sábado, 30 de outubro de 2010

O que se venera no Buddhismo.





Um pouco sobre o que se venera no Buddhismo.
Os ocidentais geralmente o confundem com as mais exóticas práticas. Infelizmente, o primeiro contato vem quase sempre através do exotismo. Também alguns orientais ficam surpresos e mesmo amedrontados ao serem informados que a religião dos ocidentais tem como rito principal um festim antropofágico do corpo e do sangue de seu fundador. Não é à toa que o Buddhismo diz que a ignorância é o pior dos inimigos!

Uma forma simples de se ver o que o Buddhismo considera louvável é através do que é chamado de “As Três Jóias”. De forma constante, os buddhistas as louvam e as homenageiam. A primeira Jóia é o Buddha,
Aquele que traz o Caminho de extinção da dor e do sofrimento. Buddhasignifica o Desperto, Aquele que
acordou da ilusão. A segunda Jóia é o Dhamma, que tem vários sentidos. Um deles, é o próprio ensinamento. Dhamma é a doutrina do Despertar. Mas falaremos um pouco mais dele adiante. A terceira Jóia é chamada de
Sangha, a Comunidade daqueles que compreenderam e realizaram o Caminho do Despertar. É o que se poderia chamar de a Comunidade dos Santos. Nestas três estão aquilo que há de mais precioso em um caminho espiritual. Na realidade, todas as grandes religiões têm estas jóias. Um Fundador que realizou completamente aquilo que ensina e traz esta mensagem ao mundo, um Ensinamento de Salvação ou
Despertar, e uma Comunidade de Realizados que dão o exemplo para todos.
Uma outra forma de considerar a veneração é ver mais de perto o significado da palavra Dhamma. Ela tem quatro significados principais. Primeiro - ela significa o Fundamento Último de todas as coisas, a
Natureza essencial de tudo o que existe. Segundo - ela quer dizer as Leis que regem o universo. Terceiro - ela significa os deveres que decorrem destas leis. E quarto - os frutos que vêm do cumprimento destas leis. O
terceiro sentido de Dhamma tem uma importância especial aqui. Quando crescemos espiritualmente, começamos a compreender o que é realmente o mundo, e aí vemos que todos temos deveres a cumprir,
deveres que surgem desta própria compreensão. Não mais saímos pelo mundo reivindicando direitos, mas sim, cumprindo o que devemos cumprir. Neste sentido, podemos dizer que louvar o Dhamma ou o Fundamento Último de todas as coisas, é compreender a Realidade e assumir nossa parcela de responsabilidade diante de todo o universo. Desta forma, louva-se no Buddhismo, através do trabalho, da ação, da contemplação e da compaixão a todos os seres. Algo bem próximo da máxima cristã: “Ora et
Labora”.
COMPREENDENDO MELHOR O ENSINAMENTO DO BUDDHA
(RICARDO SASAKI, © 1995)

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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Por que meditar?





Diz-se que a meditação pode trazer benefícios físicos e mentais a quem a pratica com regularidade. Segundo estudos médicos, os seus benefícios variam entre o desenvolvimento da capacidade de concentração e de raciocínio a melhorias na atividade do sistema imunológico, a alívio de insônias e problemas relacionados com pressão alta e curas emocionais. Os praticantes Zen não deixam, porém, de contrair doenças, de sofrer, de morrer. A meditação não é um meio para se alcançar a imortalidade física ou para se libertar das leis da natureza.

Somos o que pensamos.
Tudo o que somos provém
dos nossos pensamentos.
Com os pensamentos
Fazemos o mundo.
(do Dhammapada)

Ver as coisas como elas são, incluindo nós mesmos, é o principal motivo que leva os praticantes Zen a meditarem. De um modo geral, não nos damos conta da relação entre os padrões habituais da nossa atividade mental e o sofrimento que eles causam a nós e aos outros. A observação consistente da mente, durante a meditação e ao longo do dia, revela-nos que grande parte do nosso tempo é despendido a correr atrás de certas coisas e circunstâncias e a rejeitar outras. Damo-nos conta que dependemos uma parte considerável do nosso tempo e da nossa energia a reciclar prazeres e agravos do passado, ou ocupados em como podiam ou deviam melhorar as coisas no futuro, comparando constantemente pessoas e coisas, encarando-as segundo categorias dualistas como bem e mal, desejável e indesejável, certo e errado, culpado e inocente, amigo e inimigo, etc.

Ao meditarmos, passamos a ver com maior clareza os nossos preconceitos e apegos, e isto faz com que procuremos aperfeiçoar o nosso caráter. A observação simples, honesta, não verbal, dos nossos processos mentais e emocionais produz de fato uma mudança no modo de como encaramos as situações e as pessoas que encontramos. O efeito final é uma aproximação à vida que se manifesta em atitudes de não rejeição e de não apego, de não distorção da verdade, de obtenção do excesso de satisfação de desejos e de não cedência ao auto-engano. Esta maneira de viver manifesta-se quer num plano pessoal quer num plano social, e decorre mais de uma profunda compreensão interior do que de um ato de vontade. Como consequência, tornamo-nos menos propensos, por exemplo, a tirar proveito egoísta da natureza ou do próximo, a voltar as costas à vida por ingestão de químicos ou de drogas, a fechar os olhos às necessidades dos outros e aos efeitos das nossas vidas no meio ambiente.

