entender a doutrina de Anatta, é preciso entender que a teoria de uma alma eterna – ‘eu tenho uma alma’ – e a teoria materialista – ‘eu não tenho alma’ – ambas são obstáculos para a autorealização ou salvação. Elas surgem do conceito enganado do ‘EU SOU’. Assim, para compreender a doutrina de Anatta, não se pode apegar a nenhuma opinião ou crença em teorias da alma; ao contrário, deve-se tentar ver as coisas objetivamente como são e sem quaisquer projeções mentais. É preciso aprender a ver o assim chamado ‘eu’, alma ou Self como realmente é: meramente uma combinação de forças mutantes. Isso requer alguma explicação analítica.

O Buddha ensinou que aquilo que concebemos como algo eterno dentro de nós, é meramente uma combinação de agregados físicos e mentais, ou forças (pancakkhandha) constituídos de corpo ou matéria (rupakkhandha), sensações (vedanakkhandha), percepções (saññakkhandha), formações mentais (sankharakkhandha) e consciência (viññanakkhandha). Essas forças trabalham juntas num fluxo de mudança momentânea; nunca permanecem iguais por dois momentos consecutivos. São as forças constitutivas da vida psicofísica. Quando o Buddha analisou a vida psicofísica, Ele descobriu somente esses cinco agregados ou forças. Não encontrou nenhuma alma eterna. Entretanto, muitas pessoas ainda carregam a idéia errônea de que a alma é a consciência. O Buddha declarou em termos inequívocos que a consciência é dependente da matéria, sensação, percepção e formações mentais e que não pode existir independentemente destes.

O Buddha disse: ‘O corpo, ó monges, não é o Self. Sensação não é o Self. Percepção não é o Self. As construções mentais não são o Self. E nem a consciência é o Self. Percebendo isso, ó monges, o discípulo não coloca valor no corpo, na sensação, na percepção, nas construções mentais ou na consciência. Não colocando valor neles, ele se torna livre da paixão e é liberto. O conhecimento da libertação surge dentro dele. E então ele sabe que fez o que tinha que ser feito, que viveu a vida santa, que não há mais tornar-se isso ou aquilo, que seu renascimento está destruído’ (Anatta-lakkhana Sutta)

A doutrina de Anatta do Buddha tem mais de 2500 anos. O pensamento corrente no mundo científico moderno flui na direção do Ensinamento do Buddha sobre Anatta ou Não-Alma. Aos olhos dos cientistas modernos, um ser humano é meramente um agregado de sensações sempre mutantes. Os físicos modernos dizem que o universo aparentemente sólido não é, na realidade, composto de substâncias sólidas de modo algum, mas é, de fato, um fluxo de energia. O físico moderno vê todo o universo como um processo de transformação de várias forças, o qual inclui os processos que constituem um ser humano. O Buddha foi o primeiro a perceber isso.

W.S. Wily disse certa vez: ‘A existência do imortal nos seres humanos tem se tornado cada vez desacreditada a partir da influência das escolas dominantes do pensamento moderno’. A crença na imortalidade da alma é um dogma que contradiz a investigação mais clara e empírica.

A mera crença em uma alma imortal ou a convicção de que algo em nós sobrevive à morte não nos torna imortais a menos que saibamos o que é isto que sobrevive e que somos capazes de nos identificar com isso. A maioria dos seres humanos escolhe a morte ao invés da imortalidade identificando-se com o que é perecível e impermanente por meio do teimoso apego ao corpo ou aos elementos momentâneos da personalidade presente, os quais se iludem tomando-os como sendo a alma ou a forma essencial de vida.

Com relação a tais pesquisas dos cientistas modernos que agora estão mais inclinados a afirmar que a chamada ‘Alma’ não é mais que um aglomerado de sensações, emoções, sentimentos, todos esses relacionados a experiências físicas, o prof. William James diz que o termo ‘Alma’ é uma mera figura de linguagem que não corresponde a nenhuma realidade.

É a mesma doutrina de Anatta do Buddha que foi introduzida na Escola Mahayana do Buddhismo como Sunyata ou vazio. Embora esse conceito tenha sido elaborado pelo grande erudito Mahayana, Nagarjuna, provendo várias interpretações, não há qualquer coisa extraordinária no conceito de Sunyata que seja muito diferente da doutrina original do Buddha sobre Anatta.

A crença na Alma ou Self e no Deus Criador é tão fortemente enraizada nas mentes de muitas pessoas que elas não podem imaginar porque o Buddha não aceitou esses dois conceitos que são indispensáveis em muitas religiões. De fato, algumas pessoas ficam chocadas ou nervosas e emotivas quando escutam que o Buddha rejeitou esses dois conceitos. Essa é a razão principal porque para muitos acadêmicos e psicólogos imparciais o Buddhismo é único quando comparado a outras religiões. Ao mesmo tempo, alguns outros acadêmicos que apreciam os vários outros aspectos do Buddhismo estão convencidos de que o Buddhismo ficaria mais rico se deliberadamente reinterpretasse a palavra ‘atta’, de maneira a introduzir o conceito de Alma e Self no Buddhismo. O Buddha estava consciente dessa insatisfação da humanidade e da turbulência conceitual com relação a essa crença.

Todas as coisas condicionadas são impermanentes,
Todas as coisas condicionadas são Dukkha-Sofrimento,
Todas as coisas condicionadas ou não (dhamma) são sem alma ou sem self.
(Dhammapada 277, 278, 279)

Há uma parábola em nossos textos buddhistas com relação à crença numa alma eterna. Um homem, que se iludiu tomando uma corda por uma cobra, ficou apavorado pelo medo em sua mente. Quando descobriu que era somente um pedaço de corda, seu medo se dissipou e sua mente ficou pacífica. A crença numa alma eterna é igualada à corda – uma imaginação do homem.

Muito mais em:
http://noqueosbuddhistasacreditam.wordpress.com/2009/09/28/anatta-o-ensinamento-da-nao-alma/

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Location:R. Inácio Francisco de Souza,Penha,Brazil

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Existe uma Alma Eterna?





A crença numa alma eterna é uma concepção errônea da consciência humana

Teorias da Alma

Com relação à teoria sobre a alma, há três tipos de professores no mundo: O primeiro ensina sobre a existência de uma entidade de ego eterna que sobrevive à morte: ele é o eternalista. O segundo ensina a respeito de uma entidade de ego temporária que é aniquilada com a morte: ele é o materialista. O terceiro não ensina sobre uma entidade de ego nem eterna nem temporária: ele é o Buddha.

O Buddha ensina que aquilo que chamamos de ego, self, alma, personalidade, etc., consiste de meros termos convencionais que não se referem a qualquer entidade independente e real. De acordo com o Buddhismo não há razão para acreditar que há uma alma eterna que vem do céu ou que é criada por si mesma e que irá transmigrar ou prosseguir para céu ou inferno após a morte. Os buddhistas não podem aceitar que haja qualquer coisa nesse mundo ou em qualquer outro mundo que seja eterno ou imutável. Apenas nos apegamos a nós mesmos e esperamos encontrar algo imortal. Somos como crianças que desejam pegar um arco-íris. Para as crianças, um arco íris é algo vivo e real; mas os adultos sabem que ele é meramente uma ilusão causada por certos raios de luz e gotas d’água. As cores são somente uma série de ondas ou ondulações que não têm mais realidade do que o próprio arco-íris.

Vivemos bem sem a descoberta da alma. Não mostramos sinais de fadiga ou degeneração por não ter encontrado uma alma. Ninguém já produziu qualquer coisa a fim de promover a raça humana por meio da postulação de uma alma e de seu funcionamento imaginário. Buscar por uma alma no homem é como buscar por algo num quarto escuro e vazio. A pobre pessoa nunca perceberá que aquilo que procura não está no quarto. É muito difícil fazer tal pessoa compreender a futilidade de sua busca.

Aqueles que acreditam na existência de uma alma não têm condição de explicar o que ela é e onde está. O conselho do Buddha é não desperdiçar nosso tempo com essa especulação desnecessária e devotar nosso tempo a entender a realidade. Quando atingirmos a perfeição então seremos capazes de perceber se há uma alma ou não.

Um asceta andarilho chamado Vacchagotta perguntou ao Buddha se havia um Atman (self/alma) ou não. Eis a história:

Vacchagotta se aproximou do Buddha e perguntou:
‘Venerável Gotama, existe um Atman?’
O Buddha ficou em silêncio.
‘Então, Venerável Gotama, não há um Atman?’
Novamente, o Buddha ficou em silêncio.
Vacchagotta se levantou e foi embora.

Após o asceta ter partido, Ananda perguntou ao Buddha porque não havia respondido a pergunta de Vacchagotta. O Buddha explicou Sua posição:

‘Ananda, quando perguntado por Vacchagotta, o Andarilho: “Há um Self?”, se Eu tivesse respondido: “Há um Self”, então, Ananda, isso seria tomar partido dos reclusos e brahmanas que mantêm a teoria do eternalismo (sassata-vada)’.

‘E Ananda, quando perguntado pelo Andarilho: “Não há um Self?”, se Eu tivesse respondido: “Não há um Self”, então Eu teria tomado partido dos reclusos e brahmanas que mantêm a teoria da nihilismo (uccedavada)’.

‘Também, Ananda, quando perguntado por Vacchagotta: “Há um Self?”, se Eu tivesse respondido: “Há um Self”, isso estaria de acordo com meu conhecimento de que todos os dhammas são sem Self?’

‘Certamente não, Senhor’.

‘E também, Ananda, quando perguntado pelo Andarilho: “Não há um Self?”, se Eu tivesse respondido: “Não há um Self”, então isso teria criado uma grande confusão no já confuso Vacchagotta. Pois ele teria pensado: Antigamente, de fato, eu tinha um Atman (Self), mas agora eu não tenho um’ (Samyutta Nikaya).

O Buddha considerou a especulação sobre a alma como sendo ilusória. Disse certa vez: ‘Somente pela ignorância e ilusão os homens se indulgem no sonho de que suas almas são separadas e entidades que existem por si mesmas. Seu coração ainda se agarra ao Self. Ficam ansiosos pelo céu e procuram o prazer do Self no céu. Assim, não podem ver a bênção da corretude e a imortalidade da verdade’. Idéias egoístas aparecem nas mentes dos seres humanos devido a sua concepção de Self e do apego pela existência.

Fonte Original:
http://noqueosbuddhistasacreditam.wordpress.com/2009/10/12/existe-uma-alma-eterna/

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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Abhidhamma





O Abhidhamma lida com realidades existentes num sentido último (paramattha dhamma em pali). Há quatro dessas realidades:

1. – Citta, mente ou consciência: definida como ‘o que conhece ou experiencia’ um objeto. Citta ocorre como estados momentâneos distintos de consciência.
2. – Cetasika: fatores mentais que surgem e ocorrem junto com citta.
3. – Rupa: fenômenos físicos e forma material.
4. – Nibbana: o estado incondicionado de bênção, que é o objetivo final.

Citta, cetasika e rupa são realidades condicionadas. Surgem devido a condições e desaparecerão quando cessarem as condições que os sustentam. São estados impermanentes. Nibbana, por outro lado, é uma realidade incondicionada. Não começa e, portanto, não desaparece. Essas quatro realidades podem ser experienciadas, não importando os nomes que escolhemos dar a elas. Além dessas realidades, tudo – estando dentro ou fora de nós, seja no passado, presente ou futuro, seja grosseiro ou sutil, inferior ou sublime, seja perto ou longe – não é mais que um conceito e não a realidade fundamental.

