Hoje a postagem é sobre algumas curiosidades, segue um video curto sobre o Buddhismo e uma máteria sobre efeitos da meditação. Ambos retirados no blog Esteja Aqui e Agora.
O Zen Budismo é destaque na TVBV
Documentário sobre Budismo.
Programa: Mosaico
Veículo: TVBV-SC (BAND)
Exibido em: 25/04/2010
Tema: Budismo
Edição do programa sobre budismo, onde destacamos aspectos relevantes ao zen.
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MEDITAÇÃO MELHORA O RACIOCÍNIO EM APENAS QUATRO DIAS DIZ ESTUDO
Trocando o cafezinho pela meditação
Ao longo do dia, a maioria das pessoas toma um cafezinho, um chimarrão, ou alguma outra bebida que ajuda a "acordar" e fazer o cérebro funcionar melhor.
Mas uma nova pesquisa, publicada na revista científica Consciousness and Cognition, sugere que uma pequena pausa para meditação pode fazer o mesmo efeito, deixando-nos mais "cognitivamente afiados" sem colocar o estômago em risco.
Meditar sem virar monge
Embora várias pesquisas anteriores, utilizando neuroimagens cerebrais, tenham demonstrado que as técnicas de meditação podem promover mudanças significativas nas áreas do cérebro associadas com a concentração, é comum assumir que a meditação exige um treinamento contínuo e uma dedicação intensiva para alcançar esses efeitos.
Isso faz a maioria das pessoas desistirem antes de começar. Apesar de todos quererem aumentar suas capacidades cognitivas, acredita-se que a meditação exige uma disciplina monástica ou o tempo e o dinheiro que a maioria das pessoas não dispõe.
Surpreendentemente, todos os benefícios da meditação poderão ser alcançados sem essa trabalheira toda.
Mudando a mente pela meditação
Estudando uma técnica de meditação conhecida como meditação da mente alerta, os cientistas descobriram que os participantes no treinamento de meditação apresentaram uma melhoria significativa nas suas habilidades cognitivas críticas depois de apenas 4 dias de treinamento, em sessões diárias de 20 minutos.
Embora isso soe quase como um anúncio de algum produto "milagroso" para perder peso, a pesquisa realizada na Escola de Medicina da Universidade Wake Forest, nos Estados Unidos, sugere que a mente pode ser treinada no aspecto cognitivo de forma mais fácil do que a maioria das pessoas assume.
"Nos resultados dos testes comportamentais, nós estamos verificando algo que é comparável aos resultados que foram documentados depois de treinamentos muito mais longos," disse Fadel Zeidan, coordenador da pesquisa.
"Falando sinceramente, as melhorias profundas que nós verificamos depois de apenas 4 dias de treinamento de meditação são realmente surpreendentes," disse Zeidan. "Isso parece mostrar que a mente é, na verdade, muito fácil de mudar e facilmente influenciável, especialmente pela meditação."
Fonte: Diário da Saúde
Postado por Esteja Aqui e Agora...
"O que quer que vocês pensem, assim vai ser, será sempre algo distinto!” Buda. Buddha, Vipassana, Mindfulness, Budhismo, Budismo, Meditação, Insight, Jhanas, Iluminação, Nirvana, Nibbana, Zen, Tibetano, Terra pura, Theravada, Mahayana, Vajrayana, Nimitta, Abhidhama, Darma, Dama, Siddharta Gautama, Shakyamuni, Renascimento, Kamma, Cinco Obstáculos, Nivarana,Três Jóias, Iddhipada, Cinco Faculdades, Indriya, Bhavana, Samatha, Arahant, Renascimento, Conciência, Mente, Concentração, Virtude.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Superando a Ilusão do Eu parte 3
Continuação do Documento Superando a Ilusão do Eu, as primeiras partes podem ser acessadas através do menu ao lado.
Quatro Nobres Verdades.
Em seus ensinamentos, cujo conjunto se chama Dhamma
(em sânscrito, Dharma), o Buddha expôs aquilo que
observou e constatou, de maneira direta,ser verdadeiro
e comum a todos os seres vivos. Ele explicou suas
descobertas e as ensinou no que chamou de Quatro Nobres
Verdades. Elas são chamadas de "Nobres" porque, se
plenamente praticadas e compreendidas, levam o
praticante a viver num estado mental claro e purificado,
um estado de paz e felicidade incomparável e puro, que
nenhuma vicissitude da vida pode perturbar. Abaixo estão
alguns dos discursos do Desperto que desenvolvem o tema:
"Monges, há estas Quatro Nobres Verdades: a Nobre Verdade
do Sofrimento; a Nobre Verdade da origem do sofrimento;
a Nobre Verdade da cessação do sofrimento; e a Nobre
Verdade do caminho que leva à cessação do sofrimento.
E o que é, monges, a Nobre Verdade do Sofrimento?
Nascimento, envelhecimento, doença, dor, tristeza,lamentação,
pesar,desespero e morte são sofrimento. Não obter o que se
deseja e ter contato com o que não se deseja é sofrimento.
Em suma, os cinco agregados (khandha) do apego são sofrimento.
Quais são os cinco?
"Todo tipo de forma material (rupa), seja ela passada,
presente ou futura, interna ou externa, grosseira ou
sutil, inferior ou superior, distante ou próxima - isso
se chama agregado da forma.
"Toda sensação (vedana), seja ela passada, presente ou
futura,interna ou externa, grosseira ou sutil - isso se
chama agregado da sensação.
"Toda percepção (sañña), seja ela passada, presente ou
futura - isso se chama agregado da percepção.
"Toda formação mental (sankhara), seja ela passada,
presente ou futura - isso se chama agregado das
formações mentais.
"Todo momento de consciência (viññana), seja ele passado,
presente ou futuro - isso se chama agregado da consciência.
Esses cinco fatores, monges, são chamados de cinco agregados
do apego.
E qual é, monges, a Nobre Verdade da origem do sofrimento?
É essa ânsia (pelos cinco agregados), que leva a renascimentos
incessantes e ao sofrimento contínuo, além da sedução e do
desejo que se prolongam ardentemente ora aqui, ora ali, a saber:
o desejo por prazeres sensoriais, o desejo de existir para
sempre e o desejo pelo fim da vida. Essa é a Nobre Verdade sobre
a origem (e continuidade) do sofrimento.
"E o que é, monges, a Nobre Verdade da cessação do sofrimento?
É a sua cessação completa, desapaixonada, a entrega, a renúncia,
a extinção, é libertar-se do desejo. Essa é a Nobre Verdade
da cessação do sofrimento.
"E qual é, monges, a Nobre Verdade do caminho (a forma de viver
e pensar) que leva à cessação do sofrimento?
É o Nobre Caminho Óctuplo, a saber: Visão Correta,
Pensamento Correto, Fala Correta, Ação Correta,
Meio de Vida Correto, Esforço Correto, Plena Atenção Correta e
Concentração Correta.
Essa é a Nobre Verdade do caminho que leva à total extinção
do sofrimento.
Quatro Nobres Verdades.
Em seus ensinamentos, cujo conjunto se chama Dhamma
(em sânscrito, Dharma), o Buddha expôs aquilo que
observou e constatou, de maneira direta,ser verdadeiro
e comum a todos os seres vivos. Ele explicou suas
descobertas e as ensinou no que chamou de Quatro Nobres
Verdades. Elas são chamadas de "Nobres" porque, se
plenamente praticadas e compreendidas, levam o
praticante a viver num estado mental claro e purificado,
um estado de paz e felicidade incomparável e puro, que
nenhuma vicissitude da vida pode perturbar. Abaixo estão
alguns dos discursos do Desperto que desenvolvem o tema:
"Monges, há estas Quatro Nobres Verdades: a Nobre Verdade
do Sofrimento; a Nobre Verdade da origem do sofrimento;
a Nobre Verdade da cessação do sofrimento; e a Nobre
Verdade do caminho que leva à cessação do sofrimento.
E o que é, monges, a Nobre Verdade do Sofrimento?
Nascimento, envelhecimento, doença, dor, tristeza,lamentação,
pesar,desespero e morte são sofrimento. Não obter o que se
deseja e ter contato com o que não se deseja é sofrimento.
Em suma, os cinco agregados (khandha) do apego são sofrimento.
Quais são os cinco?
"Todo tipo de forma material (rupa), seja ela passada,
presente ou futura, interna ou externa, grosseira ou
sutil, inferior ou superior, distante ou próxima - isso
se chama agregado da forma.
"Toda sensação (vedana), seja ela passada, presente ou
futura,interna ou externa, grosseira ou sutil - isso se
chama agregado da sensação.
"Toda percepção (sañña), seja ela passada, presente ou
futura - isso se chama agregado da percepção.
"Toda formação mental (sankhara), seja ela passada,
presente ou futura - isso se chama agregado das
formações mentais.
"Todo momento de consciência (viññana), seja ele passado,
presente ou futuro - isso se chama agregado da consciência.
Esses cinco fatores, monges, são chamados de cinco agregados
do apego.
E qual é, monges, a Nobre Verdade da origem do sofrimento?
É essa ânsia (pelos cinco agregados), que leva a renascimentos
incessantes e ao sofrimento contínuo, além da sedução e do
desejo que se prolongam ardentemente ora aqui, ora ali, a saber:
o desejo por prazeres sensoriais, o desejo de existir para
sempre e o desejo pelo fim da vida. Essa é a Nobre Verdade sobre
a origem (e continuidade) do sofrimento.
"E o que é, monges, a Nobre Verdade da cessação do sofrimento?
É a sua cessação completa, desapaixonada, a entrega, a renúncia,
a extinção, é libertar-se do desejo. Essa é a Nobre Verdade
da cessação do sofrimento.
"E qual é, monges, a Nobre Verdade do caminho (a forma de viver
e pensar) que leva à cessação do sofrimento?
É o Nobre Caminho Óctuplo, a saber: Visão Correta,
Pensamento Correto, Fala Correta, Ação Correta,
Meio de Vida Correto, Esforço Correto, Plena Atenção Correta e
Concentração Correta.