Uma prática contínua de plena atenção ao longo de muitos anos pode dar origem a experiências de profunda compreensão interior que transformam a visão que temos de nós mesmos, ao ponto de podermos ver que o eu a que estivemos ligados prazenteiramente ao longo da nossa vida mais não é do que uma miragem auto-construída. É como se descascássemos uma cebola. Os falsos pensamentos são removidos, camada após camada, até deixarmos de ver não só um eu dissimulado e ilusório, mas também um eu desnudado. Aspiras a descobrires o teu eu, mas acabas por descobrir que não há nada a descobrir.

Em termos mais concretos, praticar meditação faz diminuir gradualmente a errância dos teus pensamentos até experimentares um estado de “não-mente”. Perceberás naturalmente que a tua vida no passado foi construída sobre um acumular de noções errôneas e confusas que não são o teu verdadeiro eu. O teu verdadeiro eu é um que é inseparável de todos os outros. A existência objetivo de todos os acontecimentos compreende todas as várias dimensões da existência subjetiva do teu eu. Não tens, portanto, que procurar nada nem desprezar nada. O que está diante de ti em cada momento é o que tens procurado, e não podes nem tens de lhe acrescentar nada para ele ser perfeito. Ao alcançar este estádio, o praticante de meditação torna-se compassivo para com todos os humanos e todos os outros seres. O seu caráter torna-se radioso, aberto, luminoso como a luz da Primavera. Apesar de poder manifestar emoções em prol dos outros, internamente a mente do praticante de meditação está constantemente serena e límpida como a água num lago de Outono. Tal pessoa pode ser considerada neste momento iluminada.

Segundo um ensinamento essencial do Zen, a porta interior está aberta a todos, homens e mulheres, velhos e novos, sábios e ignorantes, fortes e fracos, pessoas de todas as profissões, ofícios e origens, de qualquer religião e crença.
Todas estas palavras, no entanto, apenas falam do Zen, não são em si o Zen. A meditação Zen requer a tua determinação em aprenderes e a tua persistência em praticares. Falar do Zen sem o praticar só faz aumentar o conhecimento inútil e confuso da nossa já confusa mente. Não te é salutar alimentares-te apenas com imagens de comida.

(texto cortesia de Open Way Zen, traduzido por José Eduardo Reis)

Publicado originalmente aqui:
http://zen-pt.blogspot.com/2007/05/porqu-meditar.html

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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A vida de todos os dias é o caminho





A vida de todos os dias é o Caminho

Joshu perguntou a Nansen: "O que é o Caminho?"
Nansen disse: "A vida de todos os dias é o Caminho."
Joshu perguntou: "Pode ser estudado?"
Nansen respondeu: "Se tentares estudar, estarás longe dele."
Joshu perguntou: "Se não estudar, como posso saber que é o Caminho?"
Nansen disse: "O Caminho não pertence ao mundo da percepção, nem pertence ao mundo da não-percepção. A cognição é uma ilusão e a não-cognição não tem sentido. Se queres encontrar o verdadeiro caminho para além da dúvida, coloca-te na mesma liberdade que o céu. Não chamas bom nem não-bom."

Com estar palavras Joshu despertou.

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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O Samurai e o Mestre Zen








Certo dia um Samurai, que era um guerreiro muito orgulhoso, veio ver um Mestre Zen.
Embora fosse muito famoso, belo e habilidoso, ao olhar o Mestre, o Samurai sentiu-se repentinamente inferior.

Ele então disse ao Mestre:- "Por que estou me sentindo inferior? Apenas um momento atrás, tudo estava bem. Quando aqui entrei, subitamente me senti inferior e jamais me sentira assim antes. Encarei a morte muitas vezes, mas nunca experimentei medo algum. Por que estou me sentindo assustado agora?"

O Mestre falou:- "Espere. Quando todos tiverem partido, responderei."Durante todo o dia, pessoas chegavam para ver o Mestre, e o Samurai estava ficando mais e mais cansado de esperar.

Ao anoitecer, quando o quarto estava vazio, o Samurai perguntou novamente:

- "Agora o senhor pode me responder por que me sinto inferior?"O Mestre o levou para fora. Era uma noite de lua cheia e a lua estava justamente surgindo no horizonte.
Ele disse:- "Olhe para estas duas árvores: a árvore alta e a árvore pequena ao seu lado. Ambas estiveram juntas ao lado de minha janela durante anos e nunca houve problema algum. A árvore menor jamais disse à maior: 'Por que me sinto inferior diante de você?' Esta árvore é pequena e aquela é grande - este é o fato, e nunca ouvi sussurro algum sobre isso."