Citta, cetasika e Nibbana são também chamados de nama. Nibbana é um nama incondicionado. Os dois namas condicionados, isto é, citta e cetasika, quando adicionados a rupa (forma), constituem os organismos psicofísicos, inclusive os seres humanos. Mente e matéria (nama-rupa) são analisados no Abhidhamma como se submetidos a um microscópio. Eventos conectados com o processo de nascimento e morte são explicados em detalhe. O Abhidhamma clareia pontos intrincados do Dhamma e capacita o surgimento de uma compreensão da realidade, delineando assim, em claros termos, o Caminho para a Emancipação. A realização que obtemos por meio do Abhidhamma em relação às nossas vidas e ao mundo não pode ser entendida num sentido convencional, mas no de realidade absoluta.

A exposição clara dos processos de pensamento no Abhidhamma não pode ser encontrada em nenhum outro tratado psicológico seja do oriente como do ocidente. A consciência é definida, enquanto os pensamentos são analisados e classificados principalmente de um ponto de vista ético. A composição de cada tipo de consciência é delineada em detalhes. O fato de a consciência fluir como uma corrente, uma visão proposta por psicólogos como William James, se torna extremamente claro para quem entende o Abhidhamma. Além disso, um estudante do Abhidhamma pode compreender totalmente a doutrina de Anatta (não-self), que é importante tanto do ponto de vista filosófico quanto ético.

O Abhidhamma explica o processo do renascimento em vários planos após a ocorrência da morte sem nada passando de uma vida para outra. Essa explicação apóia a doutrina do Kamma e do Renascimento. Provê também uma riqueza de detalhes sobre a mente, bem como sobre as unidades das forças mentais e materiais, propriedades da matéria, fontes da matéria e relacionamento de mente e matéria.

No Abhidhammattha Sangaha, um manual de Abhidhamma, há uma breve exposição da ‘Lei da Originação Dependente’, seguida por um relato descritivo das Relações Causais, do qual não se encontra paralelo em nenhum outro estudo da condição humana em qualquer lugar do mundo. Por causa de suas exposições analíticas e profundas, o Abhidhamma não é um tema de interesse passageiro para um leitor superficial.

Como podemos comparar a psicologia moderna com a análise oferecida no Abhidhamma? A psicologia moderna, limitada como é, faz parte do escopo do Abhidhamma tanto quanto lida com a mente – com pensamentos, processos de pensamento e estados mentais. A diferença jaz no fato de que o Abhidhamma não aceita o conceito de uma psiquê ou alma.

A análise da natureza da mente dada no Abhidhamma não está disponível em qualquer outra fonte. Mesmo os psicólogos modernos andam no escuro em relação a temas como os impulsos mentais ou o compasso mental (javana citta), tais como discutidos no Abhidhamma. O Dr. Graham Howe, um eminente psicólogo de Harley Street, escreveu em seu livro ‘A Anatomia Invisível’:

Durante o curso de seus trabalhos, os psicólogos descobriram, assim como a obra pioneira de C.G. Jung mostrou, que estamos mais perto do Buddha. Ler um pouco de Buddhismo é perceber que os buddhistas já conheciam, 2500 atrás, bem mais sobre nossos problemas modernos de psicologia do que foi dado o crédito. Eles estudaram esses problemas há tempos e também descobriram as respostas. Estamos agora redescobrindo a Antiga Sabedoria do Oriente’.

Original:
No que os Buddhistas acreditam.
http://noqueosbuddhistasacreditam.wordpress.com/2010/08/30/o-que-e-abhidhamma/

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domingo, 28 de novembro de 2010

Meditação Vipassana. Na límpida realidade da vida.





Retiro de Meditação Vipassana inicia hoje em Garopaba SC.
Com Ricardo Sasaki ( Upasaka Dhanapala)

A Meditação Vipassana está inserida na tradição do Budismo Theravada, sendo transmitida pela linhagem milenar monástica nos países budistas no sul da Ásia. Esse ensinamento atemporal de Buda continua fundamental, pois trata de questões essenciais do ser humano.

Em sua transliteração, Vipassana quer dizer “visão clara – profunda” que nos leva, por meio da experiência da percepção direta, à realidade concreta do nosso cotidiano. A sabedoria do budismo nos permite alcançar uma visão límpida das coisas e dos processos, dissolvendo, dessa forma, os véus e as lentes que nos condicionam e escondem a verdade e a essência da vida. A Meditação Vipassana torna-se fundamental para o discernimento da realidade e consequente clareza mental. Além dos conceitos e práticas sobre meditação, o programa da Montanha Encantada...
Leia o programa completo no site da Montanha Encantada:
http://www.yogaencantada.com.br/cursos/2010/meditacao_vipassana.html

Nalanda:
http://nalanda.org.br/retiros/meditacao-yoga-em-garopabasc

Estarei participando novamente deste retiro e por isso ficarei sem postar no blog por algum tempo.

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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Intenção Correta

Cetanakaraniya Sutta
Intenção Correta





“Alguém que tenha virtude, não é necessário o pensamento intencional: ‘Que a libertação da ansiedade surja em mim!’ É uma lei da natureza, bhikkhus, que naquele que tem virtude surje a libertação da ansiedade.

“Alguém que está livre da ansiedade, não é necessário o pensamento intencional: ‘Que a satisfação surja em mim!’ É uma lei da natureza, bhikkhus, que naquele que está livre da ansiedade surje a satisfação.

“Alguém que está satisfeito, não é necessário o pensamento intencional: ‘Que o êxtase surja em mim!’ É uma lei da natureza, bhikkhus, que naquele que está satisfeito surje o êxtase.

“Alguém cujo coração está extasiado, não é necessário o pensamento intencional: ‘Que meu corpo se acalme!’ É uma lei da natureza, bhikkhus, que naquele cujo coração está extasiado o corpo é acalmado.

“Alguém cujo corpo está calmo, não é necessário o pensamento intencional: ‘Que eu sinta felicidade!’ É uma lei da natureza, bhikkhus, que naquele cujo corpo está calmo, sente felicidade. [1]

“Alguém que sente felicidade, não é necessário o pensamento intencional: ‘Que a minha mente fique concentrada!’ É uma lei da natureza, bhikkhus, que naquele que sente felicidade, a mente se concentra.

“Alguém com a mente concentrada, não é necessário o pensamento intencional: ‘Que eu conheça e veja as coisas como elas na verdade são!’ É uma lei da natureza, bhikkhus, que uma mente concentrada conhece e vê as coisas como elas na verdade são.

“Alguém que conhece e vê as coisas como elas na verdade são, não é necessário o pensamento intencional: ‘Que eu experimente o desencantamento e o desapego!’ É uma lei da natureza, bhikkhus, que aquele que vê as coisas como elas na verdade são, experimenta o desencantamento e o desapego.

“Alguém que experimenta o desencantamento e o desapego, não é necessário o pensamento intencional: ‘Que eu realize o conhecimento e visão da libertação!’ É uma lei da natureza, bhikkhus, que aquele que experimenta o desencantamento e o desapego, realiza o conhecimento e visão da libertação.

“Portanto, bhikkhus, o desencantamento e desapego possuem o conhecimento e visão da libertação como seu benefício e recompensa, conhecer e ver as coisas como elas na verdade são possui o desencantamento e desapego como seu benefício e recompensa, a concentração possui conhecer e ver as coisas como elas na verdade são como seu benefício e recompensa, sentir felicidade possui a concentração como seu benefício e recompensa, o corpo calmo possui sentir felicidade como seu benefício e recompensa, o coração extasiado possui o corpo calmo como seu benefício e recompensa, a satisfação possui o êxtase como seu benefício e recompensa, estar livre da ansiedade possui a satisfação como seu benefício e recompensa, a conduta com virtude tem a libertação da ansiedade como seu benefício e recompensa.

“Assim, bhikkhus, as qualidades que precedem fluem para as qualidades que sucedem; as qualidades que sucedem conduzem à perfeição as qualidades que precedem - para cruzar desta margem para a outra margem.

Notas:

[1] Uma tradução alternativa para este verso: “Alguém que sinta o corpo confortável e descontraído, não é necessário o pensamento intencional: ‘Eu me sinto tranqüilo e feliz!’ É uma lei da natureza, bhikkhus, que naquele cujo corpo está confortável e descontraído, se sente tranqüilo e feliz.” O corpo calmo ou confortável e descontraído também significa todos os sentidos acalmados.
Os equivalentes em Pali para alguns dos termos:
virtude - sila
ansiedade - kukkucca, um dos cinco obstáculos, nivarana
satisfação - pamujja
êxtase - piti
calma - passaddhi
felicidade - sukha
concentração - samadhi
ver as coisas como elas na verdade são - yatha butha ñanadassana
desencantamento - nibbida
desapego - viraga

Fonte: www.acessoaoinsight.net


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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Ignorância





Ignorância.
Por Ajaan Thanissaro

Avijja, a palavra em Pali para ignorância, é o oposto de vijja, que quer dizer não só “conhecimento” como também “habilidade” – como as habilidades de um médico ou treinador de animais. Assim, quando o Buddha tem como foco a ignorância que causa estresse e sofrimento, dizendo que as pessoas sofrem por não saberem as quatro nobres verdades, ele não está simplesmente dizendo que lhes falta informação ou conhecimento direto de tais verdades. Ele está dizendo também que lhes falta habilidade em lidar com estas. Elas sofrem por não saberem o que estão fazendo.

As quatro verdades são (1) estresse ou sofrimento – que abrange desde a tensão mais sutil até a agonia mais evidente, (2) a causa do estresse ou sofrimento, (3) a cessação do estresse ou sofrimento; e (4) o caminho que leva à cessação do estresse ou sofrimento. Quando o Buda ensinou pela primeira vez tais verdades, ele também ensinou que seu completo Despertar veio de conhecê-las em três níveis: identificá-las, conhecer a habilidade apropriada a cada uma delas, e saber finalmente que ele havia completamente adquirido tais habilidades.

O estresse ou sofrimento foi identificado por ele com exemplos - tais como o nascimento, envelhecimento, doença e morte; lamento, angústia e desespero – resumindo-o como os cinco agregados do apego: apego à forma física, às sensações agradáveis, desagradáveis e nem agradáveis nem desagradáveis; à percepção; às construções mentais; e à consciência sensória. A causa do sofrimento foi identificada por ele como três tipos de desejo: desejo por sensualidade, desejo por assumir uma identidade em um mundo de experiências e desejo pela destruição de uma identidade e seu mundo de experiências. A cessação do sofrimento foi por ele identificada como renúncia e libertação destes três tipos de desejo. E o caminho para a cessação do sofrimento foi por ele identificada como concentração correta acompanhada por sete fatores de suporte: entendimento correto, pensamento correto, linguagem correta, ação correta, meio de vida correto, esforço correto e plena atenção correta.

Estas quatro verdades não são simplesmente fatos sobre o estresse ou sofrimento. São categorias para o enquadramento da nossa experiência de forma que possamos diagnosticar e curar o problema do sofrimento. Por exemplo, em vez de olhar para a experiência sob a perspectiva de um eu ou de um outro, ou sob a perspectiva do que nos agrada ou não, olhamos para ela para ver onde há sofrimento, o que o causa e como dar fim a esta causa. Uma vez dividido o território da experiência desta forma, compreendemos que cada uma destas categorias é uma atividade. A palavra sofrimento pode ser um substantivo, mas a experiência do sofrimento é moldada por nossas intenções. É algo que fazemos. O mesmo valendo para as outras verdades também. Vendo isto, podemos trabalhar o aperfeiçoamento da habilidade apropriada para cada atividade. A habilidade relacionada ao sofrimento é compreender o ponto em que não há mais cobiça, aversão ou delusão ao realizar tais atividades. Para aperfeiçoar tal habilidade, também temos que abandonar a causa do sofrimento, compreender a sua cessação e desenvolver o caminho para a sua cessação.