Essa é a Nobre Verdade do caminho que leva à total extinção
do sofrimento.
terça-feira, 18 de maio de 2010
Livre Arbítrio
Quando você anda, você não tem que mandar o seu pé esquerdo dar um passo; você não ordena seu pé direito a dar um passo. Não é assim. Você está apenas andando naturalmente, espontaneamente, e se sua consciência intervém, esta chega sempre um pouco depois. Você está apenas andando naturalmente, espontaneamente. Por isso surge a pergunta: a nossa consciência mental é apenas uma marionete da nossa consciência armazenadora (subconsciente da psicologia ocidental)? Se a nossa consciência mental é apenas uma marionete, conseqüentemente a decisão é tomada a nível de consciência armazenadora onde há sempre processamento implícito e aprendizagem implícita acontecendo. Nós temos livre arbítrio ou não?
Livre arbítrio é possível, desde que você pratique a atenção plena. Você usa a consciência plena e concentração para ter insight. E com aquele insight você pode fazer decisões baseadas na verdadeira substancialidade das coisas. Você não é apenas uma marionete da consciência armazenadora. Nós temos a nossa soberania, mas temos que usar a nossa soberania para aguar as sementes positivas dentro da consciência armazenadora. Nosso futuro depende inteiramente dos valores da nossa consciência armazenadora.
No budismo nós também falamos de consciência armazenadora enquanto consciência retribuidora, vipaka em sânscrito. Vipaka significa o amadurecimento do fruto. Por exemplo, a natureza de uma fruta, como uma ameixa, é um processo de mudança e amadurecimento. No início ela é pequena, verde e azeda. E se tiver a chance de crescer, tornar-se-á grande, roxa, doce e dará uma semente.
Existe uma tendência de se imaginar que somos uma entidade se movendo através do espaço e do tempo em direção ao futuro. Acreditamos que, neste exato momento, somos nós mesmos e, quando chegarmos a um ponto no futuro, nós ainda continuaremos sendo nós mesmos. Mas isto não corresponde à realidade, porque nós estamos mudando o tempo todo. O Rio Mississipi tem um nome. O nome Rio Mississipi continua o mesmo, mas o rio está sempre mudando, a água dentro dele está sempre mudando. Um ser humano também é assim. Quando nascemos, nós éramos um bebê muito tenro de menos de cinco quilos e agora, como adulto, somos bem diferentes em todos os aspectos.
Os seres humanos são como uma nuvem. Quando nos visualizamos como uma nuvem, temos a oportunidade de olhar, de inquirir profundamente dentro da natureza da nuvem. Podemos visualizar como a nuvem se formou e como a nuvem se manifesta. A palavra “nuvem” pode fazer surgir uma idéia desta nuvem ou daquela nuvem. Esta nuvem não é aquela nuvem. E a nuvem não é o vento. A nuvem não é o raio do sol. A nuvem não é a água.
Suponha que parte da nuvem tenha se tornado chuva. E a nuvem lá em cima pode olhar para baixo e reconhecer-se enquanto córrego de água. Isto é possível. Quando nos vemos enquanto nuvens, podemos olhar em volta e vê que interexistimos com outras nuvens. Outras nuvens se juntarão a nós e nos tornaremos uma nuvem maior. Começamos a ver mais a realidade da nuvem; começamos a ver mais a realidade do eu. É possível para uma nuvem olhar para baixo e ver que parte da nuvem seguiu adiante em outras manifestações. É possível para a nuvem sorrir para ela mesma em forma de um córrego de água sobre a superfície da Terra.
Em cada momento de nossa vida, recebemos informações do ambiente. Nós recebemos o ar, recebemos a comida, recebemos a imagem, o som e as energias coletivas. Em cada minuto de nossa vida diária, existe informação sendo consumida. Todos os dias, nós ingerimos nutrientes em termos de alimentos comestíveis, de impressões sensoriais, em termos de pensamento, em termos de educação, e em termos de consciência coletiva. E, ao mesmo tempo, estamos enviando energia em termos de pensamento, em termos de fala, em termos de ações. Em cada momento de sua vida diária, você produz pensamento, você produz fala e produz ações.
O filósofo francês Jean Paul Sartre disse: “Nós somos a soma de nossas ações”. Carma significa ação, e ela pode ser expressa em termos de pensamento, fala ou ação corporal. Estamos produzindo carma o tempo todo e todo ele vai em direção ao futuro. É por isso que em nossa prática deveríamos nos treinar para nos ver em nossas ações, não somente neste corpo. É claro que ações de corpo, fala e mente também influenciam nosso corpo e sentimentos. Quando uma nuvem olha pra baixo, ela consegue se reconhecer como um córrego de água. Quando olhamos para baixo, podemos ver que fomos em direção ao futuro. Podemos nos reconhecer em muitos lugares.
Você não pode dizer que quando este corpo se desintegrar você não estará mais ali. Você continua de muitas maneiras. Quando uma nuvem vira chuva, a chuva pode ser vista como incontáveis gotas de água. Mas quando elas descem até a Terra, podem se juntar dentro de um córrego novamente, ou elas se tornam dois córregos ou três córregos, mas isto é continuação.
Existem três tipos de carma, de pensamento, de fala e ação corporal. Dizer que depois da decomposição do corpo nada resta é muito pouco científico. Antoine Laurent Lavoisier, o químico do século dezoito, disse que “Nada nasce, nada consegue morrer.” O que acontecerá depois que o seu corpo se desintegrar? A resposta é que você continuará por meio de seus pensamentos, das suas palavras e ações físicas. Se você quiser saber como você estará no futuro, apenas olhe para estas triplas ações e saberá. Você não precisa morrer para começar a ver isso – você pode ver agora – porque você está se produzindo a cada momento, você está produzindo a continuação de você mesmo. Cada pensamento, cada palavra, cada ato carrega sua assinatura – você não consegue escapar. Se você produz algo não tão bonito você não pode pegar de volta – já seguiu adiante para o futuro e começou a produzir uma corrente de ações e reações. Mas você pode sempre produzir algo diferente, algo positivo, e este novo ato seu, em termos de pensamento ou fala e ação, modificará as ações negativas anteriores.
Quando retornamos a nós mesmos e sabemos o que está acontecendo, temos o poder de modelar nossa continuação. É no aqui e agora que temos o poder de modelar nossa continuação. Nossa continuação não será algo no futuro. Nossa continuação acontece bem aqui e neste exato momento. Por isso você ainda tem a soberania de determinar seu futuro. Se tiver feito algo bom, você fica satisfeito. Você diz “eu posso continuar a produzir mais pensamento, mais fala, mais ação do mesmo tipo. Porque eu estou assegurando um bom futuro para mim e para meus filhos.” E se por acaso você tiver produzido algo negativo, você sabe que é capaz de produzir coisas de natureza oposta para corrigi-lo, para transformá-lo. Livre arbítrio é possível no aqui e agora.
Suponha que ontem eu disse algo não muito agradável para o meu irmão menor. Isto é algo feito, já concluído. Causou danos dentro de mim e dentro dele. E hoje eu acordo e compreendo que produzi um carma, uma ação que foi destrutiva. Agora quero retificar aquilo. Estou determinada a dizer algo diferente hoje quando encontrá-lo. Expresso uma opinião a partir do meu insight, minha compaixão, meu amor. Esta opinião está sendo produzida hoje, não ontem; mas ela vai tocar as palavras que eu disse ontem, transformá-las e corrigi-las. De repente sinto a cura acontecendo dentro de mim e a cura acontecendo dentro do meu irmão ou colega de trabalho, porque este segundo ato também carrega a minha assinatura.
Suponha que de manhã uma pessoa cheia de impaciência grita com seu filho. Isto é um erro, uma ação negativa. E suponha que de noite, esta mesma pessoa faz algo muito bom: salva um cachorro de ser atropelado por um carro. Aquela é uma ação muito boa. Cada ação é uma semente plantada dentro da consciência armazenadora dela. Nenhuma ação, nenhum pensamento, nenhuma palavra se perde. Então para onde irá aquela pessoa, se combinarmos ação um e ação dois?
Para saber para onde você está indo, em que direção, apenas olhe para a significação das sementes dentro da sua consciência armazenadora e você conhecerá seu caminho. Tudo depende do seu carma, das suas ações, em termos de pensar, em termos de falar em termos de agir. Você decide. Ninguém mais decide seu futuro. Isto é vipaka.
Toda vez que você produz um pensamento, isto é ação. Buda propôs que praticássemos o pensamento correto, pensamento que vai em direção da indiscriminação, da compaixão e da compreensão. Sabemos que somos capazes de produzir tal pensamento, um pensamento de compaixão, um pensamento de não segregação. Todas as vezes que produzimos um pensamento como este, ele terá um efeito benéfico em nosso corpo e no mundo. Um bom pensamento tem o efeito de curar o seu corpo, a sua mente e o mundo. Isto é ação. Se você produz um pensamento de raiva, de ódio e desespero, isto não é bom para sua saúde ou para a saúde do mundo. Atenção desempenha um papel muito importante. Dependendo do tipo de ambiente que você mora e do que você presta atenção, você tem uma chance maior ou menor de produzir bons pensamentos e ir em direção do pensar correto.
Todo pensamento que você produz carrega a sua assinatura. Você não pode dizer que ele não é você. Você é responsável por aquele pensamento e aquele pensamento é sua continuação. Seu pensamento é a essência do seu ser e da sua vida, e uma vez produzido, ele continua, pode jamais se perder. Podemos conceber nossos pensamentos como um tipo de energia que terá uma reação em cadeia no mundo. Por isso é bom cuidar para que produzamos muitos pensamentos benéficos todos os dias. Sabemos que se quisermos, podemos produzir pensamentos de compaixão, compreensão, irmandade e indiscriminação; e cada um deles carrega nossa assinatura, eles são nós, eles são nossos futuros, eles nunca podem se perder. É muito claro que um pensamento de compaixão, um pensamento de irmandade, compreensão e amor tem o poder de curar: curar o seu corpo, curar sua mente e curar o mundo. O livre arbítrio é possível, porque você sabe que consegue produzir tais pensamentos, com a ajuda de Buda, com a ajuda do seu irmão, da sua irmã na comunidade, com a ajuda do Darma que você aprendeu.