O Samurai então argumentou:- "Isto se dá porque elas não podem se comparar."

E o Mestre replicou:- "Então não precisa me perguntar. Você sabe a resposta. Quando você não compara, toda a inferioridade e superioridade desaparecem. Você é o que é e simplesmente existe. Um pequeno arbusto ou uma grande e alta árvore, não importa, você é você mesmo. Uma folhinha da relva é tão necessária quanto a maior das estrelas. O canto de um pássaro é tão necessário quanto qualquer Buda, pois o mundo será menos rico se este canto desaparecer."Simplesmente olhe à sua volta. Tudo é necessário e tudo se encaixa. É uma unidade orgânica: ninguém é mais alto ou mais baixo, ninguém é superior ou inferior. Cada um é incomparavelmente único. Você é necessário e basta. Na Natureza, tamanho não é diferença. Tudo é expressão igual de vida!

Postado Originalmente em:
http://pensandozen.blogspot.com/2009/08/o-samurai-e-o-mestre-zen.html

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domingo, 24 de outubro de 2010

Por que as mudanças nos assustam?




Todos nós seres humanos queremos a felicidade, e lutamos para escapar do sofrimento. Temos projetos para nossa vida, compromissos com as nossas famílias, contas a pagar, sonhos a realizar. Tudo isso está dentro do mundo E este mundo vive atualmente um processo de grandes mudanças. E rápidas, e muito exigentes.

Os jornais falam em crises e obstáculos para suas superações. À todo momento a globalização redefine o mapa do mundo, dos investimentos, das megafusões. A cada redefinição, o temor da perda de emprego, do status, o rebaixamento de salário, incertezas sobre os novos esquemas e relacionamentos de trabalho. As inseguranças agitam e inquietam a mente humana. Ansiedade, tensão, estresse.

No vórtice desse processo, a mídia lança o imperativo que abrange também os trabalhadores de alta qualificação, executivos, gerentes: Atualizar-se, se informar, aprender novos métodos, novas tecnologias, estar ao par de tudo.

Mudanças aceleradas, pressões, novas mudanças. Ousar, ser criativo, eficiente. Mudanças, mudanças, mudanças, ou seremos postos à margem da vida social e econômica. O desafio está colocado.

Para examiná-lo, precisamos nos fazer algumas perguntas, cujas respostas nos ajudem a direcionar as ações que sejam propícias para suas soluções.

Quais são as mudanças que nos são exigidas? Em que áreas de nossa vida: profissional-financeira? Físico-afetiva? Familiar? Psíquica? E como fazê-las? Quais habilidades são exigidas a cada redefinição? Ainda mais: qual o limite de nossa capacidade humana de mudar nossos padrões nas várias áreas de nossa vida, e numa velocidade cada vez mais acelerada? Qual o custo físico e psíquico desse esforço? Todos suportam esse mesmo esforço exigido? E aqueles que não suportam, carregarão perante seus familiares, ambientes de trabalho e amizade, o estigma de “incapazes, lerdos, fracassados”? E o que é mais dramático, como se verão diante de si mesmos?

E por último: onde fica a nossa condição humana nisso tudo? Essa pergunta nos remete diretamente a outra mais sutil e profunda: o que somos nós seres humanos, quais são nossas necessidades? E esta pergunta nos remete a uma ainda mais profunda: qual o propósito, o significado do viver humano?

Há dois mil e quinhentos anos atrás, na Índia, o príncipe Sidhartha Gautama, aquele que se tornará o Buddha Shakyamuni, fez a si mesmo as mesmas perguntas: onde está a felicidade, de onde vem o sofrimento?

Dois milênios e meio se passaram. Hoje temos mais recursos materiais, maiores comodidades foram conquistadas pelo progresso tecnológico: aviões, automóveis, computadores, celulares, medicina, informação, aumento da expectativa de vida e muitas outras coisas úteis ao nosso conforto, recursos que aliviam em certa medida nosso sofrimento.

Com o avanço dos recursos materiais, poderíamos esperar que o ser humano trabalharia menos, e com isso ganharia mais tempo para seu lazer, sua vida familiar, sua vida criativa. Isto estaria acontecendo? Pois o que se ouve são queixas de que se têm cada vez menos tempo para o lazer, a vida familiar, a vida criativa, e que as pessoas se sentem inseguras, solitárias, com medo de perder o emprego, de se tornarem obsoletas, sob crescente pressão das mudanças para situações desconhecidas. Porque tantas notícias sobre o aumento da depressão, enfarte, divórcios, obesidade, colesterol?

Comecemos com o que nos é mais próximo: a funcionalidade que se espera que tenhamos em nossa área profissional, pois esta área gerencia nossa sobrevivência material.

A funcionalidade profissional é como um braço de um corpo. Sua função é prover nossas necessidades materiais básicas, mas não apenas isto: prover também o desenvolvimento de nossas habilidades, que se ligam ao nosso senso de auto-realização. Mas se entramos numa academia e passamos todo o tempo fortalecendo apenas nossos braços, o que acontecerá? Uma atrofia das outras partes do corpo, e o desequilíbrio geral.