Cada uma destas habilidades apóia as demais. Por exemplo, quando estados de concentração surgem na mente, não só observamos o seu surgimento e desaparecimento. A concentração é parte do caminho, logo a habilidade apropriada é tentar desenvolvê-la: entender o que vai fazê-la tornar-se mais estável, mais sólida e mais sutil. Ao fazer isso, desenvolvemos os outros fatores do caminho também, até que a ação de se concentrar seja algo como simplesmente “ser”: ser a atenção luminosa, ser o estar presente, ser nada, ser um com a vacuidade.

A partir de tal perspectiva, começamos a compreender níveis de sofrimento nunca notados antes. Ao abandonar os desejos que causam os níveis mais grosseiros, nos tornamos sensíveis aos mais sutis, podendo então abandoná-los também. Vemos mais e mais claramente por que temos sofrido: por não fazer a conexão entre os desejos que nos trazem prazer e o sofrimento que nos perturbava, sem detectar o sofrimento nas atividades que desfrutávamos. Por fim, quando abandonamos as causas para outras formas de sofrimento, começamos a ver que o “ser” na nossa concentração contém também muitos níveis de ação – mais níveis de sofrimento. É então que podemos abandonar qualquer desejo por tais atividades, e o completo Despertar ocorre.

O caminho para este Despertar é necessariamente gradual, tanto porque a sensibilidade necessária requer tempo para se desenvolver, como porque esse caminho envolve o desenvolvimento de habilidades que são abandonadas somente quando elas já tenham desempenhado o seu trabalho. Se abandonarmos o desejo pela concentração antes de desenvolvê-la, nunca traremos a nossa mente para uma posição onde ela possa genuína e completamente abrir mão das formas mais sutis de ação.

No entanto, na medida em que as habilidades convergem, o Despertar que elas nutrem é súbito. A imagem que o Buda emprega é aquela da geologia do litoral indiano: um declive gradual, seguido de uma súbita queda. Após esta súbita queda, não sobra traço do sofrimento mental. É então quando sabemos que nos tornamos um mestre nas nossas habilidades. E é quando realmente compreendemos as quatro nobres verdades.

O desejo, por exemplo, é algo que experimentamos diariamente, mas até que o abandonemos completamente, não o compreendemos realmente. Podemos experimentar o sofrimento por anos sem fim, mas não vamos realmente saber o que é o sofrimento até que o tenhamos compreendido ao ponto em que a cobiça, a aversão e a delusão tenham desaparecido. E mesmo que as quatro habilidades, conforme as desenvolvemos, tragam um sentido ampliado de atenção plena e conforto, não saberemos realmente por que são tão importantes até que tenhamos tido a experiência de onde a completa maestria dessas habilidades pode nos levar.

Pois até mesmo o completo entendimento das quatro nobres verdades não é um fim em si mesmo. Trata-se de um meio para algo muito maior: Nirvana é encontrado no fim do sofrimento, mas é muito mais do que isto. É a liberação total de todos os limitantes de tempo ou espaço, existência ou não-existência – além de toda atividade, até mesmo da atividade da cessação do sofrimento. Como uma vez disse o Buda, o conhecimento que ele adquiriu no Despertar era comparável a todas as folhas de uma floresta, e o conhecimento que ele compartilhou sobre as quatro nobre verdades era comparável a um punhado de folhas. Ele se restringiu a ensinar este punhado pois era o suficiente para levar seus discípulos a seus próprios entendimentos de toda a floresta. Se ele fosse discutir outros aspectos de seu Despertar, isto não teria propósito e até mesmo atrapalharia.

Desta forma, embora o completo conhecimento das quatro nobres verdades – para usar uma outra analogia – é só o barco através do rio, precisamos focar a completa atenção nesse barco enquanto fazemos a travessia. Esse conhecimento não só nos leva ao completo Despertar, mas também nos ajuda a julgar qualquer realização ao longo do caminho. Isso é feito de duas formas. Primeiro, proporcionando-nos um marco para julgar estas realizações: há ainda algum sofrimento na mente? Algum sequer? Caso positivo, não se trata do Despertar genuíno. Em segundo lugar, as habilidades que desenvolvemos nos sensibilizam para todas as ações do simplesmente “ser”, que assegura que os níveis mais sutis de sofrimento não escaparão da nossa atenção. Sem esta sensibilidade, poderíamos tomar um estado de concentração infinitamente luminoso por algo mais do que isso. Mas quando realmente sabemos o que estamos fazendo, reconheceremos o estar livre do fazer quando finalmente o encontrarmos. E quando experimentarmos essa liberdade, saberemos algo mais: que o maior presente que podemos dar aos outros é ensiná-los as habilidades [necessárias] para que eles a encontrem por si mesmos.

Nota: Traduzido do Inglês por Gabriel Laera.
Fonte: www.acessoaoinsight.net







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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

24/11/1859: Publicada a Teoria da Evolução








No ano de 1859 foi dado o mais radical dos golpes contra a "ordem mundial divina". O cientista inglês Charles Darwin publicou Sobre a origem das espécies através da seleção natural, obra na qual ele havia trabalhado por 20 anos. Foram impressos 1.250 exemplares, esgotados já no dia seguinte. A história da criação do mundo proposta por Darwin tornou-se um best-seller da noite para o dia.

Apesar de todos os protestos, a teoria darwiniana impôs-se no meio científico. As provas apresentadas pareciam por demais concludentes para serem contestadas: variação, seleção, estabilização da seleção e, repetidamente, o acaso.

Darwin afirmava que as espécies são criadas e exterminadas a partir do "princípio da tentativa e do erro"; seres vivos superiores desenvolvem-se, assim, a partir de formas menores. A evolução, que tem como base esse princípio, foi também considerada válida para os seres humanos.

Segundo Darwin, não somos nada mais que mamíferos que caminham eretos. O choque do século foi perfeito: o homem deixando de ser a imagem e semelhança de Deus para tornar-se um sucessor do macaco. Na época, Darwin não teve a coragem de dizer isso abertamente, embora certamente deva ter especulado a respeito.

Levado pelo espírito pesquisador de seu tempo, o cientista inglês passou cinco anos dando a volta ao mundo a bordo do navio Beagle. Nessa viagem, recolheu toda gama de informações e observações que depois viriam a ser sistematizadas e categorizadas ao longo de sua vida. Para isso, o pai da Teoria da Evolução examinou as mais variadas formações geológicas, bem como a multiplicidade de organismos e fósseis encontrados nos diversos continentes e ilhas que visitou.

Lei do mais forte

Ao passar pelas Ilhas Galápagos, por exemplo, Darwin anotou em seu diário de pesquisas que em cada ilha do arquipélago havia diferentes espécies de tartarugas, graúnas e tentilhões. Apesar de parentes próximos, os animais encontrados em cada ilha diferenciavam-se no tamanho e na forma de alimentação.

Baseando-se nessa obervação, Darwin concluiu que todas as espécies semelhantes entre si desenvolveram-se a partir de uma origem comum. Esse mecanismo, que leva as espécies a modificarem-se para adaptar-se ao meio ambiente, foi chamado por ele de "seleção natural". Esta seleção faz com que apenas os mais fortes sobrevivam.

Em suas viagens pelo mundo, Darwin chegou à conclusão de que o homem não surgira como criação divina. Mais do que isso, o ser humano foi considerado por ele como produto final – mas ainda provisório – de uma linha de evolução biológica.

A teoria darwiniana questionava assim as explicações bíblicas de criação do mundo descritas no Gênesis. Um deus que faz diversas tentativas, comete erros e, após uma série de tempestades pelo caminho, se vê obrigado a recomeçar tudo de novo, não combinava definitivamente com a imagem do criador todo-poderoso encontrada na Bíblia.

O ateísmo propagado pelo espírito científico abalou os fiéis, para os quais os "hereges" arruinavam o mundo. O clero, no entanto, havia se tornado mais cuidadoso. A Igreja, afinal, já tinha sido obrigada a reconhecer, dois séculos antes, que o Sol realmente não girava em torno da Terra, contradizendo uma ordem do papa e os tribunais da Inquisição. E agora mais esta: Deus não havia criado todos os seres; estes seriam meras obras do acaso!

Darwin roubou do ser humano sua condição especial no universo, colocando-o sob o jugo da biologia. Segundo a teoria darwiniana, também o homem precisa adaptar-se às exigências do habitat natural. A prova disso é que, no correr dos séculos e milênios, ele acabou por modificar-se em função desse meio.

A teoria de Darwin trouxe sérias consequências, acima de tudo para o mundo cristão. No entanto, apesar do progresso científico, não foram derrubadas todas as crenças religiosas que envolvem a criação do mundo.

Criacionismo

Ao contrário disso, nos últimos anos tem crescido o número de fundamentalistas religiosos que crêem na veracidade absoluta das palavras bíblicas em todos os sentidos.

Nos Estados Unidos, os chamados criacionistas declararam guerra à "teoria do macaco" de Darwin, desde sua publicação. E com sucesso. A influência dessa corrente faz com que em alguns Estados norte-americanos o criacionismo seja ensinado nas escolas.

Ainda hoje, é terminantemente proibido em alguns Estados do país a simples menção nas escolas da existência da Teoria da Evolução de Darwin. Em seu lugar, ensina-se dogmaticamente uma interpretação literal da teoria da criação presente na Bíblia.

Entretanto, como a origem do mundo e do ser humano vai além das rivalidades entre cientistas, a controvérsia entre evolucionistas e criacionistas acabou por atingir a esfera política e social. O presidente norte-americano, George W. Bush, defendeu durante sua campanha eleitoral no ano 2000 um tratamento igualitário das duas correntes nas escolas norte-americanas.

O interesse de Bush estava provavelmente atrelado ao fato de que 45% dos cidadãos do país afirmam acreditar no criacionismo. Observe-se aqui que até mesmo o papa João Paulo 2º anunciara em Roma, em 1996, que a Teoria da Evolução de Darwin seria compatível com a fé cristã.

Fonte: DW- WORD.DE -Deutsche welle
http://www.dw-world.de

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Ensinamentos Acessíveis, Verdades Profundas 5

Segue a continuação do livro Ensinamentos Acessíveis, Verdades Profundas de Ajaan Anan Akiñcano, os capítulos anteriores podem ser lidos nas postagens mais antigas.




