quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O Nosso Condicionamento Mental.











‘A eminência de um grande cientista é medida
pelo tempo que ele impede o progresso no seu campo de ação.’

Quanto mais famoso o cientista e mais proeminente ele for, tanto mais as suas idéias serão tomadas como verdades sagradas. Isso significa que um grande cientista é tão eminente que ele ou ela não podem estar errados. Assim eles na verdade obstruem o progresso durante muitos anos porque eles devem estar certos e todos os demais enxergam sob essa perspectiva.

O Buda delineou de modo muito claro todo o processo condicional. Ele explicou que nós vemos o mundo através de lentes coloridas. Ele explicou que aquilo que tomamos como verdade, como real, está muito distante da realidade. Ele chamou esse processo de condicionamento e lavagem cerebral, que provêm principalmente do nosso interior, de vipallasas. Elas são o aspecto distorcido de todo o processo condicional. Elas são a razão porque aquilo que pensamos saber acaba se revelando incorreto. Alguma vez você tinha absoluta certeza de que estava certo e depois descobriu que estava errado? Isso acontece o tempo todo. As vipallasas, essas distorções do processo condicional, operam num ciclo, um ciclo de delusão. As nossas idéias - que compreendemos como verdades, como realidade - influenciam as nossas percepções. Basicamente, as nossas idéias influenciam aquilo que escolhemos ver, ouvir e experimentar. De todas as distintas impressões que a vida nos oferece há muitas coisas das quais você poderia ter consciência neste momento. Você poderia estar consciente daquilo que estou dizendo. Você poderia estar consciente somente da minha aparência. Você poderia estar consciente de algumas fantasias dando voltas na sua mente. Como você decide ter consciência de uma coisa ao invés de outra? É porque as suas idéias guiam a sua escolha.

Se você sentir raiva de alguém, ou tiver má vontade, você irá encontrar algo neles para justificar aquela má vontade. A pessoa diz, “Tenha um dia maravilhoso hoje”, e você pensa “O que diabos ela quer dizer com isso?” É o mesmo processo que a paranóia. Se alguém estiver realmente paranóico, ele poderá pensar que um monge é capaz de ler a mente. O monge diz, “Não, eu não sou,” e ele diz “Eu sabia que você ia dizer isso.” Um psiquiatra me disse, faz alguns dias, que você pode apenas aumentar a paranóia, não é possível diminuí-la. Qualquer coisa que se diga, aquela pessoa irá tomar como confirmação da sua idéia. Se você estiver apaixonado por alguém não importa o que ele ou ela faça ou diga. Se ele ou ela enfiarem o dedo no nariz, assim o fazem com tamanho charme. Você pensa, “Eu amo o modo como você faz isso.”

A percepção é completamente controlada pelas nossas idéias. Vou ler uma história apenas para ilustrar isso. A história é chamada de “A Perda de Harvard”. O presidente da universidade de Harvard cometeu um erro ao prejulgar pessoas e isso lhe custou muito. Uma senhora num vestido de algodão puído, junto com o seu marido vestindo um terno caseiro surrado, chegaram num trem em Boston, Massachusetts, e com timidez foram para o escritório do presidente da universidade sem ter entrevista marcada. A secretária franziu a testa. Num instante ela foi capaz de estabelecer que aqueles caipiras não tinham nada a tratar na universidade de Harvard e provavelmente nem mereciam estar em Cambridge. “Nós queremos ver o presidente” o homem disse com suavidade. “Ele estará ocupado o dia todo” a resposta brusca da secretária. “Nós esperaremos”, a senhora respondeu.

A secretária os ignorou por horas na esperança de que o casal finalmente desanimasse e fosse embora, mas eles não foram. A secretária começou a se sentir frustrada e finalmente decidiu perturbar o presidente, muito embora essa fosse uma tarefa que ela sempre lamentava ter de fazer. “Talvez se eles o virem por alguns minutos decidam ir embora”, ela disse para o presidente da universidade de Harvard. Exasperado ele suspirou e concordou com a cabeça. Alguém tão importante como ele é óbvio que não teria tempo para gastar com essa gente, mas ele odiava que vestidos de algodão barato e ternos caseiros poluíssem a recepção do seu escritório. O presidente, com austera dignidade expressa no rosto, pavoneou em direção ao casal. A senhora lhe disse, “Nós tivemos um filho que estudou na Harvard durante um ano. Ele amava a Harvard e se sentia muito feliz aqui, mas faz um ano ele morreu num acidente. Então, meu marido e eu gostaríamos de erigir para ele um memorial em algum lugar no campus.” O presidente não foi sensibilizado, ele estava chocado. “Madame”, disse ele com irritação, “não podemos colocar uma estátua para cada pessoa que estudou na Harvard e que tenha morrido, se fizéssemos isso o lugar pareceria um cemitério.” “Ah, não”, a senhora rapidamente explicou. “Não queremos erigir uma estátua. Pensamos em doar um prédio para a Harvard.” O presidente mexeu os olhos enfadado. Ele olhou para o vestido de algodão e o terno caseiro e exclamou, “Um prédio! Vocês têm alguma idéia de quanto custa um prédio? (Isso aconteceu faz muitos anos). Nós temos mais de sete milhões e meio de dólares em investimentos na Harvard.” Por um momento a senhora ficou em silêncio. O presidente ficou satisfeito, ele poderia se livrar deles agora. A senhora se voltou para o marido e disse calmamente, “Se esse é o custo para começar uma universidade, porque não começamos a nossa,” e o marido concordou com a cabeça. O rosto do presidente murchou com confusão e surpresa. O Sr. e Sra. Leyland Stanford foram embora, viajaram até Palo Alto na Califórnia, onde estabeleceram uma universidade conhecida como Stanford University que leva o nome deles. Foi um memorial para um filho em relação ao qual a Harvard já não mais se importava.