Na analogia da funcionalidade dos membros de ume corpo, não é só um corpo físico que está em questão, mas nossa vida psíquica-emocional, os pulmões e cérebro deste corpo complexo que é ser humano. Como podemos, usando os desafios colocados para nossas atualizações profissionais, tomá-los como alavancas para refletirmos sobre nossos projetos e padrões condicionados com que direcionamos as ações de nossas vidas? Isso não nos ajudaria a traçar quais mudanças escolheremos, em que proporções, e quais teremos de aceitar por força das contingências?

Mas há um outro lado que nos envolve: não somos apenas aqueles que sofrem as mudanças. Somos co-responsáveis pelas mudanças cujas conseqüências caem também sobre nós. Temos de incluir isto também na reflexão de nossas vidas: as escolhas que nós – individualmente e ao nível da sociedade – fazemos, e as conseqüências dessas escolhas, não só para nós, mas também para muitos. Não podemos ignorar que há uma interdependência essencial entre todos os seres vivos.

Não será que estamos esquecendo o fato de que nossa condição humana não se restringe apenas à nossa dimensão material e psíquica-emocional? Talvez nosso modelo de felicidade tenha uma falha séria: o quanto estamos investindo no centro íntimo da nossa mente humana, a matriz espiritual mais profunda de nossa felicidade? Não precisaríamos rever o modelo de felicidade que cada um de nós está construindo para si mesmo?

Lembremos que um dia, tudo que nos é querido será deixado para trás. E nesse momento, o que teremos ao nosso favor será o que tivermos construído globalmente durante nossa vida. Por isso, não precisaríamos aprofundar nossa compreensão sobre a interdependência entre nossa funcionalidade profissional e as outras funcionalidades que constituem nossa condição humana? Isso não nos ajudaria a pensar em fazer das mudanças uma ocasião para ir além delas, para uma transformação interior gradual que construa um modelo de felicidade mais profundo e inclusive mais hábil diante das mudanças? Pois não será que parte de nossas dificuldades com as mudanças têm a ver com nossos apegos e padrões condicionados com que nos colocamos no mundo?

Para o cultivo de nossas funcionalidades, uma mente mais concentrada e apaziguada não nos ajudaria a lidar com nosso ambiente de trabalho de constante mutação e competição feroz? Nesse sentido, como a meditação da tranquilização e do desenvolvimento da sabedoria, realizada e ensinada pelo Buddha nos ajudaria a lidar com nossas várias dimensões humanas, e a atravessar com harmonia essa vida finita?

Esses são alguns pontos que temos de amadurecer em nossa compreensão e prática. A meditação da tranquilização e do desenvolvimento da sabedoria, que chegou ao Ocidente inicialmente restrita aos grupos de interesse espiritualista, está aos poucos ganhando espaço de reconhecimento pela medicina como um dos mais respeitados recursos terapêuticos: “O que tem se visto, de acordo com as numerosas pesquisas científicas a respeito da técnica, é que a meditação se firma cada vez mais como uma espécie de remédio – acessível e sem efeitos colaterais – indicado para um leque já amplo de enfermidades: da depressão ao controle da dor, da artrite reumatóide aos efeitos colaterais do câncer” (Isto É, p. 70, ano 34, no. 2102. SP: Três Editorial, fev/2010).

Nomes de centros médicos como o Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, Clínica Mayo, Centro Médico da Universidade de Massachusetts, (EUA), SUS (Política de Práticas Integrativas e Complementares, Ministério da Saúde), Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Carlos, Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, Hospital Albert Einstein (Brasil), bem como de centros de pesquisa como o Centro de Estudos do Envelhecimento da Universidade Federal de São Paulo, Universidade de Brasília, Universidade da Califórnia, Universidade George Mason, Instituto de Psiquiatria do Columbia-Presbyterian Medical Center, Universidade da Carolina do Norte, Universidade de Wisconsin (EUA), Universidade de Exeter (Inglaterra), têm dedicado pesquisas e implementações da técnica da meditação para o lide de muitos males psíquicos e corporais do mundo contemporâneo. E certamente, esta prática saudável deverá aos poucos ganhar espaço no campo também das empresas e seus funcionários, propiciando o incremento de uma qualidade de sabedoria e harmonia interna, beneficiando a todos.

Se esses benefícios já são reconhecidos no campo científico moderno, é importante frisar que a meditação da tranquilização e do desenvolvimento da sabedoria, realizada e ensinada pelo Buddha, têm um propósito que, incorporando essas melhorias psíquicas e físicas, vai para mais além disto: oferece a elevada possibilidade da total erradicação do sofrimento na mente humana, gerado pela cobiça, ódio e delusão. Liberada a mente pela purificação, realiza-se o Nibbana, a suprema felicidade.

Este texto aqui apresentado é uma reelaboração expandida do texto de apoio da palestra “Mudanças” organizada e realizada em 25 de novembro de 2009 pela Universo Qualidade, no auditório do Hotel Renaissance (foto abaixo), São Paulo.