Meditação ... O desenvolvimento da mente

13. Observando as Três Características
Empregamos a reflexão com sabedoria para contemplar o Dhamma, em particular as três características da existência – impermanência, insatisfação e não-eu. Contemplar essas três características ajuda a diminuir a proliferação mental que em geral agita a mente. Com o emprego da atenção plena na meditação formal e na contemplação, o grau de consciência do momento presente irá aumentar e o número de fantasias e devaneios diminuirá. Seremos capazes de capturar todas as velhas lembranças, humores e pensamentos com muito mais rapidez e pouco a pouco abandoná-las. Quanto mais pudermos abrir mão de toda essa proliferação mental, menos sofrimento e estresse. Contemple esta mente, a mente que tende a proliferar e fantasiar, desgarrando-se para o passado e o futuro. Devemos nos treinar a ver as coisas como incertas, em mudança, como impermanentes. Não importa o quanto tentemos planejar o futuro, este nunca acaba sendo como pensávamos. Muito tempo pode ser perdido com esse tipo de pensamento. Mas como ainda somos obstruídos pela delusão, essas formações mentais ocorrem continuamente. Por conseguinte, o praticante habilidoso deve manter a mente sob observação, vendo que toda essa proliferação é impermanente, insatisfatória e não-eu. Se procurarmos por um eu, uma pessoa, um ser, qualquer eu concreto ou outro tipo de eu nessa proliferação mental, isso não será encontrado. Isso é chamado usar a impermanência, insatisfação e não-eu como nosso objeto de meditação. Ajaan Chah diria que usar as três características como objeto de meditação dá origem à verdadeira sabedoria, pois tem a força para mudar o entendimento incorreto e as distorções da mente. Mas se a sabedoria não surgir em toda a sua plenitude, é porque a nossa concentração não é forte o suficiente. Nesse caso precisamos voltar atrás e re-estabelecer a nossa atenção na inspiração e expiração, dando tempo para que a mente descanse na calma da concentração. Se praticarmos muita contemplação sem primeiro ter acalmado a mente, veremos que os pensamentos se tornam excessivos e inquietos e que estamos observando apenas a mente proliferando. Esse não é o modo correto de contemplar. Por conseguinte, novamente devemos voltar atrás e pacificar a mente, dando-lhe tempo para descansar e recuperar a sua força. Qualquer que seja o método que empreguemos para aquietar a mente, quer seja a atenção plena na respiração, meditação de metta, recordação do Buda ou contemplação da morte, todas produzem o mesmo resultado.

14. Além da Calma
Se conseguirmos praticar deste modo, meditando regularmente e desenvolvendo a atenção plena na vida diária, então cedo ou tarde chegaremos ao ponto em que sentamos para meditar e experimentamos um sentimento de grande paz. Sentimos leveza no corpo e a mente parece unificar-se abandonando todas as suas preocupações e aflições habituais, tornando-se muito quieta e concentrada. Esse é o resultado de todo o esforço dedicado ao desenvolvimento da atenção plena. A concentração é o fundamento, mas temos que ir além da calma da concentração e usar o seu poder para desenvolver a sabedoria. Até agora a sabedoria foi encontrada através daquilo que foi ouvido e escutado. Essa é a sabedoria originada da discussão de conceitos e coisas, de perguntas e respostas, do estudo das escrituras. Esse é um tipo de sabedoria, mas é a sabedoria que depende da faculdade da memória e dos pensamentos. Esse tipo de sabedoria tem a sua função e proporciona um nível de entendimento, mas o Dhamma verdadeiro que o Buda ensinou provém de uma mente pura, de uma mente iluminada, de uma mente desperta. Ao colocar os ensinamentos em prática e desenvolver a concentração podemos experimentar a sabedoria genuína. Esta é a visão clara, ao invés da reflexão baseada no pensamento, feita nos estágios preliminares da prática. A sabedoria que surge através da concentração tem o poder de superar os hábitos prejudiciais e as tendências da mente. E assim, quando estudarmos os textos novamente o nosso entendimento será real, porque experimentamos aquilo por nós mesmos.

15. Trazendo a Prática para Casa
Todos os dias quando você chegar em casa, desenvolva uma atitude de alguém que está dedicado à prática. Tente não trazer com você para dentro de casa todos os seus assuntos e preocupações do trabalho; quando você chegar em casa tente deixá-los de lado. Se você tiver um pequeno altar ou santuário em casa, veja se encontra um tempo para fazer as suas reverências e recitar um pouco das escrituras, só para colocá-lo num clima favorável. E é claro, faça também um pouco de meditação. Tente desenvolver a auto-disciplina e a motivação para fazer isso com regularidade. Porque se você puder fazer disso um hábito, irá descobrir que estará sempre revigorando o seu esforço na prática, revigorando a sua convicção nos ensinamentos. Enquanto mantivermos esse esforço sincero, teremos uma energia positiva. Mesmo que ainda não experimentemos a perfeita paz, veremos que continuamos inspirados. Isso nos dará a habilidade para resistir aos estados de humor habituais e os estados mentais prejudiciais nos quais, de outra forma, estaríamos aprisionados. Precisamos, no entanto, ter cuidado para não nos tornarmos preguiçosos e demasiado distraídos. Se não desenvolvermos bons hábitos e auto-disciplina a prática pode se tornar demasiado irregular, significando que algumas vezes praticamos, mas outras não. Gradualmente, os hábitos prejudiciais da mente terão a oportunidade de assumir o controle novamente e mesmo quando praticarmos a meditação, a mente estará tomada pelos pensamentos distraídos e pela proliferação. No fim das contas, vamos começar a sentir que não vale a pena, que a prática não está progredindo, e talvez desistir. Portanto, temos que manter a motivação. Encontrar uma forma de colocar esforço na prática, mesmo que seja pequeno, porque isso sempre ajudará a energizar a mente e estimular a motivação. E enquanto você estiver motivado, a prática será mantida.
Ajaan Anan Akiñcano

Não estarei postando mais capítulos para os visitantes do blog, mas o livro completo ainda contém os seguintes capítulos:

Atenção Plena ... O cerne da prática
16. Atenção no Momento Presente
17. De Momentos a Minutos
18. Trazendo de Volta (Novamente e Novamente)
19. Igual a Treinar Búfalos Domésticos
20. Comprometido com a Atenção Plena
21. A Sabedoria da Paciência
22. Chegando em Casa
Motivação ... Porque Praticar?
23. Buscando por algo Verdadeiro
24. Um Senso de Separação
25. A Plenitude do Dhamma
26. O Quadro Completo
27. O Dhamma está Sempre Aqui
28. Surgindo e Desaparecendo
29. Faça do Sofrimento o seu Professor
30. A Hora é Agora
Virtude ... Diretrizes para a Vida
31. O Valor da Bondade
32. Uma Base para o Coração
33. Sila
34. Um Parâmetro para a Vida
35. Entendimento Correto
36. A Dádiva da Generosidade
Karma ... Acões e seus Resultados
37. Karma Aqui e Agora
38. Karma é Ação
39. Sem Desculpas
40. Lidando Sabiamente com Pragas
41. À Deriva no Oceano de Karma
Bondade ... Estar em Paz
42. Como Viver no Mundo
43. Disposição para Aprender
44. Para Além do Julgamento
45. A Importância dos Bons Amigos
46. Como ser um Bom (e Sábio) Pai e Mãe
47. Retribuindo para os Nossos Pais
48. Honrando a Gratidão
49. Esperando e Aceitando
50. Relativo a Porcos e Crianças

Pode ser lido clicando na fonte abaixo.

Fonte:
http://www.acessoaoinsight.net/arquivo_textos_theravada/Anan_indice.php
Somente para distribuição gratuita.
Este trabalho pode ser impresso para distribuição gratuita.
Este trabalho pode ser re-formatado e distribuído para uso em computadores e redes de computadores contanto que nenhum custo seja cobrado pela distribuição ou uso. De outra forma todos os direitos estão reservados.

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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Os Pensamentos Nunca Param?





O Buda aconselhava os bhikkhus, “Bhikkhus, quando vocês estiverem reunidos deveriam fazer uma de duas coisas: discutir o Dhamma ou observar o nobre silêncio.”

O nobre silêncio é o estado da mente em que não há pensamentos. A mente fica completamente em silêncio. Os pensamentos só podem ser silenciados se treinarmos a nossa mente através da prática correta da meditação.

O meditador deve começar dando atenção total e ininterrupta a um único objeto sem verbalizar a experiência na mente. Ao verbalizar e conceituar as coisas, por um lado, a atenção é interrompida, e por outro, os pensamentos são perpetuados.

Ao verbalizar, você adiciona cada vez mais idéias ou conceitos. A realidade não é uma palavra ou um verbo. A realidade é aquilo que você experimenta. Ao experimentar dores e desconfortos ou prazer e felicidade durante a meditação, você nota a experiência diretamente tal como ela é. Você não precisa estabelecer uma ponte conceitual entre a experiência e o conhecimento direto. Ao sentir fome, você experimenta a fome sem ter que dizer: “Estou com fome, estou com fome.”

Os substantivos e verbos são necessários apenas para comunicar a sua experiência. Ao meditar você observa total silêncio, sem falar com ninguém sobre o que você está experimentando. Você deve conhecer a si mesmo, exatamente como você é. Você deve sentir-se exatamente como você é.

Desde quando somos bebês até a universidade aprendemos a usar palavras, conceitos e idéias para fazer com que os outros nos compreendam. Mas durante a meditação você não está tentando comunicar a sua experiência para ninguém. Ao treinar a sua mente para que ela permaneça em silêncio, você fará com que ela silencie. Se você adicionar mais palavras à mente, ela, simplesmente, se manterá ocupada.

Todos já tivemos a oportunidade de observar pessoas sentadas ou andando pelas ruas conversando consigo mesmas. Elas são incapazes de silenciar a mente. Esse é um exemplo extremo da incapacidade de silenciar os pensamentos. Mas cada um de nós, do seu próprio jeito, nos debatemos com isso na vida diária e na meditação. No fundo é isso; a não ser que você tente, nunca será capaz de fazer com que os pensamentos cessem. Você só silencia os pensamentos quando tem a determinação de fazê-lo.

Preste total atenção àquilo que você experimenta através dos seis sentidos sem rotular aquilo que surgir. Existem certas coisas que você experimenta para as quais não são necessárias palavras. Você simplesmente as conhece. A sua mente as conhece. Você permanece com esse conhecimento. Ao sentir frio, a reação habitual é dizer para si mesmo, “Nossa, que frio.” Ao sentir calor, você pensa automaticamente, “Nossa, que calor.” Simplesmente, preste atenção ao frio que você estiver sentindo sem esse pensamento adicional. Sinta o calor sem verbalizar a experiência. Ao lembrar um lugar que você visitou, ou alguém com quem você conversou, ou um sorvete que você comeu, ou a mão de alguém que você segurou, tenha consciência desses objetos na sua memória, tão somente.

Para silenciar os pensamentos é necessário estar completamente concentrado. Você consegue isso prestando total atenção a um objeto de cada vez. Se você iniciar a prática focando a mente exclusivamente num único objeto, gradualmente você irá condicionar a mente a superar os pensamentos discursivos sustentando o contato inicial com o objeto.

Ao ouvir as batidas do seu coração você não necessita de conceitos para sentir essa sutil ocorrência. Da mesma forma, durante a meditação ao prestar total atenção à inspiração e à expiração, poderá notar o início, o meio e o fim de cada inalação e exalação. Você poderá notar a breve pausa entre cada inalação e exalação. Essas ocorrências naturais na sua respiração você poderá notar se estiver plenamente atento a elas.

A mente se move com tamanha rapidez, e no entanto podemos treiná-la a notar esses eventos de forma precisa à medida em que eles ocorrem, já que eles ocorrem de forma consecutiva. Se você conceituar essas ocorrências então será incapaz de notá-las. Ao invés disso, ficará perdido nas palavras e não se dará conta da experiência real. Você não precisa dizer, “Este é o início da inspiração,” ou “Este é o meio” ou “Este é o fim.” Simplesmente observe esses estágios. Você não precisa do pensamento para notá-los. Tudo que você precisa é de atenção.