O que você diz também carrega a sua assinatura e é o seu carma. Sua fala pode expressar compreensão, amor e perdão. Desde que você use a fala correta, esta fala possui um efeito de cura. A fala correta tem o poder de curar e transformar e pode ser usada a qualquer momento. Você tem a semente de compaixão, compreensão e perdão dentro de si. Permita que elas se manifestem. Você pode parar de ler agora mesmo e telefonar para alguém e, usando a fala correta expressar compaixão, empatia, amor e perdão. O que você está esperando? Isto é ação real. A reconciliação pode ser obtida imediatamente com a prática da fala amorosa. A fala correta está na direção do perdão, compreensão e compaixão. Pegue o telefone e faça isso. Depois de ter feito isto você se sentirá bem melhor, a outra pessoa se sentirá muito melhor e reconciliação acontecerá imediatamente. Os pensamentos que você produziu e as palavras que você falou também estarão lá como suas continuações.
O que você pode fazer para aliviar sofrimento? Que tipo de ação pode ser alcançada todo dia para expressar compaixão? Os atos físicos são o terceiro aspecto de sua continuação. E nós sabemos que somos capazes de fazer algo para proteger pessoas, proteger animais, proteger o ambiente. Podemos fazer algo para salvar um ser vivo hoje. Pode ser algo pequeno, como abrir uma janela para um inseto sair voando. Ou pode ser grande como alimentar e agasalhar alguém que precisa de ajuda. Todo dia nós estamos em controle do nosso carma, de maneiras grandes e pequenas, e, no entanto, tão freqüentemente sentimos como se tivéssemos nenhum livre arbítrio ou controle.
Livre arbítrio é possível, desde que você pratique a atenção plena. Você usa a consciência plena e concentração para ter insight. E com aquele insight você pode fazer decisões baseadas na verdadeira substancialidade das coisas. Você não é apenas uma marionete da consciência armazenadora. Nós temos a nossa soberania, mas temos que usar a nossa soberania para aguar as sementes positivas dentro da consciência armazenadora. Nosso futuro depende inteiramente dos valores da nossa consciência armazenadora.
No budismo nós também falamos de consciência armazenadora enquanto consciência retribuidora, vipaka em sânscrito. Vipaka significa o amadurecimento do fruto. Por exemplo, a natureza de uma fruta, como uma ameixa, é um processo de mudança e amadurecimento. No início ela é pequena, verde e azeda. E se tiver a chance de crescer, tornar-se-á grande, roxa, doce e dará uma semente.
Existe uma tendência de se imaginar que somos uma entidade se movendo através do espaço e do tempo em direção ao futuro. Acreditamos que, neste exato momento, somos nós mesmos e, quando chegarmos a um ponto no futuro, nós ainda continuaremos sendo nós mesmos. Mas isto não corresponde à realidade, porque nós estamos mudando o tempo todo. O Rio Mississipi tem um nome. O nome Rio Mississipi continua o mesmo, mas o rio está sempre mudando, a água dentro dele está sempre mudando. Um ser humano também é assim. Quando nascemos, nós éramos um bebê muito tenro de menos de cinco quilos e agora, como adulto, somos bem diferentes em todos os aspectos.
Os seres humanos são como uma nuvem. Quando nos visualizamos como uma nuvem, temos a oportunidade de olhar, de inquirir profundamente dentro da natureza da nuvem. Podemos visualizar como a nuvem se formou e como a nuvem se manifesta. A palavra “nuvem” pode fazer surgir uma idéia desta nuvem ou daquela nuvem. Esta nuvem não é aquela nuvem. E a nuvem não é o vento. A nuvem não é o raio do sol. A nuvem não é a água.
Suponha que parte da nuvem tenha se tornado chuva. E a nuvem lá em cima pode olhar para baixo e reconhecer-se enquanto córrego de água. Isto é possível. Quando nos vemos enquanto nuvens, podemos olhar em volta e vê que interexistimos com outras nuvens. Outras nuvens se juntarão a nós e nos tornaremos uma nuvem maior. Começamos a ver mais a realidade da nuvem; começamos a ver mais a realidade do eu. É possível para uma nuvem olhar para baixo e ver que parte da nuvem seguiu adiante em outras manifestações. É possível para a nuvem sorrir para ela mesma em forma de um córrego de água sobre a superfície da Terra.
Em cada momento de nossa vida, recebemos informações do ambiente. Nós recebemos o ar, recebemos a comida, recebemos a imagem, o som e as energias coletivas. Em cada minuto de nossa vida diária, existe informação sendo consumida. Todos os dias, nós ingerimos nutrientes em termos de alimentos comestíveis, de impressões sensoriais, em termos de pensamento, em termos de educação, e em termos de consciência coletiva. E, ao mesmo tempo, estamos enviando energia em termos de pensamento, em termos de fala, em termos de ações. Em cada momento de sua vida diária, você produz pensamento, você produz fala e produz ações.
O filósofo francês Jean Paul Sartre disse: “Nós somos a soma de nossas ações”. Carma significa ação, e ela pode ser expressa em termos de pensamento, fala ou ação corporal. Estamos produzindo carma o tempo todo e todo ele vai em direção ao futuro. É por isso que em nossa prática deveríamos nos treinar para nos ver em nossas ações, não somente neste corpo. É claro que ações de corpo, fala e mente também influenciam nosso corpo e sentimentos. Quando uma nuvem olha pra baixo, ela consegue se reconhecer como um córrego de água. Quando olhamos para baixo, podemos ver que fomos em direção ao futuro. Podemos nos reconhecer em muitos lugares.
Você não pode dizer que quando este corpo se desintegrar você não estará mais ali. Você continua de muitas maneiras. Quando uma nuvem vira chuva, a chuva pode ser vista como incontáveis gotas de água. Mas quando elas descem até a Terra, podem se juntar dentro de um córrego novamente, ou elas se tornam dois córregos ou três córregos, mas isto é continuação.
Existem três tipos de carma, de pensamento, de fala e ação corporal. Dizer que depois da decomposição do corpo nada resta é muito pouco científico. Antoine Laurent Lavoisier, o químico do século dezoito, disse que “Nada nasce, nada consegue morrer.” O que acontecerá depois que o seu corpo se desintegrar? A resposta é que você continuará por meio de seus pensamentos, das suas palavras e ações físicas. Se você quiser saber como você estará no futuro, apenas olhe para estas triplas ações e saberá. Você não precisa morrer para começar a ver isso – você pode ver agora – porque você está se produzindo a cada momento, você está produzindo a continuação de você mesmo. Cada pensamento, cada palavra, cada ato carrega sua assinatura – você não consegue escapar. Se você produz algo não tão bonito você não pode pegar de volta – já seguiu adiante para o futuro e começou a produzir uma corrente de ações e reações. Mas você pode sempre produzir algo diferente, algo positivo, e este novo ato seu, em termos de pensamento ou fala e ação, modificará as ações negativas anteriores.
Quando retornamos a nós mesmos e sabemos o que está acontecendo, temos o poder de modelar nossa continuação. É no aqui e agora que temos o poder de modelar nossa continuação. Nossa continuação não será algo no futuro. Nossa continuação acontece bem aqui e neste exato momento. Por isso você ainda tem a soberania de determinar seu futuro. Se tiver feito algo bom, você fica satisfeito. Você diz “eu posso continuar a produzir mais pensamento, mais fala, mais ação do mesmo tipo. Porque eu estou assegurando um bom futuro para mim e para meus filhos.” E se por acaso você tiver produzido algo negativo, você sabe que é capaz de produzir coisas de natureza oposta para corrigi-lo, para transformá-lo. Livre arbítrio é possível no aqui e agora.
Suponha que ontem eu disse algo não muito agradável para o meu irmão menor. Isto é algo feito, já concluído. Causou danos dentro de mim e dentro dele. E hoje eu acordo e compreendo que produzi um carma, uma ação que foi destrutiva. Agora quero retificar aquilo. Estou determinada a dizer algo diferente hoje quando encontrá-lo. Expresso uma opinião a partir do meu insight, minha compaixão, meu amor. Esta opinião está sendo produzida hoje, não ontem; mas ela vai tocar as palavras que eu disse ontem, transformá-las e corrigi-las. De repente sinto a cura acontecendo dentro de mim e a cura acontecendo dentro do meu irmão ou colega de trabalho, porque este segundo ato também carrega a minha assinatura.
Suponha que de manhã uma pessoa cheia de impaciência grita com seu filho. Isto é um erro, uma ação negativa. E suponha que de noite, esta mesma pessoa faz algo muito bom: salva um cachorro de ser atropelado por um carro. Aquela é uma ação muito boa. Cada ação é uma semente plantada dentro da consciência armazenadora dela. Nenhuma ação, nenhum pensamento, nenhuma palavra se perde. Então para onde irá aquela pessoa, se combinarmos ação um e ação dois?
Para saber para onde você está indo, em que direção, apenas olhe para a significação das sementes dentro da sua consciência armazenadora e você conhecerá seu caminho. Tudo depende do seu carma, das suas ações, em termos de pensar, em termos de falar em termos de agir. Você decide. Ninguém mais decide seu futuro. Isto é vipaka.
Toda vez que você produz um pensamento, isto é ação. Buda propôs que praticássemos o pensamento correto, pensamento que vai em direção da indiscriminação, da compaixão e da compreensão. Sabemos que somos capazes de produzir tal pensamento, um pensamento de compaixão, um pensamento de não segregação. Todas as vezes que produzimos um pensamento como este, ele terá um efeito benéfico em nosso corpo e no mundo. Um bom pensamento tem o efeito de curar o seu corpo, a sua mente e o mundo. Isto é ação. Se você produz um pensamento de raiva, de ódio e desespero, isto não é bom para sua saúde ou para a saúde do mundo. Atenção desempenha um papel muito importante. Dependendo do tipo de ambiente que você mora e do que você presta atenção, você tem uma chance maior ou menor de produzir bons pensamentos e ir em direção do pensar correto.
Todo pensamento que você produz carrega a sua assinatura. Você não pode dizer que ele não é você. Você é responsável por aquele pensamento e aquele pensamento é sua continuação. Seu pensamento é a essência do seu ser e da sua vida, e uma vez produzido, ele continua, pode jamais se perder. Podemos conceber nossos pensamentos como um tipo de energia que terá uma reação em cadeia no mundo. Por isso é bom cuidar para que produzamos muitos pensamentos benéficos todos os dias. Sabemos que se quisermos, podemos produzir pensamentos de compaixão, compreensão, irmandade e indiscriminação; e cada um deles carrega nossa assinatura, eles são nós, eles são nossos futuros, eles nunca podem se perder. É muito claro que um pensamento de compaixão, um pensamento de irmandade, compreensão e amor tem o poder de curar: curar o seu corpo, curar sua mente e curar o mundo. O livre arbítrio é possível, porque você sabe que consegue produzir tais pensamentos, com a ajuda de Buda, com a ajuda do seu irmão, da sua irmã na comunidade, com a ajuda do Darma que você aprendeu.