Arthur Shaker - Casa de Dharma


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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Meditação reduz a ansiedade e o estresse e auxilia na cura de doenças.

Quando o olhar da mente é límpido, vemos tudo como realmente é, de modo natural. Mas assim que os olhos se distraem com objetos externos, não vemos mais. Perdemos a capacidade de ver corretamente. Sons e imagens nos atacam, nos arrastam, nos puxam. Coisas que deveríamos ver, não vemos. Coisas que deveríamos ouvir, não ouvimos. Não é assim?

Se escutarmos o rio sem atenção, a água que corre parece ter um ritmo constante e ininterrupto. Entretanto, nenhuma gota d'água passa duas vezes sobre a mesma pedra. Não é nunca a mesma gota que forma o leito do rio ou o murmúrio da correnteza. A imutabilidade é apenas uma ilusão dos olhos e dos ouvidos humanos. Uma vez que tenha passado, a água não corre nunca mais no mesmo ponto do rio.

A vida humana não é diferente. Acreditar que ontem é igual a hoje é resultado de nossa ignorância e insensibilidade. São nossas mentes e nossos olhos deludidos que vêem o passado igual ao presente. Os olhos iluminados vêem claramente a imagem das coisas em eterno movimento e reconhecem que um instante é diferente de qualquer outro.
Shundo Aoyama Roshi


sábado, 9 de outubro de 2010

Onde esta o ganhador do Nobel da Paz 2010?





Pequim, 9 out (EFE).- A esposa de Liu Xiaobo, o dissidente chinês agraciado nesta sexta-feira com o Prêmio Nobel da Paz, irá hoje à prisão onde o marido cumpre pena para informá-lo sobre a notícia, após negociar com as autoridades seu silêncio, informaram fontes ligadas ao casal.

A poetisa Liu Xia foi obrigada ontem a abandonar seu domicílio de forma secreta e sob forte vigilância policial para não ter de conceder entrevista aos inúmeros jornalistas que esperavam que ela saísse de seu apartamento para comentar à imprensa sobre a decisão do Instituto Nobel da Noruega.

Fontes dissidentes asseguram que Liu negociou com as autoridades seu silêncio em troca de poder visitar hoje seu marido e informá-lo sobre o prêmio, já que ele se encontra incomunicável na prisão.

No entanto, a esposa fez declarações a alguns meios de comunicação e enviou um comunicado expressando agradecimento e pedindo liberdade para Liu.

Tal como informou hoje o jornalista dissidente Wang Jinbo, Liu Xia viaja sob custódia e acompanhada por seu irmão à localidade de Jinzhou, na província vizinha de Liaoning, 480 quilômetros ao nordeste da capital chinesa, onde seu marido cumpre pena de 11 anos desde dezembro de 2009 por redigir um manifesto político pedindo democracia na China.

Wang, que é amigo da poetisa, assinala que a segurança nos arredores da prisão se intensificou nesta manhã e que as áreas de acesso à mesma foram bloqueadas.

Os moradores de Jinzhou dizem que não viram muitos agentes de segurança pública, mas a Polícia deteve um veículo com jornalistas de Hong Kong e os levou à delegacia para interrogatório. Em seguida, eles foram convidados a abandonar a localidade.

O Governo chinês repudiou ontem a concessão do prêmio a um "criminoso" e qualificou a decisão de "blasfêmia", porque, segundo o regime autoritário comunista que governa a China desde 1949, a decisão descumpre o espírito do Prêmio Nobel.

Além disso, a Chancelaria chinesa chamou para consultas o embaixador norueguês em Pequim e censurou a notícia na imprensa de todo o país. As capas dos jornais estampam hoje as notícias referentes ao câmbio do iuane e à sucessão na Coreia do Norte. Só os editoriais mencionam o Nobel da Paz, e para condená-lo.

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Para que meditar, Originalidade e Dukka





Em minhas visitas a blogs, colhi estas:

Para quê meditar?
Para quê meditar, ficar sentado sem fazer nada, se há tantas coisas interessantes para fazer?

Mas o que é realmente interessante? Quando fazemos as coisas que nos apetecem não estaremos a agir determinados pelos condicionamentos criados por toda a nossa experiência passada até este momento? Será possível sair deste total determinismo que nos leva a seguir automaticamente os nossos "quereres"? Haverá realmente possibilidade de ser livre?

Poderemos mesmo ao meditar decompor e observar todo o processo mental, deste os impulsos que nos levam a fazer coisas, às consequentes reacções de apego, aversão, e agir sobre este processo, escolhendo o que fazer, ou não fazer?

Quando me forço a ficar sentado sem fazer nada não estarei afinal a investigar a possibilidade de ser realmente livre?

-

Originalidade
No mundo académico todos procuram escrever algo que seja original. E então por isso amontoam-se artigos, a maior parte inúteis e sobre problemas particulares, muitos deles inventados.