De forma alguma nos convertemos num vegetal ao silenciar os pensamentos. Uma mente silenciosa é receptiva ao insight. E você poderá silenciar o processo dos pensamentos através do treinamento sistemático da mente.

Eu uso a frase “acalmar a mente” ou “silenciar a mente” querendo dizer não ter pensamentos na mente, mas desacelerar a mente não é como a desaceleração do metabolismo do corpo durante a hibernação. Significa, simplesmente, não ter o hábito de criar pensamentos na mente.

A mente não produz pensamentos se não for estimulada pela verbalização habitual. Só quando nos treinarmos numa prática constante no sentido de parar a verbalização, a mente poderá experimentar as coisas como elas na verdade são. Silenciando a mente, poderemos experimentar a verdadeira paz. Enquanto vários tipos de pensamentos agitarem a mente, não poderemos experimentar cem por cento de paz.

A paz não é um pensamento, não é um conceito, é uma experiência não verbal. Uma pessoa pode permanecer nesse estado de paz por até sete dias. Mas para alcançar esse estado de completa paz mental, é necessário um treinamento gradual para desacelerar os pensamentos. Uma vez desacelerados, a mente passa a não se alimentar de novos pensamentos.

Mesmo quando não estamos meditando, experimentamos muitas coisas de forma profunda para as quais com freqüência não existem palavras. Podemos tentar encontrar uma palavra ou um verbo para aquela experiência. Podemos chamá-la de intuição. No entanto, as intuições podem surgir sem ter palavras ou conceitos associados a elas. Você também pode ouvir sons sem que palavras surjam na mente. Diz-se que a melhor forma de desfrutar da música é ouvir música. Ao ouvir música, você ouve os sons sem tentar verbalizá-los. Pense em como você ouve o gorjeio de um pássaro; você não verbaliza o som. Você poderia dizer “O canário gorjeia assim…” mas isso é a sua imaginação.

Isso significa que mesmo fora da meditação você poderá experimentar muitas coisas bastante sutis, simplesmente, prestando total atenção aos seus sentidos. Na maior parte do tempo, verbalizamos as coisas após tê-las experimentado, não enquanto as experimentamos. Mas quando você presta total atenção a algo, sem verbalização, você obtém a concentração que não pode ser alcançada com a verbalização. As palavras estimulam a mente. Por isso, a mente permanece produzindo mais e mais palavras que serão expressadas em pensamentos. Através da atenção não verbal, você poderá minimizar o número de palavras utilizadas de maneira regular. Quando as palavras são minimizadas, os pensamentos são minimizados. Por fim, esse processo faz com que a mente fique verdadeiramente livre de pensamentos. Mas, se você não minimizar as palavras, não poderá libertar a mente dos pensamentos.

Ao experimentar algo, se você não tentar traduzir a experiência em palavras, você, simplesmente, terá a experiência, não os pensamentos. Visões, sons, odores, sabores, toques podem ser experimentados diretamente sem palavras. Ao usar palavras você bloqueia a experiência direta dos objetos sensoriais.

No final, não são as palavras que fazem com que você experimente as suas experiências. Suponha que a cor branca apareça na frente dos seus olhos. O branco reflete nos seus olhos. A mente o identifica tal como ele é. Só se você quiser expressar aquilo que viu para alguém é que necessitará de palavras. No entanto, a brancura é uma experiência, é o que é, ela vai muito além dessa palavra. O negror também, é o que é, e vai muito além dessa palavra. O mesmo se aplica à doçura, amargor, acidez, dureza e tudo o mais que você venha a experimentar.

A mente não produz pensamentos do nada. Ela tem que ser alimentada com algo que usará como matéria prima para produzir os pensamentos. A matéria prima é aquilo que você forneceu como alimento no passado. Se você não alimentá-la com palavras, se você treiná-la evitando a verbalização, a mente não poderá produzir pensamentos do vácuo.

Bhante Henepola Gunaratana
Fonte: www.acessoaoinsight.net



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sábado, 20 de novembro de 2010

Ensinamentos Acessíveis, Verdades Profundas 4

Segue a continuação do livro Ensinamentos Acessíveis, Verdades Profundas de Ajaan Anan Akiñcano, os capítulos anteriores podem ser lidos nas postagens mais antigas.




Meditação ... O desenvolvimento da mente

10. As Quatro Moradas Divinas
Refletir sobre as quatro moradas divinas, (brahma-viharas) - amor-bondade, compaixão, alegria altruísta e equanimidade - é um outro método contemplativo que traz grandes benefícios para o praticante. Metta, ou amor-bondade, verdadeiro é imparcial e ilimitado. Mas quando começamos a desenvolver metta, precisamos começar estabelecendo um sentimento de boa vontade voltado para nós mesmos. Nós genuinamente desejamos a felicidade e coisas boas para nós mesmos. Daí, evoluindo com base nesse fundamento podemos pensar nos nossos pais ou em alguém que amamos e enviar-lhes nossos sentimentos de amor-bondade. Em seguida, pensamos em alguém por quem nutrimos sentimentos neutros e também lhe enviamos os nossos sentimentos de amor-bondade. Por fim, focamos em alguém com quem tenhamos algum conflito. Ao desenvolver o amor-bondade progressivamente dessa forma, a prática pode evoluir até incluir todos os seres vivos. Para ser capaz de difundir o amor-bondade puro desse modo é necessário desenvolvê-lo com freqüência. Mas com a prática constante, o poder do nosso metta irá se incrementar gradualmente.
Se persistirmos aplicando a atenção plena a esses pensamentos de amor-bondade, a mente se acalmará naturalmente e se unificará. À medida que formos experimentando a paz da concentração nos sentiremos descontraídos e felizes no nosso íntimo. A mente estará estável e calma. A partir desse ponto, a concentração e o amor-bondade progridirão de mãos dadas, já que nesse ponto ambos são quase a mesma coisa. Quando a mente se acalma ela naturalmente está livre de irritações. Ao manter a atenção plena no objeto de meditação, por fim, chegaremos ao ponto em que não há em absoluto má vontade na mente. Esse estado será percebido e a mente estará em paz e refinada. Karuna, compaixão, é reconhecer que todos os seres sofrem e que queremos ajudá-los. O desenvolvimento da compaixão é semelhante ao desenvolvimento do amor-bondade. Primeiro reconhecemos o sofrimento que nós mesmos experimentamos, quer seja pequeno ou grande, e fazemos um voto para que através da nossa prática do Dhamma sejamos capazes de transcender as várias formas de sofrimento nesta vida. Em seguida, dirigimos a nossa mente para as pessoas pelas quais sentimos amor e afeição, reconhecendo o sofrimento que elas experimentam e desejando sinceramente que elas se libertem dele. Por fim, dirigimos a nossa mente para as pessoas por quem tenhamos um sentimento neutro e àquelas com as quais temos conflitos. Uma vez mais, do mesmo modo que com o amor-bondade, o objetivo é desenvolver o poder da compaixão que abarque todos os seres indiscriminadamente. O amor-bondade e a compaixão estão conectados de um modo tão próximo que ao desenvolver um estamos como conseqüência desenvolvendo o outro. Na verdade, na recitação de metta que costumamos fazer, estamos inclinando a mente na direção de pensamentos de compaixão através do cultivo do amor-bondade. Empregando as frases, "Que todos os seres estejam livres da hostilidade, livres da má vontade e ansiedade, que eles desfrutem do bem-estar e se libertem de todo sofrimento," nós cultivamos o sentimento de querer ajudar esses seres, de querer remover as causas do seu sofrimento. Com mudita, a alegria altruísta, nós estimulamos a consciência daquilo que já é bom e abundante nas nossas vidas e desejamos que não nos separemos disso. Ficamos alegres com essa abundância e boa fortuna. Depois nos recordamos de outros seres que atualmente estão tendo boa fortuna, desejando sinceramente que eles também não venham a perder essa abundância, esse bem-estar, essas boas oportunidades. Nós estimulamos o apreço por aquilo de bom na vida deles, e por fim praticamos desejando que todos os seres possam ter essas boas oportunidades e possam experimentar esse bem-estar. Finalmente, para o cultivo de upekkha, equanimidade, nós contemplamos karma. Olhamos para a nossa própria situação e as diferentes coisas dolorosas que ainda não somos capazes de solucionar. Com o entendimento que karma é uma força real e poderosa, consideramos que essas dificuldades devem ter surgido devido às nossas ações no passado. Contemplando desse modo podemos desenvolver a paciência e a equanimidade, aceitando a nossa situação e não lutando contra o karma. Com relação aos outros, seguimos cultivando o amor-bondade, a compaixão e a alegria altruísta. Mas também entendemos que os seres colhem os frutos das suas ações passadas. Contemplamos o fato de que algumas vezes simplesmente não podemos fazer nada por algum ser devido ao seu karma e que nós tampouco podemos solver todo o nosso karma. Quando podemos permanecer com equanimidade não sofremos desnecessariamente devido a isso. Isso é chamado desenvolver a qualidade da upekkha.

11. Recordação da Morte
Ajaan Chah com freqüência recomendava a contemplação da morte, particularmente naquelas ocasiões em que a mente está agitada e inquieta, pensando descontroladamente. Como esta é uma contemplação poderosa, quando estamos subjugados por algum aspecto de cobiça ou raiva - ou simplesmente deludidos pela confusão e pela dúvida - a contemplação da morte pode eliminar tudo isso trazendo para a mente um senso de finalização. "Espere. Eu irei morrer logo." Isso irá eliminar todos aqueles pensamentos menos importantes, secundários, que estão perturbando a mente naquele momento. Essa é uma técnica de meditação muito útil.
Podemos praticar a recordação da morte contemplando a incerteza nas nossas vidas e a certeza da morte. Refletimos continuamente que tendo nascido, necessariamente morreremos. Ouvindo notícias sobre mortes e perdas, podemos refletir também sobre a nossa própria mortalidade. Suponha que a população humana mundial somasse seis bilhões de pessoas das quais seis milhões morressem a cada ano, seiscentos milhões a cada década. Se não houvesse novos nascimentos, dentro de um século toda a população do mundo teria falecido - todos os seis bilhões de pessoas. No entanto, porque há novos nascimentos substituindo as pessoas que morrem, nós deixamos de ver a presença da morte, exceto naqueles eventos terríveis, resultado de desastres naturais. Quando um grande número de seres humanos morre devido a esse tipo de evento podemos refletir que nós também precisamos morrer, que não podemos escapar da morte. Quando contemplamos o Dhamma, no entanto, temos de fazê-lo do modo correto. Refletindo sobre a impermanência e a incerteza da vida, podemos chegar ao ponto de ver que todos nós temos de chegar ao mesmo fim. Não há como evitar isso, pois no final das contas, todos temos que morrer. Mas é importante que contemplemos de um modo hábil, despertando a urgência e a energia para a prática. Essa contemplação deveria desenvolver a atenção plena e a sabedoria, conduzindo a mente para mais paz. Se for feita de modo inábil poderá resultar em depressão, vendo a vida como carente de significado. E se tivermos esse tipo de reação negativa, então temos que parar e compreender que não estamos indo na direção certa, que isso não está produzindo o resultado correto. Portanto, ao contemplar e praticar o Dhamma, temos sempre de olhar para os resultados daquilo que estamos fazendo para julgar se estamos praticando do modo correto. Se houver mais energia, mais esforço, mais paz, então esse é o indicador que estamos na direção correta.
Ajaan Anan Akiñcano

Estarei postando mais alguns capítulos para os visitantes do blog, mas o livro completo pode ser lido clicando na fonte abaixo.