Não é uma bela história? Só porque aquelas duas pessoas estavam vestidas com roupas simples ninguém percebeu que elas eram milionárias e desse modo elas deram início à sua própria universidade. Não é isso que ocorre com tanta freqüência na vida?

Aquilo que estamos procurando é o que vemos. Essa é a razão porque o Buda ensinou que até mesmo a percepção neutra, já está condicionada. Mesmo aquilo que ouvimos - ou melhor aquilo que escolhemos ouvir - aquilo que escolhemos ver, escolhemos sentir, já foi filtrado pelo nosso condicionamento, pelos nossos apegos, pelos nossos desejos e cobiças. Essa é a razão porque mesmo o ensinamento de Krishnamurti, um tipo de atenção silenciosa, ou não-agir, não seria suficiente para descobrir a verdade genuína. Aquilo que vemos e ouvimos nunca é confiável. Essa é a razão porque algumas vezes quando dou palestras, digo uma mensagem, mas aquilo que vocês ouvem pode ser diferente. Alguma coisa acontece com as palavras que digo antes que elas cheguem na consciência de vocês. Algumas coisas são filtradas! Isso já aconteceu alguma vez com vocês? Vocês alguma vez já disseram uma coisa e foi completamente desentendida? Vocês dizem, “Eu não disse isso”, e a outra pessoa diz, “Sim, você disse”. Você disse muitas coisas, mas elas foram filtradas ou retiradas do contexto original. Assim é como surgem os mal-entendidos. Quando começamos a entender o modo como esse processo cognitivo funciona, podemos entender como condicionamos até mesmo as nossas percepções genuínas.

Com essas percepções fabricamos os nossos pensamentos. Esse conhecimento básico que chega na mente quando sentimos, quando vemos, constrói os nossos pensamentos. E esses pensamentos por seu lado confirmam as nossas idéias. Temos esse ciclo de idéias flexionando as nossas percepções para satisfazer os seus propósitos, e essas percepções, novamente flexionando os pensamentos para confirmar as idéias. Essa é a razão porque temos diferentes idéias, filosofias e religiões no mundo. Uma dessas religiões é a ciência. Outra pode ser a psicologia, e outras podem ser o humanismo, o irracionalismo, o agnosticismo ou mesmo o Budismo. Todas essas são diferentes idéias e opiniões presentes no mundo. Aquilo que realmente me interessava quando eu era jovem era a origem dessas idéias e opiniões. Porque pessoas racionais acreditam num Deus que criou este mundo e que ao mesmo tempo criou o Diabo apenas para importunar as pessoas? Isso era muito difícil de entender. Outros pontos de vista, por exemplo, a idéia de condicionamento moldado pelas nossas idéias, pensamentos e percepções, esclarecia como isso estava acontecendo. Aquilo que recebemos do mundo está basicamente condicionado por aquilo que esperamos receber.

Negação (ou Não Aceitação)

Agora vou ler um poema. Ouçam este poema. É sobre o amor por uma mãe e todos sabem que isso é um sentimento maravilhoso.

‘Quando a sua mãe estiver envelhecendo e você estiver envelhecendo, quando aquilo que antes era fácil e não requeria esforço se tornar um fardo, quando os olhos, amados e leais, não mais encararem a vida como antes, quando as pernas se tornarem cansadas e não mais quiserem carregá-la,
então ofereça o seu braço como apoio, acompanhe-a com alegria e felicidade,
porque chegará a hora, em lágrimas, em que você a acompanhará na sua última jornada;

E se ela lhe perguntar algo responda sempre, e se ela novamente perguntar fale assim mesmo, e se ela mais uma vez perguntar, não responda num tom brusco mas com gentileza, em paz,
e se ela não compreendê-lo bem, explique tudo com bom humor,
porque chegará a hora, amarga hora, em que a boca da sua mãe não mais perguntará.’

Esse é um poema que foi traduzido do alemão, escrito em 1923 por um alemão muito conhecido chamado Adolf Hitler. Você sabia que Adolf Hitler era um poeta e que ele amava muito a sua mãe e que pensava muito no amor que ele sentia por ela? Não! Pois bem, não será porque as nossas idéias são que um homem como esse foi tão ruim e perverso que nunca poderíamos contemplar a idéia de que ele tivesse um lado emocional tão suave?

Quantos de vocês podem imaginar os seus ex-maridos ou ex-esposas como um “Adolf Hitler”? Vocês percebem o que estou dizendo? O processo de condicionamento significa que se pensamos que alguém é um inimigo, então pensamos que eles não prestam. Pensamos que eles são ruins e isso é tudo que vemos. Podemos pensar, “eu não presto”, “eu sou ruim”, “eu sou horrível”, e isso é tudo que vemos. O processo de condicionamento é tão forte que as pessoas algumas vezes ficam tão deprimidas que são capazes de se suicidarem. Ou elas ficam tão convencidas que se tornam egocêntricas e não ouvem ninguém. Tudo isso é apenas o condicionamento operando de três formas. Não pense que você está livre disso. Mesmo agora você não está ouvindo aquilo que estou dizendo mas aquilo que você quer ouvir, aquilo que você espera ouvir. Essa é a dificuldade para os seres humanos, ser capaz de saber a verdade das coisas.

Ajaan Brahmvamso
A Realidade Condicionada
Fonte: www.acessoaoinsight.net

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Location:Jaraguá do Sul,Brazil

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