O que você diz também carrega a sua assinatura e é o seu carma. Sua fala pode expressar compreensão, amor e perdão. Desde que você use a fala correta, esta fala possui um efeito de cura. A fala correta tem o poder de curar e transformar e pode ser usada a qualquer momento. Você tem a semente de compaixão, compreensão e perdão dentro de si. Permita que elas se manifestem. Você pode parar de ler agora mesmo e telefonar para alguém e, usando a fala correta expressar compaixão, empatia, amor e perdão. O que você está esperando? Isto é ação real. A reconciliação pode ser obtida imediatamente com a prática da fala amorosa. A fala correta está na direção do perdão, compreensão e compaixão. Pegue o telefone e faça isso. Depois de ter feito isto você se sentirá bem melhor, a outra pessoa se sentirá muito melhor e reconciliação acontecerá imediatamente. Os pensamentos que você produziu e as palavras que você falou também estarão lá como suas continuações.
O que você pode fazer para aliviar sofrimento? Que tipo de ação pode ser alcançada todo dia para expressar compaixão? Os atos físicos são o terceiro aspecto de sua continuação. E nós sabemos que somos capazes de fazer algo para proteger pessoas, proteger animais, proteger o ambiente. Podemos fazer algo para salvar um ser vivo hoje. Pode ser algo pequeno, como abrir uma janela para um inseto sair voando. Ou pode ser grande como alimentar e agasalhar alguém que precisa de ajuda. Todo dia nós estamos em controle do nosso carma, de maneiras grandes e pequenas, e, no entanto, tão freqüentemente sentimos como se tivéssemos nenhum livre arbítrio ou controle.
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Mais do Dhammapada
Hoje estarei postando mais duas partes do Dhammapada, a primeira sobre vigilância e a segunda sobre a mente. Sobre o texto Superando a Ilusão do Eu, estarei continuando em outras postagens.
A Vigilância:
“A vigilância conduz à imortalidade. A falta de vigilância conduz à morte. Quem permanece vigilante não morre. Quem não está vigilante já morreu.
Entendido isso, os sábios se mantém vigilante e se regozijam nisso, desfrutando da terra dos nobres.
Aquele que constantemente medita, se livra de toda amarra e alcança o supremo Nirvana.
Bem-aventurado aquele que se esforça! Bem-aventurado aquele que se mantém vigilante! Bem-aventurado o homem de conduta pura! Bem-aventurado o homem que domina a si mesmo! Bem-aventurado o homem de vida reta! Bem-aventurado o homem capaz de permanecer em constante vigilância!
Através do esforço, da vigilância, da disciplina e da moderação, o homem sábio se transforma numa ilha que não pode ser inundada.
O ignorante não estima a vigilância, mas o sábio a guarda como o melhor de seus tesouros.
Não sejais negligentes, não os abandoneis aos prazeres dos sentidos. O homem vigilante alcança a felicidade.
Quando o monge fortalece sua vigilância, se libera de todo conflito, ascende ao palácio da sabedoria e observa as pessoas que sofrem como um sábio da montanha contemplando os ignorantes que estão lá embaixo.
O sábio avança como um veloz cavalo entre os desastrados pangarés. Vigilante entre os distraídos, desperto entre os adormecidos.
Por permanecer alerta, Indra prevaleceu contra os deuses. Por isso a vigilância é exaltada e a negligência desprezada.
O monge que se mantém vigilante e teme o descuido, avança como o fogo superando todos os obstáculos.”
A Mente:
“O sábio direciona a indomável mente como o arqueiro direciona a flecha.
A mente se sacode como um peixe na areia, por isso deves abandonar o terreno das paixões.
Mesmo que seja de difícil controle, volúvel e ansiosa, é bom dominar a mente, pois seu domínio leva à felicidade.
Mesmo que seja de difícil apreensão, devido à sua sutileza e tendência à fantasia, o sábio domina a mente e com isso atinge a felicidade.
A mente caminha sem rumo, solitária, sem corpo, escondida nas cavernas. Aqueles que conseguem dominá-la livram-se das correntes de Mara.
O homem de mente descontrolada desconhece o ensinamento sublime, e o de confiança temerosa não alcança a plena sabedoria.
Aquele que dominou sua mente e a afastou do ódio, levando-a além do bem e do mal, permanece atento e nada teme.
Compreendendo que seu corpo é frágil como um vaso e fortalecendo sua mente, vencerá a Mara com o aço da sabedoria. Protegerá sua conquista e estará por cima das coisas terrenas.
Não passará muito tempo antes que o corpo, desprovido de consciência, esteja embaixo da terra como um tronco desprovido de valor.
Uma mente mal governada pode causar mais dor que o pior dos inimigos e o mais entranhado dos ódios.
Uma mente bem governada causa mais benefícios que um pai, uma mãe ou um parente amado.”
A Vigilância:
“A vigilância conduz à imortalidade. A falta de vigilância conduz à morte. Quem permanece vigilante não morre. Quem não está vigilante já morreu.
Entendido isso, os sábios se mantém vigilante e se regozijam nisso, desfrutando da terra dos nobres.
Aquele que constantemente medita, se livra de toda amarra e alcança o supremo Nirvana.
Bem-aventurado aquele que se esforça! Bem-aventurado aquele que se mantém vigilante! Bem-aventurado o homem de conduta pura! Bem-aventurado o homem que domina a si mesmo! Bem-aventurado o homem de vida reta! Bem-aventurado o homem capaz de permanecer em constante vigilância!
Através do esforço, da vigilância, da disciplina e da moderação, o homem sábio se transforma numa ilha que não pode ser inundada.
O ignorante não estima a vigilância, mas o sábio a guarda como o melhor de seus tesouros.
Não sejais negligentes, não os abandoneis aos prazeres dos sentidos. O homem vigilante alcança a felicidade.
Quando o monge fortalece sua vigilância, se libera de todo conflito, ascende ao palácio da sabedoria e observa as pessoas que sofrem como um sábio da montanha contemplando os ignorantes que estão lá embaixo.
O sábio avança como um veloz cavalo entre os desastrados pangarés. Vigilante entre os distraídos, desperto entre os adormecidos.
Por permanecer alerta, Indra prevaleceu contra os deuses. Por isso a vigilância é exaltada e a negligência desprezada.
O monge que se mantém vigilante e teme o descuido, avança como o fogo superando todos os obstáculos.”
A Mente:
“O sábio direciona a indomável mente como o arqueiro direciona a flecha.
A mente se sacode como um peixe na areia, por isso deves abandonar o terreno das paixões.
Mesmo que seja de difícil controle, volúvel e ansiosa, é bom dominar a mente, pois seu domínio leva à felicidade.
Mesmo que seja de difícil apreensão, devido à sua sutileza e tendência à fantasia, o sábio domina a mente e com isso atinge a felicidade.
A mente caminha sem rumo, solitária, sem corpo, escondida nas cavernas. Aqueles que conseguem dominá-la livram-se das correntes de Mara.
O homem de mente descontrolada desconhece o ensinamento sublime, e o de confiança temerosa não alcança a plena sabedoria.
Aquele que dominou sua mente e a afastou do ódio, levando-a além do bem e do mal, permanece atento e nada teme.
Compreendendo que seu corpo é frágil como um vaso e fortalecendo sua mente, vencerá a Mara com o aço da sabedoria. Protegerá sua conquista e estará por cima das coisas terrenas.
Não passará muito tempo antes que o corpo, desprovido de consciência, esteja embaixo da terra como um tronco desprovido de valor.
Uma mente mal governada pode causar mais dor que o pior dos inimigos e o mais entranhado dos ódios.
Uma mente bem governada causa mais benefícios que um pai, uma mãe ou um parente amado.”
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Superando a Ilusão do Eu parte 2
Hoje estou postando a segunda parte do material que estou lendo, que se chama Superando a Ilusão do Eu, e de forma relacionada a alguns versos do Dhammapada que é o curso que estou participando. Então se quiserem ler do começo é melhor ler as postagens de trás para frente, pois a parte 1, foi postada ontem. Segue:
A forma de aplicar ou direcionar o pensamento, no sistema de meditação
budista, destina-se a promover a purificação das condições que provocam o sofrimento. A meditação Vipassanā é cultivada, no início, por meio da atenção e da investigação com que se observam as idas e vindas da mente e do corpo durante os processos de percepção sensorial, formação do pensamento e subsequentes ações externas do corpo. Isso tudo é observado sem que se fique pessoalmente envolvido, apegado ou identificado – o que é possível. Todo o processo, nas suas várias manifestações, é visto como uma série de fenômenos condicionados impermanentes, fugazes, que não estão sendo controlados por ninguém. Quando se desliga a mente da influência sensorial e se enfraquece, com a sabedoria do insight, a idéia e a sensação de um “eu” separado que experiencia, a mente gradualmente pára de reagir aos estímulos dos sentidos; a sensação de um “eu” separado desaparece e experimenta-se um estado de consciência que discrimina, que abarca tudo, que não tem eu. Essa experiência direta, íntima, da natureza não-influenciada da mente é uma prova intuitiva de que o que consideramos um eu individual que experiencia o mundo é apenas uma noção automática e ilusória. O que existe é apenas atividade
mental e física condicionada, que surge e desaparece de acordo com a lei de causa e efeito, sem alma verdadeira ou entidade governante. Essa atividade é a fonte de algo complexo e misterioso chamado vida, com todos os problemas e dificuldades que ela implica.
Pode-se perguntar agora qual o benefício de atingir essa visão. Ela será o impulso para que comecemos de fato o processo de nos desembaraçar dessa questão toda e iniciemos a eliminação de muitas preocupações, ansiedade, medo, dor auto-infligida e desconforto que experimentamos. O meditador pára de praticar ações desnecessárias que só aumentam o envolvimento com seu corpo e mente e a escravidão a eles.