Fonte:
http://www.acessoaoinsight.net/arquivo_textos_theravada/Anan_indice.php
Somente para distribuição gratuita.
Este trabalho pode ser impresso para distribuição gratuita.
Este trabalho pode ser re-formatado e distribuído para uso em computadores e redes de computadores contanto que nenhum custo seja cobrado pela distribuição ou uso. De outra forma todos os direitos estão reservados.

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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O Nosso Condicionamento Mental.











‘A eminência de um grande cientista é medida
pelo tempo que ele impede o progresso no seu campo de ação.’

Quanto mais famoso o cientista e mais proeminente ele for, tanto mais as suas idéias serão tomadas como verdades sagradas. Isso significa que um grande cientista é tão eminente que ele ou ela não podem estar errados. Assim eles na verdade obstruem o progresso durante muitos anos porque eles devem estar certos e todos os demais enxergam sob essa perspectiva.

O Buda delineou de modo muito claro todo o processo condicional. Ele explicou que nós vemos o mundo através de lentes coloridas. Ele explicou que aquilo que tomamos como verdade, como real, está muito distante da realidade. Ele chamou esse processo de condicionamento e lavagem cerebral, que provêm principalmente do nosso interior, de vipallasas. Elas são o aspecto distorcido de todo o processo condicional. Elas são a razão porque aquilo que pensamos saber acaba se revelando incorreto. Alguma vez você tinha absoluta certeza de que estava certo e depois descobriu que estava errado? Isso acontece o tempo todo. As vipallasas, essas distorções do processo condicional, operam num ciclo, um ciclo de delusão. As nossas idéias - que compreendemos como verdades, como realidade - influenciam as nossas percepções. Basicamente, as nossas idéias influenciam aquilo que escolhemos ver, ouvir e experimentar. De todas as distintas impressões que a vida nos oferece há muitas coisas das quais você poderia ter consciência neste momento. Você poderia estar consciente daquilo que estou dizendo. Você poderia estar consciente somente da minha aparência. Você poderia estar consciente de algumas fantasias dando voltas na sua mente. Como você decide ter consciência de uma coisa ao invés de outra? É porque as suas idéias guiam a sua escolha.

Se você sentir raiva de alguém, ou tiver má vontade, você irá encontrar algo neles para justificar aquela má vontade. A pessoa diz, “Tenha um dia maravilhoso hoje”, e você pensa “O que diabos ela quer dizer com isso?” É o mesmo processo que a paranóia. Se alguém estiver realmente paranóico, ele poderá pensar que um monge é capaz de ler a mente. O monge diz, “Não, eu não sou,” e ele diz “Eu sabia que você ia dizer isso.” Um psiquiatra me disse, faz alguns dias, que você pode apenas aumentar a paranóia, não é possível diminuí-la. Qualquer coisa que se diga, aquela pessoa irá tomar como confirmação da sua idéia. Se você estiver apaixonado por alguém não importa o que ele ou ela faça ou diga. Se ele ou ela enfiarem o dedo no nariz, assim o fazem com tamanho charme. Você pensa, “Eu amo o modo como você faz isso.”

A percepção é completamente controlada pelas nossas idéias. Vou ler uma história apenas para ilustrar isso. A história é chamada de “A Perda de Harvard”. O presidente da universidade de Harvard cometeu um erro ao prejulgar pessoas e isso lhe custou muito. Uma senhora num vestido de algodão puído, junto com o seu marido vestindo um terno caseiro surrado, chegaram num trem em Boston, Massachusetts, e com timidez foram para o escritório do presidente da universidade sem ter entrevista marcada. A secretária franziu a testa. Num instante ela foi capaz de estabelecer que aqueles caipiras não tinham nada a tratar na universidade de Harvard e provavelmente nem mereciam estar em Cambridge. “Nós queremos ver o presidente” o homem disse com suavidade. “Ele estará ocupado o dia todo” a resposta brusca da secretária. “Nós esperaremos”, a senhora respondeu.

A secretária os ignorou por horas na esperança de que o casal finalmente desanimasse e fosse embora, mas eles não foram. A secretária começou a se sentir frustrada e finalmente decidiu perturbar o presidente, muito embora essa fosse uma tarefa que ela sempre lamentava ter de fazer. “Talvez se eles o virem por alguns minutos decidam ir embora”, ela disse para o presidente da universidade de Harvard. Exasperado ele suspirou e concordou com a cabeça. Alguém tão importante como ele é óbvio que não teria tempo para gastar com essa gente, mas ele odiava que vestidos de algodão barato e ternos caseiros poluíssem a recepção do seu escritório. O presidente, com austera dignidade expressa no rosto, pavoneou em direção ao casal. A senhora lhe disse, “Nós tivemos um filho que estudou na Harvard durante um ano. Ele amava a Harvard e se sentia muito feliz aqui, mas faz um ano ele morreu num acidente. Então, meu marido e eu gostaríamos de erigir para ele um memorial em algum lugar no campus.” O presidente não foi sensibilizado, ele estava chocado. “Madame”, disse ele com irritação, “não podemos colocar uma estátua para cada pessoa que estudou na Harvard e que tenha morrido, se fizéssemos isso o lugar pareceria um cemitério.” “Ah, não”, a senhora rapidamente explicou. “Não queremos erigir uma estátua. Pensamos em doar um prédio para a Harvard.” O presidente mexeu os olhos enfadado. Ele olhou para o vestido de algodão e o terno caseiro e exclamou, “Um prédio! Vocês têm alguma idéia de quanto custa um prédio? (Isso aconteceu faz muitos anos). Nós temos mais de sete milhões e meio de dólares em investimentos na Harvard.” Por um momento a senhora ficou em silêncio. O presidente ficou satisfeito, ele poderia se livrar deles agora. A senhora se voltou para o marido e disse calmamente, “Se esse é o custo para começar uma universidade, porque não começamos a nossa,” e o marido concordou com a cabeça. O rosto do presidente murchou com confusão e surpresa. O Sr. e Sra. Leyland Stanford foram embora, viajaram até Palo Alto na Califórnia, onde estabeleceram uma universidade conhecida como Stanford University que leva o nome deles. Foi um memorial para um filho em relação ao qual a Harvard já não mais se importava.

Não é uma bela história? Só porque aquelas duas pessoas estavam vestidas com roupas simples ninguém percebeu que elas eram milionárias e desse modo elas deram início à sua própria universidade. Não é isso que ocorre com tanta freqüência na vida?

Aquilo que estamos procurando é o que vemos. Essa é a razão porque o Buda ensinou que até mesmo a percepção neutra, já está condicionada. Mesmo aquilo que ouvimos - ou melhor aquilo que escolhemos ouvir - aquilo que escolhemos ver, escolhemos sentir, já foi filtrado pelo nosso condicionamento, pelos nossos apegos, pelos nossos desejos e cobiças. Essa é a razão porque mesmo o ensinamento de Krishnamurti, um tipo de atenção silenciosa, ou não-agir, não seria suficiente para descobrir a verdade genuína. Aquilo que vemos e ouvimos nunca é confiável. Essa é a razão porque algumas vezes quando dou palestras, digo uma mensagem, mas aquilo que vocês ouvem pode ser diferente. Alguma coisa acontece com as palavras que digo antes que elas cheguem na consciência de vocês. Algumas coisas são filtradas! Isso já aconteceu alguma vez com vocês? Vocês alguma vez já disseram uma coisa e foi completamente desentendida? Vocês dizem, “Eu não disse isso”, e a outra pessoa diz, “Sim, você disse”. Você disse muitas coisas, mas elas foram filtradas ou retiradas do contexto original. Assim é como surgem os mal-entendidos. Quando começamos a entender o modo como esse processo cognitivo funciona, podemos entender como condicionamos até mesmo as nossas percepções genuínas.

Com essas percepções fabricamos os nossos pensamentos. Esse conhecimento básico que chega na mente quando sentimos, quando vemos, constrói os nossos pensamentos. E esses pensamentos por seu lado confirmam as nossas idéias. Temos esse ciclo de idéias flexionando as nossas percepções para satisfazer os seus propósitos, e essas percepções, novamente flexionando os pensamentos para confirmar as idéias. Essa é a razão porque temos diferentes idéias, filosofias e religiões no mundo. Uma dessas religiões é a ciência. Outra pode ser a psicologia, e outras podem ser o humanismo, o irracionalismo, o agnosticismo ou mesmo o Budismo. Todas essas são diferentes idéias e opiniões presentes no mundo. Aquilo que realmente me interessava quando eu era jovem era a origem dessas idéias e opiniões. Porque pessoas racionais acreditam num Deus que criou este mundo e que ao mesmo tempo criou o Diabo apenas para importunar as pessoas? Isso era muito difícil de entender. Outros pontos de vista, por exemplo, a idéia de condicionamento moldado pelas nossas idéias, pensamentos e percepções, esclarecia como isso estava acontecendo. Aquilo que recebemos do mundo está basicamente condicionado por aquilo que esperamos receber.

Negação (ou Não Aceitação)

Agora vou ler um poema. Ouçam este poema. É sobre o amor por uma mãe e todos sabem que isso é um sentimento maravilhoso.

‘Quando a sua mãe estiver envelhecendo e você estiver envelhecendo, quando aquilo que antes era fácil e não requeria esforço se tornar um fardo, quando os olhos, amados e leais, não mais encararem a vida como antes, quando as pernas se tornarem cansadas e não mais quiserem carregá-la,
então ofereça o seu braço como apoio, acompanhe-a com alegria e felicidade,
porque chegará a hora, em lágrimas, em que você a acompanhará na sua última jornada;

E se ela lhe perguntar algo responda sempre, e se ela novamente perguntar fale assim mesmo, e se ela mais uma vez perguntar, não responda num tom brusco mas com gentileza, em paz,
e se ela não compreendê-lo bem, explique tudo com bom humor,
porque chegará a hora, amarga hora, em que a boca da sua mãe não mais perguntará.’

Esse é um poema que foi traduzido do alemão, escrito em 1923 por um alemão muito conhecido chamado Adolf Hitler. Você sabia que Adolf Hitler era um poeta e que ele amava muito a sua mãe e que pensava muito no amor que ele sentia por ela? Não! Pois bem, não será porque as nossas idéias são que um homem como esse foi tão ruim e perverso que nunca poderíamos contemplar a idéia de que ele tivesse um lado emocional tão suave?

Quantos de vocês podem imaginar os seus ex-maridos ou ex-esposas como um “Adolf Hitler”? Vocês percebem o que estou dizendo? O processo de condicionamento significa que se pensamos que alguém é um inimigo, então pensamos que eles não prestam. Pensamos que eles são ruins e isso é tudo que vemos. Podemos pensar, “eu não presto”, “eu sou ruim”, “eu sou horrível”, e isso é tudo que vemos. O processo de condicionamento é tão forte que as pessoas algumas vezes ficam tão deprimidas que são capazes de se suicidarem. Ou elas ficam tão convencidas que se tornam egocêntricas e não ouvem ninguém. Tudo isso é apenas o condicionamento operando de três formas. Não pense que você está livre disso. Mesmo agora você não está ouvindo aquilo que estou dizendo mas aquilo que você quer ouvir, aquilo que você espera ouvir. Essa é a dificuldade para os seres humanos, ser capaz de saber a verdade das coisas.