Mas o que é essencial nestas nossas vidas são coisas muito simples. E esta obsessão pelo original afasta-nos do que é essencial. Será original esta ideia? Pouco me importa.

Quando é que algo que escrevemos é original? Basta que se sinta ou será preciso verificar se já está publicado em alguma revista científica internacional?

Deve ser preciso um estado meditativo muito profundo para verificar que algo é criatividade e não repetição de algo que surgiu em toda a nossa experiência até este momento. Hoje estou-me a rir de mim próprio...

Um poema de Bashô:

“Olhe cuidadosamente

A Nazuna desabrocha

Ao longo da cerca – Ah!”

Repito este para mim muitas vezes. Um dia vou saber o que diz e vai ser um poema original meu.

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Dhukka
De tempos a tempos volto à primeira nobre verdade: dhukka.

Existe sofrimento na existência humana. Estamos sujeitos à dor, envelhecimento, doenças e morte. E podemos tentar ignorar isto com distracções ou procurar viver a vida em pleno, também o sofrimento.

Raramente olho para a televisão, mas ontem à noite olhei para um daqueles programas que mostram como a vida das vedetas de televisão é plena de felicidade. Ficando a olhar para a televisão esquecemos facilmente que a nossa própria existência tem sofrimento. Talvez a solução seja ficar sempre a olhar para a televisão, fugir à vida e um dia morrer sem ter vivido...

Do mesmo modo que nos podemos abrir à dor física e notar cada sensação até que fique apenas a dor deve ser possível notar no corpo o sofrimento mental até que fique só o sofrimento mental. O que quer isto dizer?

Publicado em http://barrazen.blogspot.com/


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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A Roda da Vida








"Se o sofrimento foi criado, construído, ele pode ser dissolvido, desconstruído. Para tanto, é necessário aprender a percorrer o caminho inverso, coisa que Padma Samten ensina com maestria. Mas só isso não é suficiente. A lucidez é alcançada pelo cultivo de uma mente compassiva, associado à realização da vacuidade, termo que não significa vazio, como muitos acreditam. Dizer que tudo é vacuidade é afirmar que os fenômenos – as coisas e as relações – não existem por si mesmos; existem apenas na dependência de; interdependentemente.
O entendimento intelectivo do conceito, entretanto, não implica em sua realização. Quando esta acontece, a visão de mundo é profundamente alterada e a pessoa sente-se conectada com o todo. A verdadeira compreensão da essência da realidade ocasiona uma abertura inigualável para o outro e para o mundo. Com exemplos retirados do cotidiano, Lama Samten explica a vacuidade da forma simples, a fim de tornar o caminho rumo à libertação acessível ao maior número possível de pessoas.

Além de ter a virtude de reunir os mais importantes ensinamentos budistas, apresentando ao leitor noções complexas e sofisticadas, livro tem o mérito de mostrar como esse conhecimento pode (e deve) ser aplicado no dia-a-dia por qualquer pessoa que deseje livrar-se do sofrimento.

O Buda disse que ninguém deveria aceitar suas ideias baseando-se apenas na fé. O praticante do budismo deve testar os ensinamentos e ver se funcionam ou não em sua vida.

“Em termos filosóficos, o budismo é uma religião extremamente sofisticada, mas que pode ser resumida em duas palavras: compaixão e sabedoria. Procurar desenvolver essas qualidades é o que todo budista deve fazer em sua prática em busca da iluminação”, diz Lama Samten. Um conselho útil a todos."

http://www.cebb.org.br/lamasamten/84-noticias/444-novo-livro-do-lama-samten-qa-roda-da-vida-como-caminho-para-a-lucidezq



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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O Futuro.





Não persiga o passado
Não se perca no futuro
O passado não mais existe
O futuro ainda não veio.
Olhando em profundidade para a vida como é
Neste exato aqui e agora,
O praticante habita
Na estabilidade e liberdade.
Precisamos ser diligentes hoje.
Esperar até amanhã pode ser tarde demais.
A morte vem inesperadamente.
Como podemos barganhar com ela?
Um sábio chama uma pessoa que sabe
Como morar na plena atenção
Dia e noite
“Aquele que sabe
A melhor maneira de viver sozinho.”

(Do sutra sobre a Melhor Maneira de Viver Sozinho)



Às vezes, porque o presente está muito difícil, levamos nossa atenção ao futuro esperando que a situação melhore no futuro. Imaginando que o futuro será melhor, mais facilmente aceitamos o sofrimento e as privações do presente. Mas, outras vezes, pensar sobre o futuro pode nos causar muito medo e ansiedade, e mesmo assim não conseguimos parar de fazer isso.

A razão pela qual continuamos a pensar no futuro mesmo quando não queremos é por causa das formações mentais. Mesmo sem estar aqui ainda, o futuro já está produzindo fantasmas que nos assustam. Na verdade, estes fantasmas não são produzidos pelo futuro ou pelo passado. É a nossa consciência que os cria. O passado e o futuro são criações da nossa consciência.