Isso acontece porque o meditador então compreende que as ações não-saudáveis praticadas no presente perpetuam esse processo. As ações atuais se baseiam naquelas realizadas anteriormente, e as ações futuras serão condicionadas pelos hábitos praticados no presente. Assim, se eliminarmos da vida as ações não-saudáveis, egoístas,
gananciosas e desnecessárias, estaremos preparando o terreno para uma vida mais calma, menos atribulada no futuro. Isso se consegue com a prática do Nobre Caminho Óctuplo, ensinado pelo Desperto para esse fim. Essa tarefa só pode ser cumprida pela pessoa, individualmente. Ninguém pode purificar a mente alheia, como mostra outro verso do Dhammapada:
“Sozinho se faz o mal, sozinho se é corrompido.
Sozinho o mal deixa de ser feito,
Sozinho se é purificado.
Pureza e impureza dependem de cada um,
O outro não pode nos purificar.”
Depende de cada pessoa começar o processo de se desembaraçar e de libertar a mente da escravidão as ações passadas. E o processo são pode ser iniciado e completado com sucesso se tivermos uma atitude adequada e desapegada em relação à mente, ao corpo e ao mundo objetivo.
A forma de aplicar ou direcionar o pensamento, no sistema de meditação
budista, destina-se a promover a purificação das condições que provocam o sofrimento. A meditação Vipassanā é cultivada, no início, por meio da atenção e da investigação com que se observam as idas e vindas da mente e do corpo durante os processos de percepção sensorial, formação do pensamento e subsequentes ações externas do corpo. Isso tudo é observado sem que se fique pessoalmente envolvido, apegado ou identificado – o que é possível. Todo o processo, nas suas várias manifestações, é visto como uma série de fenômenos condicionados impermanentes, fugazes, que não estão sendo controlados por ninguém. Quando se desliga a mente da influência sensorial e se enfraquece, com a sabedoria do insight, a idéia e a sensação de um “eu” separado que experiencia, a mente gradualmente pára de reagir aos estímulos dos sentidos; a sensação de um “eu” separado desaparece e experimenta-se um estado de consciência que discrimina, que abarca tudo, que não tem eu. Essa experiência direta, íntima, da natureza não-influenciada da mente é uma prova intuitiva de que o que consideramos um eu individual que experiencia o mundo é apenas uma noção automática e ilusória. O que existe é apenas atividade
mental e física condicionada, que surge e desaparece de acordo com a lei de causa e efeito, sem alma verdadeira ou entidade governante. Essa atividade é a fonte de algo complexo e misterioso chamado vida, com todos os problemas e dificuldades que ela implica.
Pode-se perguntar agora qual o benefício de atingir essa visão. Ela será o impulso para que comecemos de fato o processo de nos desembaraçar dessa questão toda e iniciemos a eliminação de muitas preocupações, ansiedade, medo, dor auto-infligida e desconforto que experimentamos. O meditador pára de praticar ações desnecessárias que só aumentam o envolvimento com seu corpo e mente e a escravidão a eles.
Isso acontece porque o meditador então compreende que as ações não-saudáveis praticadas no presente perpetuam esse processo. As ações atuais se baseiam naquelas realizadas anteriormente, e as ações futuras serão condicionadas pelos hábitos praticados no presente. Assim, se eliminarmos da vida as ações não-saudáveis, egoístas,
gananciosas e desnecessárias, estaremos preparando o terreno para uma vida mais calma, menos atribulada no futuro. Isso se consegue com a prática do Nobre Caminho Óctuplo, ensinado pelo Desperto para esse fim. Essa tarefa só pode ser cumprida pela pessoa, individualmente. Ninguém pode purificar a mente alheia, como mostra outro verso do Dhammapada:
“Sozinho se faz o mal, sozinho se é corrompido.
Sozinho o mal deixa de ser feito,
Sozinho se é purificado.
Pureza e impureza dependem de cada um,
O outro não pode nos purificar.”
Depende de cada pessoa começar o processo de se desembaraçar e de libertar a mente da escravidão as ações passadas. E o processo são pode ser iniciado e completado com sucesso se tivermos uma atitude adequada e desapegada em relação à mente, ao corpo e ao mundo objetivo.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
Superando a Ilusão do Eu parte 1
Ontem iniciei um curso sobre o Dhammapada, então as próximas postagens terão esse tema como base, mas não ficarei restrito somente a este tema, hoje por exemplo postagem é na verdade sobre superar a ilusão do eu, mas que cita alguns versos do Dhammapada para esta ajuda.
Sobre o Dhammapada:
O Dhammapada é um livro que é um tipo de catecismo no buddhismo, em relação a todas as escolas buddhistas, é o livro mais publicado do mundo, é também um dos primeiros, senão o primeiro livro buddistha a ser publicado em alguma língua ocidental, e é também o livro buddhista publicado em mais línguas.
É um livro composto de versos, são 423 versos. É uma coletânia de passagens inspiradoras que aparencem em outros lugares, são passagens que exemplificam bem o ensinamento do dhamma. Era usado como um resumo da doutrina, também ajudavam os monjes a ensinar. É um livro canônico, aceito então, como refletindo a palavra do Buddha.
Superando a ilusão do eu parte 1:
O que o Buddha descobriu?
Buddhi, em sânscrito, significa o intelecto puro, a mente que está livre da
influência condicionada das emoções, de forma que nela não se constroem observações
nem deduções tendenciosas ou preconceituosas. A mente da maioria das pessoas
funciona com todo tipo de preconceito e perversão, de maneira que todas as suas
percepções e todos os seus pensamentos estão maculados e são condicionados a seguir
padrões pré-estabelecidos. Desse modo, as pessoas nunca aprendem as coisas na sua
verdadeira natureza. O poder e o alcance da mente permanecem limitados e confinados.
Buddha, o Desperto, foi alguém que libertou sua faculdade intelectual de todas
as distorções, levando-a ao maior grau de clareza possível. A partir disso ele conseguiu
desenvolver uma atenção aguçada e um insight penetrante sobre como o corpo e a
mente funcionam juntos. Conforme seu insight se tornava mais profundo, ele ia
discernindo a razão pela qual existem mente, corpo e todos os fenômenos relacionados a
eles. Através desse insight perfeito, o Buddha observou o ciclo completo de causa e
efeito, a lei do kamma (em sânscrito, karma) em relação aos elementos da mente e da
matéria e teve a experiência direta de como essa lei funciona.
O Desperto viu que a infelicidade e o sofrimento experimentados pelos seres têm
suas raízes na própria mente. Cultivando a consciência e obtendo controle sobre os
processos mentais, a pessoa pode alterar, minar e destruir essas causas que provocam o
sofrimento, a tristeza e a frustração. Pode cultivar e desenvolver outras causas,
tornando-as firmemente estabelecidas na mente, o que lhe permite experimentar o fim
gradual de toda tristeza e confusão. Ela vive então num estado de calma e felicidade,
livre de toda dúvida, pesar, ansiedade e outros estados que perturbam seu bem-estar.
O Buddha disse nas primeiras duas estrofes do Dhammapada:
"Os fenômenos são precedidos pela mente,
Governados pela mente, feitos pela mente.
Se alguém age ou fala com a mente impura,
O sofrimento o segue, como a roda da carroça
Segue a pata do boi que a puxa.
Se alguém age ou fala com a mente pura,
A felicidade o segue,
Como sua sombra que nunca o abandona."
Quais são esses fatores mentais, essas fontes de onde surgem o sofrimento, a
confusão e as aflições da vida? O Buddha descobriu que são a ganância e o desejo, a
sede insaciável por objetos de satisfação sensual e a tentativa de encontrar a felicidade
nas coisas do mundo, que são impermanentes. Num nível mais profundo, isso tudo se
deve à falsa noção de um eu ou alma permanente e individual, que experiencia os
objetos do mundo como sendo separados e distintos dele.
Na verdade, essa noção de "eu" é apenas uma sensação ilusória e delusória que,
devido à ignorância, se fixa à consciência como um parasita. Essa idéia equivocada de
"eu" é a razão de continuarmos desejando e ansiando viver e experimentar os objetos do
mundo.
Quando, através do insight penetrante, percebe-se a natureza da noção de um eu
individual e se compreende plenamente que ela é ilusória, gradualmente se reduz o
desejo pelas coisas, o apego a elas, a sede de uma existência egoísta, a ambição de se
impor e reduzem-se as ações que resultam desses fatores, até que eles sejam
definitivamente eliminados da mente. Como expõe outro verso do Dhammapada:
"Pouco a pouco, uma por uma, de momento a momento,
um sábio
remove as suas impurezas
como o ferreiro remove
as impurezas da prata."
Quando a mente está livre dessas fontes e condições das quais brotam tristeza,
dor e inquietação, o que sobra é um estado puro de paz, calma e felicidade sustentado
pela sabedoria e pela compaixão. Tal mente não se abala ou perturba minimamente,
nem se agita ou inquieta com as vicissitudes passageiras da vida.
"Aquele que se voltou para a renúncia,
Se voltou para a mente desapegada,
Enche-se do amor que tudo abarca
E se liberta da ânsia pela vida.
Com a visão mental desobstruída,
Conhecendo a origem dos sentidos,
Sua mente está plenamente libertada.
Quem encontrou a calma no coração
Não mais acumula as ações que praticou,
E nada resta para ele fazer.
Como uma rocha sólida e forte
Não se agita com o vento,
Não mais podem formas visuais, sons,
Aromas, sabores, toques,
Coisas belas e feias
Abalar o iluminado.
Firme é sua mente, sua mente está liberta
Vendo como tudo surge apenas para desaparecer."
Sobre o Dhammapada:
O Dhammapada é um livro que é um tipo de catecismo no buddhismo, em relação a todas as escolas buddhistas, é o livro mais publicado do mundo, é também um dos primeiros, senão o primeiro livro buddistha a ser publicado em alguma língua ocidental, e é também o livro buddhista publicado em mais línguas.
É um livro composto de versos, são 423 versos. É uma coletânia de passagens inspiradoras que aparencem em outros lugares, são passagens que exemplificam bem o ensinamento do dhamma. Era usado como um resumo da doutrina, também ajudavam os monjes a ensinar. É um livro canônico, aceito então, como refletindo a palavra do Buddha.