Ajaan Brahmvamso
A Realidade Condicionada
Fonte: www.acessoaoinsight.net

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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Ensinamentos Acessíveis, Verdades Profundas 3

Segue a continuação do livro Ensinamentos Acessíveis, Verdades Profundas de Ajaan Anan Akiñcano, os capítulos anteriores podem ser lidos nas postagens mais antigas.




Meditação ... O desenvolvimento da mente

7. Aprendendo a Conhecer a Mente
Quando começamos a meditar, rapidamente iremos notar que ficar sentado mesmo por um minuto parece quase impossível. Tudo que experienciamos é inquietação e agitação. Com a prática no entanto, logo seremos capazes de sentar por períodos de tempo mais longos. Cinco minutos, dez minutos, quinze minutos - por fim seremos capazes de sentar por meia hora com facilidade. Algumas vezes a meditação traz paz, outras não, mas nos estágios iniciais o elemento chave é a paciência. É importante notar que os cinco obstáculos para a paz na mente - desejo sensual, má vontade, preguiça e torpor, inquietação e ansiedade, e dúvida - não são criados pela meditação. Eles simplesmente já se encontram presentes. Na vida diária estamos acostumados a pensar muito e com freqüência de um modo não muito hábil ou controlado. Esse tipo de pensamento tende a agitar a mente e criar diferentes tipos de estresse mental. Então, quando nos sentamos para concentrar a mente na respiração, ou algum outro objeto de meditação, aquilo que é notado primeiro é o que já está presente. De repente vemos, "Hum, tem um montão de pensamentos acontecendo." Portanto, para começar, aceite como algo normal que a mente destreinada seja assim. E o modo habilidoso para lidar com isso é desenvolver essa qualidade da atenção plena. Meditamos para conhecer a nossa mente. Mas isso não significa pensar, "Tenho que ficar em paz!" Se pensarmos desse modo e nos agarrarmos a isso, ficaremos irritados conosco mesmo quando não estivermos em paz. Nosso objetivo é simplesmente conhecer a mente. E quando estivermos trabalhando no desenvolvimento da atenção constante, isso irá incluir ocasiões em que não experimentaremos muita paz, quando houver pensamentos e distrações surgindo. Nesses casos, ficamos apenas com o conhecer. "Ah, agora a mente está distraída." Haverá também ocasiões em que a nossa atenção plena e concentração estarão fortes e os obstáculos desaparecerão. Nesses casos, temos consciência disso."Agora a mente está em paz. Agora a mente está calma e concentrada." Qualquer que seja a experiência, nós a conhecemos pelo que ela é. Esse é o nosso objetivo.

8. Gerando Impulso com a Atenção Plena
Se nos dedicarmos todos os dias, a meditação começará a ganhar impulso por conta própria. Quando acordarmos vamos querer praticar meditação, sempre que tivermos algum tempo livre vamos querer praticar meditação, e se surgir a oportunidade vamos querer praticar durante todo o dia.
Se praticarmos de modo consistente com atenção plena, a qualquer hora do dia que formos meditar, quer seja pela manhã ou à noite, a mente irá se dirigir a um estado de paz com muita facilidade. Isso é o que chamamos desenvolver a mente continuamente. Sempre que tivermos a atenção plena estabelecida estaremos desenvolvendo a mente. No entanto, mesmo que sentemos durante todo o dia com os olhos fechados, se não houver atenção plena, o nosso esforço trará pouco benefício. Se praticarmos a meditação andando durante todo um dia mas a nossa atenção plena não estiver estabelecida firmemente, então não estaremos aplicando o esforço correto na meditação. Para realmente fazer o esforço correto temos de nos empenhar no abandono de todos os estados mentais prejudiciais que tenham surgido, fazer com que estados benéficos surjam e uma vez presentes, procurar mantê-los na mente. Quanto aos estados mentais prejudiciais que já foram abandonados devemos nos empenhar para que eles não surjam novamente. Se estivermos praticando desse modo, com atenção plena, então, quer seja em pé, sentado, caminhando ou deitado, estaremos de fato desenvolvendo a mente.

9. Reflexão Sábia
Haverá ocasiões em que a mente estará demasiado inquieta para simplesmente observar a respiração ou permanecer com a palavra de meditação. Nessas ocasiões pode ser que precisemos empregar a reflexão sábia. A reflexão sábia se dá quando empregamos o pensamento de modo consciente para conduzir a mente para um estado de paz. Podemos empregar a recordação das qualidades do Buda, os quatro brahma-viharas, a recordação da morte, recitação dos suttas, ou outros modos de contemplação do Dhamma. Algumas pessoas percebem que o seu temperamento é mais adequado para esse estilo de meditação com reflexão e contemplação, enquanto que outras irão perceber que permanecer com um único objeto de meditação, como por exemplo a respiração, irá pacificar a mente com facilidade. Muitos praticantes, no entanto, percebem que pode ser útil empregar esses dois aspectos em revezamento como meio para acalmar a mente. Na tradição das florestas da Tailândia é bastante comum os praticantes usarem a recordação do Buda como seu principal objeto de meditação. Além de recitar 'Buddho' junto com a respiração, podemos também recordar as qualidades do Buda para acalmar a mente. O Buda foi um perfeitamente iluminado. A mente dele era pura, livre das contaminações mentais, livre do sofrimento, experimentando paz constante. Ele não só purificou a própria mente, descobrindo um meio de libertá-la da delusão e do apego, como ele também desenvolveu a sabedoria para ensinar outros a seguirem o mesmo caminho. Devido à nossa fé no Buda e nos seus ensinamentos, quando entramos ou saímos de um templo, é costume prestar-lhe homenagem prostrando-se três vezes ante a estátua do Buda. Quando fazemos isso estamos recordando a iluminação do Buda e o que isso significa. Recordamos as qualidades mentais que ele aperfeiçoou, isto é, a sua grande compaixão, grande pureza e grande sabedoria. Ele desenvolveu essas virtudes e outros aspectos da sua prática espiritual ao longo de incontáveis vidas, com o voto de tornar-se um Buda durante todo o tempo. O seu voto foi finalmente realizado ao experimentar a felicidade da libertação sentado sob uma figueira-dos-pagodes na Índia há 2.500 anos. Daí, ele começou a ensinar o caminho para superar o sofrimento que ele havia descoberto por si próprio. O Buda ensinou o caminho para a perfeita paz e felicidade, por bondade e compaixão por todos os seres sencientes deste mundo. E quando os seus discípulos também realizaram a iluminação eles foram enviados para disseminar os ensinamentos em benefício de todos os seres. Esses ensinamentos têm sido transmitidos e compartilhados até os nossos dias. E é devido a isso que ainda existem seres iluminados no mundo.

Ajaan Anan Akiñcano

Estarei postando mais alguns capítulos para os visitantes do blog, mas o livro completo pode ser lido clicando na fonte abaixo.

Fonte:
http://www.acessoaoinsight.net/arquivo_textos_theravada/Anan_indice.php
Somente para distribuição gratuita.
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sábado, 13 de novembro de 2010

Ensinamentos Acessíveis, Verdades Profundas 2

Segue a continuação do livro Ensinamentos Acessíveis, Verdades Profundas de Ajaan Anan Akiñcano, os capítulos anteriores podem ser lidos nas postagens mais antigas.




Meditação ... O desenvolvimento da mente

6. Os Fundamentos da Meditação
Em preparação para a meditação sentada, coloque a perna direita sobre a perna esquerda e a mão direita sobre a mão esquerda. Sente confortavelmente com as costas eretas, sentindo-se equilibrado e relaxado. Se perceber que essa postura não é adequada, você pode sentar dum modo que seja mais confortável, até mesmo sentando numa cadeira se for necessário. Não se incline demasiado para a esquerda ou direita, para frente ou para trás. Não incline a cabeça demasiadamente para trás ou a deixe pendurada para baixo. Feche os olhos o suficiente de modo que você não se sinta tenso ou pressionado. Agora, estabeleça a atenção e imagine que você está sentado totalmente só.

Seguindo e Contando a Respiração
Primeiro dirija a sua atenção para seguir a inspiração à medida que ela passa em três pontos distintos - começando no nariz, descendo através do coração e terminando no umbigo; segundo, siga a expiração em ordem reversa - começando no umbigo, subindo através do coração e terminando no nariz. Com a atenção plena estabelecida na inspiração e expiração e depois de conseguir habilidade na notação desses três pontos, continue então com plena atenção nas inspirações e nas expirações apenas no nariz. Mantenha a atenção na sensação da respiração observando apenas esse ponto. Se você descobrir que a mente se distraiu - vagueando para o futuro, pelo passado, pensando diferentes coisas - então re-estabeleça a atenção e deixe de lado esses pensamentos. Se a distração persistir então temos que incrementar o esforço. Uma boa técnica para ajudar a incrementar a concentração é contar a respiração em pares.
Ao contar em pares, contamos 'um' ao inspirar e 'um' ao expirar. Com a inspiração seguinte contamos 'dois' e com a expiração, 'dois'. Depois in - 'três', ex - 'três'; in - 'quatro', ex - 'quatro'; in - 'cinco', ex - 'cinco.' Primeiro contamos em pares até cinco. Depois do quinto par recomeçamos novamente do 'um' e aumentamos a contagem das inspirações e expirações um par de cada vez. Contamos in-ex, 'um'; in-ex, 'dois'; in-ex, 'três' ... até 'seis'. Depois de contar cada par de inspiração e expiração começamos novamente no 'um' e aumentamos um par de cada vez até chegar no 'dez'. Usando este método teremos consciência se a nossa atenção plena está com a contagem - concluindo a contagem corretamente - ou perdida e distraída. Quando tivermos habilidade na contagem das respirações, veremos que a respiração é percebida com mais nitidez. A velocidade de contagem pode então ser aumentada do seguinte modo: com a inspiração contamos, 'um dois três quatro cinco,' e depois com a expiração, 'um dois três quatro cinco.' Quando tivermos habilidade na contagem até cinco, podemos aumentar o número até seis. Inspirando, conte, 'um dois três quatro cinco seis,' depois expirando conte, 'um dois três quatro cinco seis.' Podemos fazer experimentos para ver se isso é suficiente para manter a nossa atenção ou não. Como alternativa, podemos simplesmente continuar contando até cinco, não importa o método, escolha o mais confortável. Deveríamos contar desse modo até que tenhamos habilidade e proficiência. Por fim, nos daremos conta de que a mente abandonou a contagem por si mesma e sente-se confortável simplesmente percebendo a inspiração e a expiração no nariz. Isto pode ser descrito como uma mente pacificada através do método da contagem.
Buddho Além disso, podemos usar a palavra de meditação 'Buddho' - 'aquele que sabe' - recitando-a internamente juntamente com a inspiração e a expiração. Inspirando, recitamos 'Buddho,' expirando recitamos 'Buddho.' Ou podemos recitar 'Bud' com a inspiração e 'dho' com a expiração. Aquele que funcionar melhor, seguimos repetindo a palavra continuamente em sincronia com a respiração. Quando a mente se acalmar, a palavra irá desaparecer naturalmente por si mesma sem o nosso conhecimento. Simplesmente saberemos que a respiração está entrando e saindo. À medida que ficarmos mais calmos a respiração ficará cada vez mais refinada até que pareça ter desaparecido por completo. Neste caso, simplesmente ficamos com o saber, fixando-o no ponto em que a respiração foi percebida por último. Algumas vezes enquanto observamos a respiração, a mente vagueia pensando e fantasiando acerca do passado e do futuro. Nessas ocasiões temos que fazer esforço e regressar para o momento presente, a atenção na respiração. Se a mente estiver vagueando demais de modo que não consigamos focar nossa atenção, então podemos respirar profundamente, enchendo os pulmões até a capacidade máxima antes de exalar. Devemos inalar e exalar profundamente desse modo três vezes e depois retornar à respiração normal. Podemos em seguida empregar qualquer um dos métodos explicados anteriormente.