Superando a ilusão do eu parte 1:
O que o Buddha descobriu?
Buddhi, em sânscrito, significa o intelecto puro, a mente que está livre da
influência condicionada das emoções, de forma que nela não se constroem observações
nem deduções tendenciosas ou preconceituosas. A mente da maioria das pessoas
funciona com todo tipo de preconceito e perversão, de maneira que todas as suas
percepções e todos os seus pensamentos estão maculados e são condicionados a seguir
padrões pré-estabelecidos. Desse modo, as pessoas nunca aprendem as coisas na sua
verdadeira natureza. O poder e o alcance da mente permanecem limitados e confinados.
Buddha, o Desperto, foi alguém que libertou sua faculdade intelectual de todas
as distorções, levando-a ao maior grau de clareza possível. A partir disso ele conseguiu
desenvolver uma atenção aguçada e um insight penetrante sobre como o corpo e a
mente funcionam juntos. Conforme seu insight se tornava mais profundo, ele ia
discernindo a razão pela qual existem mente, corpo e todos os fenômenos relacionados a
eles. Através desse insight perfeito, o Buddha observou o ciclo completo de causa e
efeito, a lei do kamma (em sânscrito, karma) em relação aos elementos da mente e da
matéria e teve a experiência direta de como essa lei funciona.
O Desperto viu que a infelicidade e o sofrimento experimentados pelos seres têm
suas raízes na própria mente. Cultivando a consciência e obtendo controle sobre os
processos mentais, a pessoa pode alterar, minar e destruir essas causas que provocam o
sofrimento, a tristeza e a frustração. Pode cultivar e desenvolver outras causas,
tornando-as firmemente estabelecidas na mente, o que lhe permite experimentar o fim
gradual de toda tristeza e confusão. Ela vive então num estado de calma e felicidade,
livre de toda dúvida, pesar, ansiedade e outros estados que perturbam seu bem-estar.
O Buddha disse nas primeiras duas estrofes do Dhammapada:
"Os fenômenos são precedidos pela mente,
Governados pela mente, feitos pela mente.
Se alguém age ou fala com a mente impura,
O sofrimento o segue, como a roda da carroça
Segue a pata do boi que a puxa.
Se alguém age ou fala com a mente pura,
A felicidade o segue,
Como sua sombra que nunca o abandona."
Quais são esses fatores mentais, essas fontes de onde surgem o sofrimento, a
confusão e as aflições da vida? O Buddha descobriu que são a ganância e o desejo, a
sede insaciável por objetos de satisfação sensual e a tentativa de encontrar a felicidade
nas coisas do mundo, que são impermanentes. Num nível mais profundo, isso tudo se
deve à falsa noção de um eu ou alma permanente e individual, que experiencia os
objetos do mundo como sendo separados e distintos dele.
Na verdade, essa noção de "eu" é apenas uma sensação ilusória e delusória que,
devido à ignorância, se fixa à consciência como um parasita. Essa idéia equivocada de
"eu" é a razão de continuarmos desejando e ansiando viver e experimentar os objetos do
mundo.
Quando, através do insight penetrante, percebe-se a natureza da noção de um eu
individual e se compreende plenamente que ela é ilusória, gradualmente se reduz o
desejo pelas coisas, o apego a elas, a sede de uma existência egoísta, a ambição de se
impor e reduzem-se as ações que resultam desses fatores, até que eles sejam
definitivamente eliminados da mente. Como expõe outro verso do Dhammapada:
"Pouco a pouco, uma por uma, de momento a momento,
um sábio
remove as suas impurezas
como o ferreiro remove
as impurezas da prata."
Quando a mente está livre dessas fontes e condições das quais brotam tristeza,
dor e inquietação, o que sobra é um estado puro de paz, calma e felicidade sustentado
pela sabedoria e pela compaixão. Tal mente não se abala ou perturba minimamente,
nem se agita ou inquieta com as vicissitudes passageiras da vida.
"Aquele que se voltou para a renúncia,
Se voltou para a mente desapegada,
Enche-se do amor que tudo abarca
E se liberta da ânsia pela vida.
Com a visão mental desobstruída,
Conhecendo a origem dos sentidos,
Sua mente está plenamente libertada.
Quem encontrou a calma no coração
Não mais acumula as ações que praticou,
E nada resta para ele fazer.
Como uma rocha sólida e forte
Não se agita com o vento,
Não mais podem formas visuais, sons,
Aromas, sabores, toques,
Coisas belas e feias
Abalar o iluminado.
Firme é sua mente, sua mente está liberta
Vendo como tudo surge apenas para desaparecer."
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Sem Dúvida.
É com grande entusiasmo que inicio este blog. Um blog dedicado a liberdade, felicidade, amor, meditação e claro, a base que torna tudo isso possível, a atenção plena. Tentarei através de textos extraidos do meu estudo diário, manter o leitor entusiasmado e em sintonia com o que pode ser dito a respeito da atenção plena.
Iniciarei com um trecho que copiei (na mão mesmo), de um livro que gosto muito.
É um texto para se ler com a mente vazia. Espero que gostem.
Segue:
Sem dúvida, existem muitas coisas que não podem ser expressas nas línguas ocidentais, porque a maneira oriental de considerar a realidade é basicamente, fundamentalmente, tacitamente diferente. Acontece, às vezes de a mesma questão pode ser tratada segundo enfoque oriental e o ocidental, e na superfície as conclusões podem parecer semelhantes, mas elas não podem ser. Se você se aprofundar um pouco, irá encontrar grandes diferenças -não diferenças comuns, mas diferenças extraordinárias.
Existe um haicu de Basho, o místico e mestre zen. Esse haicu pode não parecer uma grande poesia para mente ocidental, ou a mente que tenha sido educada de maneira ocidental.
Leia-o em completo silêncio, porque ele não é o que você chamaria de grande poesia, mas é de uma grande compreensão – o que é muito mais importante. Ele tem uma enorme poesia, mas para sentir essa poesia você tem de ser muito sutil. Intelectualmente, ele não pode ser compreendido: ele só pode ser compreendido intuitivamente.
O haicu é o seguinte:
Olhando com cuidado,
Vejo a nazunia florindo
na cerca!
Bem, esses versos não se parecem com uma grande poesia. Mas vamos observá-los com mais compreensão, porque Basho está sendo traduzido: na língua dele, há toda uma textura e um sabor diferentes.
A nazunia é uma flor muito comum – ela cresce espontaneamente à beira da estrada, é uma flor semelhante ao lírio. Ela é tão comum que ninguém repara na existência dela. Não é uma rosa preciosa, não é uma rara flor de lótus. É fácil ver a beleza de uma rara flor de lótus flutuando num lago – uma flor de lótus azul, como você poderia deixar de vê-la?
Por um instante você tende a se sentir atraído pela beleza dessa flor. Ou uma linda rosa oscilando ao vento, brilhando ao sol... por uma fração de segundo ela toma conta dos seus sentidos. É formidável. Mas uma nazunia é uma flor muito comum, vulgar. Ela não precisa de jardinagem nem de jardineiro; ela cresce espontaneamente em toda parte. Para ver a nazunia com atenção é preciso ser uma pessoa contemplativa, alguém de uma consciência muito delicada; do contrário passará por ela. A beleza dela é das coisas mais comuns, mas o muito comum contém em si o extraordinário – ate mesmo a flor da nazunia. A menos que você se infiltre nela com o coração compreensivo, solidário, não ira percebê-la.
No poema de Basho, a última sílaba – kana em japonês – é traduzido por um ponto de exclamação, porque não temos outra maneira de traduzi-la. Mas – kana significa: “Estou impressionado!” Então, de onde vem a beleza? Ela vem da nazunia? – porque milhares de pessoas podem ter passado pela beira da cerca e nunca ninguém deve ter sequer olhado para aquela florzinha. E Basho está possuído pela beleza dela, sendo transportado para outro mundo. O que aconteceu?
Não se trata realmente da nazunia, ou então ela chamaria a atenção de todo mundo. Trata-se de uma percepção repentina de Basho, do seu coração aberto da sua visão compassiva, da sua atitude contemplativa. A meditação é uma alquimia: pode transformar o metal da base em ouro, pode transformar uma flor de nazunia numa flor de lótus.
Olhando com cuidado...
E a expressão com cuidado significa com atenção, com consciência, de maneira meticulosa, cautelosa, com amor, com carinho. Se você não olhar com carinho perderá tudo o que interessa. A expressão com cuidado precisa ser considerada em todos os seus significados, mas o significado básico é de “maneira contemplativa”. E o que significa quando você observa de maneira contemplativa? Significa contemplar sem o uso da mente, sem nuvens de pensamentos no céu da sua consciência, sem lembranças do passado, sem desejos... absolutamente nada, um vazio completo.
Nesse estado de ausência da mente, quando você observa, até mesmo a flor da nazunia é transportada para um outro mundo. Ela se torna uma flor de lótus do paraíso, deixa de fazer parte da terra: o incomum foi encontrado no comum. Esse é o caminho e a maneira de proceder de um Buda. Encontrar o incomum no comum, encontrar tudo já, encontrar o todo nisso. – Gautama Buda chama-o de tathata.
O haicu de Basho é um haicu de tathata. Essa nazunia – observada com carinho, com amor atravéz do coração, da consciência desanuviada, num estado em que não há interferência da mente – produz esse espanto esse assombro. Um milagre acontece. Como ele é possível?
Essa nazunia... e se a nazunia é possível, então tudo é possível. Se uma nazunia pode ser tão linda, Basho pode ser um Buda. Se uma nazunia pode conter tanta poesia, então toda pedra pode se tornar um sermão.
Olhando a nazunia com cuidado, vejo a nazunia florindo na cerca!
Kana – estou impressionado! Estou perplexo: não consigo dizer nada sobre esta beleza – só posso me referir a ela.
Um haicu simplesmente sugere, o haicu apenas indica – e de uma maneira muito indireta.
Uma situação semelhante encontra-se num poema famoso de Tennyson; poderia ser muito interessante para você comparar os dois. Basho representa o intuitivo, Tennyson o intelectual. Basho representa o Oriente, Tennyson o Ocidente. Basho representa meditação, Tennyson a mente. Eles parecem semelhantes, e às vezes a poesia de Tennyson pode parecer mais poética que a de Basho porque é direta, é óbvia.
Flor do muro fendilhado
Arranco-te das fendas
Sustenho-te na mão, com raízes e tudo,
Florzinha – ah, se eu pudesse entender
O que és, com raízes e tudo, considerando tudo,
Eu saberia quem são Deus e o Homem.
Um belo trecho, mas nada parecido com Basho. Vamos ver onde Tennyson torna-se totalmente diferente.
Primeiro: Flor do muro fendilhado, arranco-te das fendas...
Basho simplesmente olha para flor, ele não a arranca. Basho é uma consciência compassiva; Tennyson é ativo, violento. Na verdade, se você ficou realmente impressionado com a flor, não pode arrancá-la. Se a flor atingiu seu coração, como você pode arrancá-la? Arrancá-la significa destruí-la, matá-la – é assassinato! Ninguém pensou na poesia de Tennyson como assassinato – mas é assassinato. Como você pode destruir algo tão lindo?
Mas é assim que a nossa mente funciona; ela é destrutiva. Ela quer possuir, e a possessão só é possível pela destruição. Lembre-se, sempre que você possuir alguma coisa ou alguém você destruirá essa coisa ou pessoa. Você possui uma mulher? – você a destrói, a beleza dela, a alma dela. Você possui um homem? – ele não é mais um ser humano: você o reduziu a um objeto, a uma mercadoria.
Basho olha “com cuidado” - apenas olha, nem sequer olha fixamente, de maneira concentrada. Apenas um olhar suave, feminino, como se tivesse receio de ferir a nazunia.
Tennyson arranca-a das fendas e diz:
Sustenho-te na mão, com raízes e tudo, florzinha...
Ele permanece separado. O observador e o observado em nenhum momento se fundem, se misturam, se encontram. Não é um caso de amor. Tennyson ataca a flor, arranca-a com a raiz e tudo, segura-a na mão.
A mente acha bom sempre que pode possuir, controlar, segurar. Um estado de consciência contemplativo não esta interessado em possuir, segurar, porque todas essas são atitudes de uma mente violenta.
Ele diz: “florzinha” – flor permanece pequena, ele permanece num pedestal superior. Ele é um homem, um grande intelectual, um grande poeta. Ele permanece no próprio ego: “florzinha”
Para Basho, não é uma questão de comparação. Ele não diz nada sobre si mesmo, como se não existisse. Não há observador. A beleza é tal que provoca transcendência. A flor da nazunia está lá, florindo na cerca – Kana – e Basho está simplesmente impressionado, perplexo na própria raiz do seu ser. A beleza é esmagadora. Em vez de possuir a flor ele é possuído pela flor. Ele esta em total rendição perante a beleza da flor, a beleza do momento, a bênção do momento.
Florzinha, diz Tennyson, ah, se eu pudesse entender...
Essa obsessão por entender! Apreciar não é suficiente, o amor não é o bastante; é preciso entender, produzir conhecimento. A menos que se manifeste o conhecimento, Tennyson não fica bem. A flor tem de se tornar um ponto de interrogação. Para Tennyson é um ponto de interrogação, para Basho é um ponto de exclamação.
Ai está a grande diferença: o ponto de interrogação e o ponto de exclamação.
O amor é suficiente para Basho. O amor é compreensão. Para que mais compreensão? Mas Tennyson parece não saber nada de amor. A mente dele está lá, ansiando por saber.
Ah, se eu pudesse entender o que és, com raízes e tudo, considerando tudo...
E a mente é compulsivamente perfeccionista. Nada pode ficar desconhecido, nada pode permanecer desconhecido e misterioso. Com raízes e tudo, considerando tudo tem de ser entendido. A menos que a mente conheça tudo, ela permanece temerosa – porque o conhecimento dá poder. Se existe algum mistério você tende a permanecer com medo, porque o misterioso não pode ser controlado. E medo é sofrimento. Quem sabe o que está oculto no misterioso? Talvez o inimigo, talvez um perigo, alguma insegurança? E quem sabe o que isso vai fazer a você? Antes que isso possa fazer alguma coisa precisa ser entendido, tem de ser conhecido. Nada pode ficar misterioso.
Mas então toda poesia desaparece, todo amor desaparece, todo mistério desaparece, todo milagre desaparece. A alma desaparece, a canção desaparece, a celebração desaparece. Tudo é conhecido – então nada tem valor. Tudo é conhecido então nada vale a pena. Tudo é conhecido - então a vida não tem sentido, não há significado na vida.
Veja o paradoxo: primeiro a mente diz: “Conheça tudo!” – e quando você conheceu a mente diz: “Não há sentido na vida.” Você destruiu o significado e agora ansia por significado. A mente é muito destrutiva em relação ao significado. E porque ela insiste que tudo pode ser conhecido, ela não pode permitir a terceira categoria, o incognoscível – que vai permanecer incognoscível eternamente. E no incognoscível está o significado da vida.
Todos os grandes valores – a beleza, o amor, Deus, a prece - ,tudo o que realmente é importante , tudo o que faz valer a pena viver, faz parte da terceira categoria: o incognoscível. O incongniscível é um outro nome para Deus, um outro nome para o misterioso e miraculoso.
Sem ele não pode haver milagre no seu coração – sem milagre o coração não é mais coração, e sem assombro você perde algo imensamente precioso. Então seus olhos estão cheios de poeira, eles perdem a clareza. Então o pássaro canta e você não mais se emociona, não se incomoda, seu coração não se abala – porque você conhece a explicação. As arvores são verdes, mas o verdor não transforma você, ele não desperta a poesia em você porque você conhece a explicação: é a clorofila que torna as árvores verdes. Então não resta nada de poesia. Quando a explicação aparece a poesia desaparece. E todas as explicações são utilitárias, não supremas.
Se você não acredita no incognoscível pode fazer uma autópsia num homem após a morte – e não vai encontrar nenhuma alma. E pode continuar procurando Deus, mas não vai encontrá-lo em nenhum lugar porque ele esta em toda parte. A mente vai deixar de percebê-lo porque a mente gostaria que ele fosse um objeto e Deus não é um objeto. Deus é uma vibração. Se você esta sintonizado com o som mudo da existência, se você esta sintonizado com as palmas batidas por uma única mão, se você esta sintonizado com o que os místicos indianos chamam de anahat – a musica suprema da existência – se você esta sintonizado com o misterioso, você vai saber que apenas Deus é, e nada mais. Então Deus se torna um sinônimo da existência.
Mas essas coisas não podem ser entendidas, essas coisas não podem ser reduzidas ao conhecimento. – e é aí que Tennyson falha, falha na questão inteira. Ele diz:
Florzinha – ah, seu eu pudesse entender o que és, com raízes e tudo, considerando tudo, eu saberia quem são Deus e o homem.
Mas é tudo “mas” e “se”.
Basho sabe o que Deus é e o homem é nesse ponto de exclamação – Kana. “Estou pasmo, estou surpreso... nazunia florindo na cerca!” Todo passado se foi, todo futuro desapareceu. Não há mais perguntas na mente dele, mas apenas um puro assombro. Basho tornou-se uma criança. De novo aqueles olhos inocentes de uma criança olhando para uma nazunia, com cuidado, com carinho. E nesse amor, nesse cuidado, existe um tipo totalmente diferente de compreensão – não intelectual, não analítico. Tennyson intelectualiza todo o fenômeno, e destrói sua beleza.
Tennyson representa o Ocidente, Basho representa o Oriente.
Tennyson representa a mente masculina, Basho representa a mente feminina. Tennyson representa a mente, Basho representa a ausência da mente.
Iniciarei com um trecho que copiei (na mão mesmo), de um livro que gosto muito.
É um texto para se ler com a mente vazia. Espero que gostem.
Segue:
Sem dúvida, existem muitas coisas que não podem ser expressas nas línguas ocidentais, porque a maneira oriental de considerar a realidade é basicamente, fundamentalmente, tacitamente diferente. Acontece, às vezes de a mesma questão pode ser tratada segundo enfoque oriental e o ocidental, e na superfície as conclusões podem parecer semelhantes, mas elas não podem ser. Se você se aprofundar um pouco, irá encontrar grandes diferenças -não diferenças comuns, mas diferenças extraordinárias.
Existe um haicu de Basho, o místico e mestre zen. Esse haicu pode não parecer uma grande poesia para mente ocidental, ou a mente que tenha sido educada de maneira ocidental.
Leia-o em completo silêncio, porque ele não é o que você chamaria de grande poesia, mas é de uma grande compreensão – o que é muito mais importante. Ele tem uma enorme poesia, mas para sentir essa poesia você tem de ser muito sutil. Intelectualmente, ele não pode ser compreendido: ele só pode ser compreendido intuitivamente.
O haicu é o seguinte:
Olhando com cuidado,
Vejo a nazunia florindo
na cerca!
Bem, esses versos não se parecem com uma grande poesia. Mas vamos observá-los com mais compreensão, porque Basho está sendo traduzido: na língua dele, há toda uma textura e um sabor diferentes.
A nazunia é uma flor muito comum – ela cresce espontaneamente à beira da estrada, é uma flor semelhante ao lírio. Ela é tão comum que ninguém repara na existência dela. Não é uma rosa preciosa, não é uma rara flor de lótus. É fácil ver a beleza de uma rara flor de lótus flutuando num lago – uma flor de lótus azul, como você poderia deixar de vê-la?
Por um instante você tende a se sentir atraído pela beleza dessa flor. Ou uma linda rosa oscilando ao vento, brilhando ao sol... por uma fração de segundo ela toma conta dos seus sentidos. É formidável. Mas uma nazunia é uma flor muito comum, vulgar. Ela não precisa de jardinagem nem de jardineiro; ela cresce espontaneamente em toda parte. Para ver a nazunia com atenção é preciso ser uma pessoa contemplativa, alguém de uma consciência muito delicada; do contrário passará por ela. A beleza dela é das coisas mais comuns, mas o muito comum contém em si o extraordinário – ate mesmo a flor da nazunia. A menos que você se infiltre nela com o coração compreensivo, solidário, não ira percebê-la.