Meditação Andando
A meditação também pode ser desenvolvida caminhando. Fique em pé com calma, as mãos levemente juntas à frente, a direita sobre a esquerda. A cabeça não deve estar nem demasiado elevada e nem caída para baixo. Os olhos devem fitar adiante a uma distância uniforme e não devem se desviar para a esquerda ou direita, nem demasiado próximo e nem distante. Enquanto caminhamos para cá e para lá coordenamos os movimentos dos nossos pés com a palavra de meditação 'Buddho'. Quando damos um passo à frente, começando com o pé direito, internamente recitamos 'Bud' e com o pé esquerdo 'dho'. Ajaan Chah ensinava que ao praticar a meditação andando devemos estar atentos ao começo, meio e fim de cada passo. Enquanto recitamos 'Bud-dho' devemos também fixar a atenção no conhecimento dos movimentos em relação a esses três pontos ao longo do caminho. Chegando ao fim do caminho, paramos e re-estabelecemos a atenção plena antes de dar a volta e retornar caminhando, recitando 'Bud-dho,' 'Bud-dho,' 'Bud-dho' da mesma forma que antes. Podemos ajustar a nossa prática de acordo com o tempo e o lugar. Se houver espaço podemos estabelecer um caminho com 25 passos de comprimento. Se houver menos espaço podemos reduzir o número de passos e caminhar mais lentamente. No entanto, ao praticar a meditação andando, não devemos caminhar nem demasiado rápido e nem demasiado lento.

Estágios de Concentração
A essência da meditação é focar a atenção plena exclusivamente no objeto de meditação. Quando a atenção plena estiver estabelecida do modo apropriado, então, o coração estará continuamente consciente do processo de contagem ou recitação, ou caminhada, não se recordando de nada mais. Enquanto estiver dotado de a atenção plena, o coração estará livre dos cinco obstáculos do desejo sensual, má vontade, torpor e preguiça, inquietação e ansiedade, e dúvida. A concentração então se firma, caracterizada pela pacificação temporária da mente chamada concentração momentânea. Se mantivermos o foco com atenção plena contínua, então algumas vezes experimentaremos o prazer. O prazer é caracterizado por sensações físicas de frescor, ou uma onda de energia que se espalha pelo corpo como ondas que quebram na praia. Essas sensações podem fazer com que o corpo oscile ou os pêlos fiquem em pé e são acompanhadas por percepções de expansão física. Algumas vezes pode parecer que as nossas mãos e pés desapareceram. Sensações em outras partes do corpo, até mesmo a sensação do corpo como um todo, podem da mesma forma desaparecer da consciência. Durante esse período em que a mente está em paz, a mente temporariamente abandona o seu apego ao corpo físico e como conseqüência experimenta apenas sensações de leveza e tranqüilidade. Sentados em meditação e com o incremento dessa tranqüilidade pode parecer que estamos flutuando no espaço, dando origem a sentimentos de felicidade e bem-estar. Nesse ponto podemos dizer que o poder da nossa concentração se aprofundou até o nível da concentração de acesso. Com a concentração se aprofundando ainda mais, o coração experimenta ainda mais prazer intenso e felicidade, junto com um sentimento de profunda força interior e estabilidade. Todos os pensamentos cessam e a mente se torna absolutamente quieta e unificada. Nesse estágio nós não somos capazes de controlar ou dirigir a meditação. A mente segue o seu curso natural, entrando num estado unificado com apenas um único objeto na consciência. Esse é o nível da concentração de absorção.
Ajaan Anan Akiñcano

Estarei postando mais alguns capítulos para os visitantes do blog, mas o livro completo pode ser lido clicando na fonte abaixo.

Fonte:
http://www.acessoaoinsight.net/arquivo_textos_theravada/Anan_indice.php
Somente para distribuição gratuita.
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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Ensinamentos Acessíveis, Verdades Profundas





Dia 12 de agosto o site www.acessoaoinsight.net, comemorou 10 anos de existência, e em comemoração publicaram um livro inédito de um autor desconhecido no Brasil. O livro é uma coletânea de palestras e conversas informais de Ajaan Anan Akiñcano. Vai a partir das noções básicas sobre os ensinamentos de Buda e meditação, até as verdades mais profundas como o título sugere. Muito bom para quem quer conhecer ou até mesmo começar a meditar e a entender de forma simples e direta alguns dos mais importantes ensinamentos do Budha.

Ensinamentos Acessíveis, Verdades Profundas.

1. O que é isso?
Este é um caminho que conduz não somente à felicidade mas à paz interior também. Começa com o auto-controle e a prática da meditação. Com a mente quieta é quando surge essa felicidade pura. Ela em absoluto não depende de coisas externas. Não precisamos empregar nenhum estímulo externo para experimentá-la, porque é uma paz e felicidade que vêm do interior. E quando empregamos esse caminho para abrir mão dos nossos apegos, experimentamos uma felicidade ainda mais profunda. Pratique e por si mesmo você verá que esse é o caminho correto.

2. Sobre a Felicidade
O Buda admitiu que os vários tipos de conforto originados do ganho material são uma verdadeira forma de felicidade. Mas ela é apenas temporária. O tipo de felicidade que obtemos tendo dinheiro, posses, amizades e as experiências associadas com isso é temporário. E por essa razão, há sofrimento oculto nisso. Obtemos a felicidade, mas depois a perdemos novamente, conduzindo a um ciclo no qual a mente quer mais, quer experimentar novamente, quer se apegar e agarrar. E isso traz o sofrimento. Se as pessoas nunca refletirem sobre isso elas tenderão a ficar aprisionadas nesse ciclo habitual. Mas o Budismo nos auxilia a olhar esse processo por dentro, a ver o sofrimento que acompanha o apego à felicidade material e compreender claramente o nosso potencial para encontrar algo que satisfaça mais profundamente.

3. Trabalhar pela Riqueza Interior
Muito embora sejamos ocupados, muito embora tenhamos família, devemos encontrar tempo para a prática. Praticamos para encontrar a riqueza interior, a riqueza que surge ao ver o Dhamma. Talvez gastemos quarenta horas por semana buscando a riqueza exterior, dinheiro e os recursos para viver, mas precisamos também encontrar o tempo para desenvolver essa riqueza interior, que é o nosso caminho para a verdadeira felicidade. Sempre que tenhamos algum tempo livre podemos dedicá-lo a incrementar o nível da nossa atenção plena e entendimento. No fim das contas, temos como objetivo desenvolver a atenção plena e observar a verdade em todos os momentos, quer seja em pé, sentado, caminhando ou deitado. E se fizermos esforço nesse sentido, passaremos a ver que o Dhamma que o Buda ensinou na verdade está muito próximo.

4. A Primeira Nobre Verdade
O Buda nos encorajou a despertar para o modo como as coisas são, a ver a verdade das coisas. Ele nos ensinou a contemplar as Quatro Nobres Verdades, e a Primeira Nobre Verdade é que existe dukkha, insatisfação e sofrimento. Isso é parte da vida. Temos estados mentais tristes, dores no corpo, situações nas quais não obtemos aquilo que queremos, preocupação e medo, tristeza e angústia, separação das coisas e pessoas que apreciamos e amamos. Simplesmente devido a todas as dificuldades decorrentes de viver no mundo, proveniente dos assuntos do trabalho e da família, nos deparamos com situações insatisfatórias e estressantes e condições distintas que trazem para a mente uma noção de descontentamento. Todas essas experiências variadas são chamadas dukkha, sofrimento. E nisso é que precisamos aprender a ver apenas o sofrimento, como uma Nobre Verdade, que as coisas são assim. Se tivermos fé nos ensinamentos do Buda, então teremos um método para lidar com esses problemas, o sofrimento com o qual nos deparamos. Os ensinamentos nos encorajam a praticar, tentar superar todas as tendências prejudiciais, que são alimentadas pela delusão e pelo entendimento incorreto, e que impedem o surgimento da bondade e da felicidade na nossa mente. Temos que contemplar essas tendências de modo a vê-las com clareza e abandoná-las. Porque se as seguirmos, elas sempre nos irão conduzir ao sofrimento. Se seguirmos a cobiça ela irá nos conduzir ao sofrimento. Se seguirmos a raiva ela irá nos conduzir ao sofrimento. Se seguirmos a delusão ela irá nos conduzir ao sofrimento. Sempre que seguirmos essas contaminações mentais elas irão nos arrastar na direção do sofrimento e contaminar a nossa mente. Mas elas não acabam nisso, elas não surgem simplesmente e desaparecem. Quanto mais cedemos, mais elas crescem tornando-se estabelecidas na mente e alimentando-se da nossa falta de entendimento. A única coisa que essas contaminações realmente temem é a virtude, a concentração e a sabedoria. Esse é o caminho de prática que o Buda nos deu, o caminho que conduz diretamente ao abandono da cobiça, ao abandono da raiva e ao abandono da delusão. No início pode parecer muito duro aceitar o nosso sofrimento, mas mesmo assim tenha consciência dele, mantenha a atenção plena, saiba que o sofrimento é assim. Podemos de repente compreender, "Ah, a vida simplesmente é assim!" Não significa julgar ou emocionar-se por isso, mas somente saber, "É desse modo e não poderia ser de nenhum outro modo." Como quando experimentamos algum tipo de problema no trabalho. Sabemos que é normal que os problemas surjam, isso é o esperado. Quando temos esse tipo de consciência, da inevitabilidade das dificuldades, a mente fica em paz. Sabemos que assim é como as coisas são e não sofremos desnecessariamente quando elas surgem.

5. Alguma Coisa da Qual Possamos Depender
Quando decidimos dedicar nosso tempo livre para a prática do Dhamma, então usamos esse tempo para estudar, recordar-nos dos ensinamentos, meditar e desenvolver a paz nos nossos corações. Deixamos de lado as nossas preocupações com o trabalho e a família e conduzimos a mente ao objeto de atenção. Ao estabelecer a atenção plena na sensação da respiração entrando e saindo, estamos desenvolvendo a consciência do momento presente. E quando mantemos a atenção desse modo, sem deixar que ela se desgarre, a mente começará a se acalmar e a tornar-se concentrada. Na medida em que a mente vai se acalmando ela experimenta o prazer, um sentimento de satisfação interior que surge da ação de observar atentamente um objeto. Junto com esse sentimento de satisfação, a alegria irá surgir, acompanhando o interesse da mente pelo seu objeto de meditação. Algumas vezes podemos até mesmo experimentar uma profunda felicidade e contentamento interior, de um tipo nunca antes experimentado. É uma felicidade interna que surge como resultado dos nossos próprios esforços depois de treinar a mente para permanecer atenta a um único objeto. Ela não surge do contato com coisas externas da forma habitual como falamos da felicidade. Antes de experimentar isso, nós nunca poderíamos ter imaginado que a prática da contínua atenção plena poderia trazer esse tipo de sentimento de satisfação. Mas se desejamos ter uma mente em paz, temos que entender que a verdadeira paz e felicidade podem apenas ser encontradas dentro de nós.
Ajaan Anan Akiñcano

Estarei postando mais alguns capítulos para os visitantes do blog, mas o livro completo pode ser lido clicando na fonte abaixo.

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