No poema de Basho, a última sílaba – kana em japonês – é traduzido por um ponto de exclamação, porque não temos outra maneira de traduzi-la. Mas – kana significa: “Estou impressionado!” Então, de onde vem a beleza? Ela vem da nazunia? – porque milhares de pessoas podem ter passado pela beira da cerca e nunca ninguém deve ter sequer olhado para aquela florzinha. E Basho está possuído pela beleza dela, sendo transportado para outro mundo. O que aconteceu?
Não se trata realmente da nazunia, ou então ela chamaria a atenção de todo mundo. Trata-se de uma percepção repentina de Basho, do seu coração aberto da sua visão compassiva, da sua atitude contemplativa. A meditação é uma alquimia: pode transformar o metal da base em ouro, pode transformar uma flor de nazunia numa flor de lótus.
Olhando com cuidado...
E a expressão com cuidado significa com atenção, com consciência, de maneira meticulosa, cautelosa, com amor, com carinho. Se você não olhar com carinho perderá tudo o que interessa. A expressão com cuidado precisa ser considerada em todos os seus significados, mas o significado básico é de “maneira contemplativa”. E o que significa quando você observa de maneira contemplativa? Significa contemplar sem o uso da mente, sem nuvens de pensamentos no céu da sua consciência, sem lembranças do passado, sem desejos... absolutamente nada, um vazio completo.
Nesse estado de ausência da mente, quando você observa, até mesmo a flor da nazunia é transportada para um outro mundo. Ela se torna uma flor de lótus do paraíso, deixa de fazer parte da terra: o incomum foi encontrado no comum. Esse é o caminho e a maneira de proceder de um Buda. Encontrar o incomum no comum, encontrar tudo já, encontrar o todo nisso. – Gautama Buda chama-o de tathata.
O haicu de Basho é um haicu de tathata. Essa nazunia – observada com carinho, com amor atravéz do coração, da consciência desanuviada, num estado em que não há interferência da mente – produz esse espanto esse assombro. Um milagre acontece. Como ele é possível?
Essa nazunia... e se a nazunia é possível, então tudo é possível. Se uma nazunia pode ser tão linda, Basho pode ser um Buda. Se uma nazunia pode conter tanta poesia, então toda pedra pode se tornar um sermão.
Olhando a nazunia com cuidado, vejo a nazunia florindo na cerca!
Kana – estou impressionado! Estou perplexo: não consigo dizer nada sobre esta beleza – só posso me referir a ela.
Um haicu simplesmente sugere, o haicu apenas indica – e de uma maneira muito indireta.
Uma situação semelhante encontra-se num poema famoso de Tennyson; poderia ser muito interessante para você comparar os dois. Basho representa o intuitivo, Tennyson o intelectual. Basho representa o Oriente, Tennyson o Ocidente. Basho representa meditação, Tennyson a mente. Eles parecem semelhantes, e às vezes a poesia de Tennyson pode parecer mais poética que a de Basho porque é direta, é óbvia.
Flor do muro fendilhado
Arranco-te das fendas
Sustenho-te na mão, com raízes e tudo,
Florzinha – ah, se eu pudesse entender
O que és, com raízes e tudo, considerando tudo,
Eu saberia quem são Deus e o Homem.
Um belo trecho, mas nada parecido com Basho. Vamos ver onde Tennyson torna-se totalmente diferente.
Primeiro: Flor do muro fendilhado, arranco-te das fendas...
Basho simplesmente olha para flor, ele não a arranca. Basho é uma consciência compassiva; Tennyson é ativo, violento. Na verdade, se você ficou realmente impressionado com a flor, não pode arrancá-la. Se a flor atingiu seu coração, como você pode arrancá-la? Arrancá-la significa destruí-la, matá-la – é assassinato! Ninguém pensou na poesia de Tennyson como assassinato – mas é assassinato. Como você pode destruir algo tão lindo?
Mas é assim que a nossa mente funciona; ela é destrutiva. Ela quer possuir, e a possessão só é possível pela destruição. Lembre-se, sempre que você possuir alguma coisa ou alguém você destruirá essa coisa ou pessoa. Você possui uma mulher? – você a destrói, a beleza dela, a alma dela. Você possui um homem? – ele não é mais um ser humano: você o reduziu a um objeto, a uma mercadoria.
Basho olha “com cuidado” - apenas olha, nem sequer olha fixamente, de maneira concentrada. Apenas um olhar suave, feminino, como se tivesse receio de ferir a nazunia.
Tennyson arranca-a das fendas e diz:
Sustenho-te na mão, com raízes e tudo, florzinha...
Ele permanece separado. O observador e o observado em nenhum momento se fundem, se misturam, se encontram. Não é um caso de amor. Tennyson ataca a flor, arranca-a com a raiz e tudo, segura-a na mão.
A mente acha bom sempre que pode possuir, controlar, segurar. Um estado de consciência contemplativo não esta interessado em possuir, segurar, porque todas essas são atitudes de uma mente violenta.
Ele diz: “florzinha” – flor permanece pequena, ele permanece num pedestal superior. Ele é um homem, um grande intelectual, um grande poeta. Ele permanece no próprio ego: “florzinha”
Para Basho, não é uma questão de comparação. Ele não diz nada sobre si mesmo, como se não existisse. Não há observador. A beleza é tal que provoca transcendência. A flor da nazunia está lá, florindo na cerca – Kana – e Basho está simplesmente impressionado, perplexo na própria raiz do seu ser. A beleza é esmagadora. Em vez de possuir a flor ele é possuído pela flor. Ele esta em total rendição perante a beleza da flor, a beleza do momento, a bênção do momento.
Florzinha, diz Tennyson, ah, se eu pudesse entender...
Essa obsessão por entender! Apreciar não é suficiente, o amor não é o bastante; é preciso entender, produzir conhecimento. A menos que se manifeste o conhecimento, Tennyson não fica bem. A flor tem de se tornar um ponto de interrogação. Para Tennyson é um ponto de interrogação, para Basho é um ponto de exclamação.
Ai está a grande diferença: o ponto de interrogação e o ponto de exclamação.
O amor é suficiente para Basho. O amor é compreensão. Para que mais compreensão? Mas Tennyson parece não saber nada de amor. A mente dele está lá, ansiando por saber.
Ah, se eu pudesse entender o que és, com raízes e tudo, considerando tudo...
E a mente é compulsivamente perfeccionista. Nada pode ficar desconhecido, nada pode permanecer desconhecido e misterioso. Com raízes e tudo, considerando tudo tem de ser entendido. A menos que a mente conheça tudo, ela permanece temerosa – porque o conhecimento dá poder. Se existe algum mistério você tende a permanecer com medo, porque o misterioso não pode ser controlado. E medo é sofrimento. Quem sabe o que está oculto no misterioso? Talvez o inimigo, talvez um perigo, alguma insegurança? E quem sabe o que isso vai fazer a você? Antes que isso possa fazer alguma coisa precisa ser entendido, tem de ser conhecido. Nada pode ficar misterioso.
Mas então toda poesia desaparece, todo amor desaparece, todo mistério desaparece, todo milagre desaparece. A alma desaparece, a canção desaparece, a celebração desaparece. Tudo é conhecido – então nada tem valor. Tudo é conhecido então nada vale a pena. Tudo é conhecido - então a vida não tem sentido, não há significado na vida.
Veja o paradoxo: primeiro a mente diz: “Conheça tudo!” – e quando você conheceu a mente diz: “Não há sentido na vida.” Você destruiu o significado e agora ansia por significado. A mente é muito destrutiva em relação ao significado. E porque ela insiste que tudo pode ser conhecido, ela não pode permitir a terceira categoria, o incognoscível – que vai permanecer incognoscível eternamente. E no incognoscível está o significado da vida.
Todos os grandes valores – a beleza, o amor, Deus, a prece - ,tudo o que realmente é importante , tudo o que faz valer a pena viver, faz parte da terceira categoria: o incognoscível. O incongniscível é um outro nome para Deus, um outro nome para o misterioso e miraculoso.
Sem ele não pode haver milagre no seu coração – sem milagre o coração não é mais coração, e sem assombro você perde algo imensamente precioso. Então seus olhos estão cheios de poeira, eles perdem a clareza. Então o pássaro canta e você não mais se emociona, não se incomoda, seu coração não se abala – porque você conhece a explicação. As arvores são verdes, mas o verdor não transforma você, ele não desperta a poesia em você porque você conhece a explicação: é a clorofila que torna as árvores verdes. Então não resta nada de poesia. Quando a explicação aparece a poesia desaparece. E todas as explicações são utilitárias, não supremas.
Se você não acredita no incognoscível pode fazer uma autópsia num homem após a morte – e não vai encontrar nenhuma alma. E pode continuar procurando Deus, mas não vai encontrá-lo em nenhum lugar porque ele esta em toda parte. A mente vai deixar de percebê-lo porque a mente gostaria que ele fosse um objeto e Deus não é um objeto. Deus é uma vibração. Se você esta sintonizado com o som mudo da existência, se você esta sintonizado com as palmas batidas por uma única mão, se você esta sintonizado com o que os místicos indianos chamam de anahat – a musica suprema da existência – se você esta sintonizado com o misterioso, você vai saber que apenas Deus é, e nada mais. Então Deus se torna um sinônimo da existência.
Mas essas coisas não podem ser entendidas, essas coisas não podem ser reduzidas ao conhecimento. – e é aí que Tennyson falha, falha na questão inteira. Ele diz:
Florzinha – ah, seu eu pudesse entender o que és, com raízes e tudo, considerando tudo, eu saberia quem são Deus e o homem.
Mas é tudo “mas” e “se”.
Basho sabe o que Deus é e o homem é nesse ponto de exclamação – Kana. “Estou pasmo, estou surpreso... nazunia florindo na cerca!” Todo passado se foi, todo futuro desapareceu. Não há mais perguntas na mente dele, mas apenas um puro assombro. Basho tornou-se uma criança. De novo aqueles olhos inocentes de uma criança olhando para uma nazunia, com cuidado, com carinho. E nesse amor, nesse cuidado, existe um tipo totalmente diferente de compreensão – não intelectual, não analítico. Tennyson intelectualiza todo o fenômeno, e destrói sua beleza.
Tennyson representa o Ocidente, Basho representa o Oriente.
Tennyson representa a mente masculina, Basho representa a mente feminina. Tennyson representa a mente, Basho representa a ausência da mente.
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