As energias por traz do nosso pensar sobre o nosso futuro são nossas esperanças, sonhos e ansiedades. Nossas esperanças podem ser resultado de nossos sofrimentos e falhas. Como o presente não nos traz felicidade, permitimos que nossas mentes viajem para o futuro. Esperamos que no futuro, a situação seja mais brilhante:

“Quando alguém pensa como seu corpo será no futuro, como seus sentimentos serão no futuro, como suas formações mentais serão no futuro, como sua consciência será no futuro...”.

Pensar desta maneira pode nos dar coragem para aceitar a falha e o sofrimento no presente. O poeta Tru Vu disse que o futuro é a vitamina para o presente. Esperança nos traz de volta algumas das alegrias da vida que perdemos.

Todos sabemos que esperança é necessária para a vida. Mas de acordo como budismo, a esperança pode ser um obstáculo. Se investirmos nossa mente no futuro, não teremos energia mental suficiente para encarar e transformar o presente. Naturalmente temos o direito de fazer planos para o futuro, mas fazer planos não significa ser varrido por sonhos, devaneios. Enquanto estamos fazendo planos, nossos pés devem estar firmemente plantados no presente. Só podemos criar o futuro da matéria prima do presente.

O ensinamento essencial do budismo é ser livre de todos os desejos no futuro, de forma a voltar com todo o nosso coração e mente para o presente. Realizar o despertar significa chegar em uma profunda e completa visão da realidade, que é o momento presente.

De forma a voltar ao presente e ficar face a face com o que está acontecendo, devemos olhar em profundidade no coração do que existe e experimentar sua verdadeira natureza. Quando fazemos isso, experimentamos um entendimento profundo que pode nos libertar do sofrimento e da escuridão.

De acordo com o budismo, inferno, paraíso, samsara e nirvana estão todos aqui no momento presente. Retornar ao momento presente é descobrir a vida e perceber a verdade. Todos os Despertos do passado têm seu Despertar no momento presente. Todos os Despertos do presente e do futuro realizarão o fruto do Despertar no presente também. Apenas o momento presente é real;

“O passado não mais existe e o futuro ainda não veio.”

Se não ficarmos de pé firmemente no momento presente, podemos nos sentir sem base quando olharmos para o futuro. Podemos pensar que no futuro estaremos sozinhos, sem lugar para nos refugiar e ninguém para nos ajudar.

“Quando alguém pensa como seu corpo será no futuro, como suas formações mentais serão no futuro, como sua consciência será no futuro...”

Estas preocupações sobre o futuro nos tiram a tranqüilidade, nos geram ansiedade e medo e não nos ajudam a tomar conta do momento presente. Eles apenas fazem nosso modo de lidar com o presente fraco e confuso. Há um ditado confucionista que diz que uma pessoa que não sabe como planejar para o futuro distante ficará preocupada e perplexa no futuro próximo. O propósito disto é nos lembrarmos de tomar conta do futuro, mas não ficarmos ansiosos e termos medo dele.

A melhor maneira de se preparar para o futuro é tomar muito cuidado com o presente, porque sabemos que se o presente é feito do passado, então o futuro é feito do presente. Tudo que precisamos no responsabilizar é pelo momento presente. Apenas o presente está no nosso alcance. Cuidar do presente é cuidar do futuro.

(Do livro “Our appointment with life”– Thich Nhat Hanh)
(Traduzido por Leonardo Dobbin)


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domingo, 3 de outubro de 2010

A Esperança e a Fé no Buddhismo



A Esperança e a Fé no Buddhismo

Neste sentido, o melhor que temos a fazer, dentro de uma perspectiva contemplativa, é desenvolvermos ações responsáveis no momento presente. De nada adianta esperar passivamente que as coisas melhorem. É preciso fazer uma distinção entre a esperança voltada para as coisas do mundo e aquela voltada para as coisas espirituais. Por exemplo, “eu tenho esperança de comprar um apartamento ou melhorar de vida no futuro”. Isto é expectativa e cria ansiedade e preocupação. O Buddhismo não está interessado neste tipo de esperança. Existe um verso que diz: “O passado já se foi e o futuro ainda não veio, portanto, permaneçam no presente que é o único momento que pode ser de fato vivido”. É algo como o provérbio árabe que diz que você não pode pegar o camelo que ainda não veio nem aquele que já passou! Esperança no Buddhismo está mais relacionada com confiança. Na língua påli é chamada de “saddhå”. Isto é confiar no caminho a ser percorrido, pois levará ao Despertar da ilusão. Alguém que se aproxima da tradição buddhista se surpreenderá de imediato com a naturalidade com que é convidado a investigar por si mesmo os ensinamentos do Buddha e não crer simplesmente no que lhe é dito. De fato, a doutrina buddhista tem sido conhecida desde seus primórdios como “ehi-passiko”, ou seja, aquela que convida a vir e ver por si mesmo.
Somente através da visão direta da verdade pode alguém estar certo de suas qualidades. Neste sentido, a fé cega é justamente o oposto daquilo que se espera do verdadeiro procurador da Verdade. A fé cega ou a crença, nada mais é que um modo de tapar um buraco, o qual deveria ser preenchido com o conhecimento.
Na ausência deste, aparece a crença. Não encontraremos, portanto, a concepção de uma crença pura e simples sendo estimulada nos ensinamentos buddhistas. A palavra mais próxima para “fé” é “saddhå”, que significa muito mais “convicção” do que “crença”. saddhå ou sraddhå (em sânscrito) comporta três aspectos segundo Ósanga, o grande mestre buddhista do século quarto:

1. Convicção completa e firme sobre o que uma coisa é.
2. Alegria serena em razão das boas qualidades.
3. Aspiração ou ânsia em ter a capacidade de alcançar um objetivo em vista.

No primeiro aspecto, saddhå é a fé como uma etapa posterior ao conhecimento. É porque sabemos algo, por experiência ou intelecção, que temos fé naquilo. Saddhå é aqui a fé no conhecimento ou sabedoria já conquistada.

No segundo aspecto, saddhå liga-se com a tranqüilidade na virtude adquirida. Aquele que desenvolveu
as qualidades saudáveis como a sabedoria, a compaixão, a generosidade, a honestidade e outras, e,  consciente de seu campo de virtudes, é tranqüilo e, portanto, confiante. É como alguém que tendo visto os resultados de sua plantação e consciente de sua farta colheita, está seguro e contente em relação à sua situação econômica. Saddhå aqui tem a ver com segurança, tudo isto em relação aos bens (espirituais) conquistados.

No terceiro aspecto, por fim, saddhå refere-se à esperança. Possuir saddhå aqui significa desejar e confiar que seus objetivos serão realizados. No caminho espiritual alguém nada trilhará se começar sem esforço e duvidoso dos resultados desse esforço. É como alguém que começa uma viagem, mas não deseja nem acredita que chegará ao seu destino. Este, no primeiro obstáculo, desistirá, e suas expectativas pessimistas de fato se cumprirão. Em nenhum destes três sentidos vemos saddhå como fé cega ou crença em algo sem sentido. Pelo contrário, é aquela confiança que surge naquilo que já se conhece. Este conhecimento lhe dá confiança. E, por conhecer, ele confia que atingirá também a próxima etapa do caminho. Como diz o Buddha: “...Ó bhikkhus, eu digo que a destruição das manchas e das impurezas é o trabalho de uma pessoa que sabe e vê, e não de uma pessoa que não sabe e não vê” (Samyutta Nikåya III, PTS trans., pg.152). Sigamos, então, o conselho do Buddha: Venham e Vejam por si mesmos a verdade e os resultados da prática do Dhamma!

COMPREENDENDO MELHOR O ENSINAMENTO DO BUDDHA (RICARDO SASAKI, © 1995 

sábado, 2 de outubro de 2010

Reencarnação no Buddhismo

Reencarnação no Buddhismo



A definição da “Realidade Suprema” é uma noção que geralmente tende a separar o Cristianismo do Buddhismo. A questão é menos de contradições intransponíveis que de compreensão mais profunda dos termos envolvidos. Outra das dificuldades entre cristãos e buddhistas tem sido o conceito de reencarnação.
Infelizmente, isto que parece separar estas duas grandes religiões, não passa de um grande erro, pois, ao contrário do que muitos pensam, o Buddhismo não tem uma doutrina reencarnacionista, pelo menos não quando interpretado corretamente. A reencarnação no Buddhismo, quando é mencionada por alguns, é  apenas uma crença popular e exterior, apropriada para aqueles que só conseguem fazer o bem se creditando em um proveito próprio. “Eu faço isto para receber os frutos amanhã ou em outra vida”. É uma crença popular, sustentada seja por orientais que desconhecem qualquer coisa mais profunda de sua tradição, seja por ocidentais iniciantes. É semelhante àqueles cristãos que acreditam que Deus é, realmente, um homem velho e barbudo sentado em um trono de madeira pousado nas nuvens. A idéia ocidental da reencarnação, ou seja, a de que uma alma ou “espírito” imutável ocupa diferentes corpos humanos indefinidamente, nem mesmo existe no Buddhismo (lembremos seu ensinamento fundamental sobre o não-eu), sendo fruto das concepções espíritas surgidas no fim do século XIX. O que o Buddhismo de fato ensina é o renascimento, algo por completo diferente da reencarnação tal como é concebida no Ocidente. No processo de passagem do Buddhismo para o Ocidente entretanto os tradutores e intérpretes ocidentais começaram a fazer uso de suas próprias concepções influenciadas pelo espiritismo para interpretar doutrinas buddhistas, o que teve como resultado um engano que permanece até hoje na mente de alguns que estudam o Buddhismo superficialmente e isto principalmente no Brasil. Como diz o monge Khantipålo: “Uma sucessão de vidas com uma alma encarnando em uma série de corpos é freqüentemente chamada de reencarnação. No Buddhismo, o ensinamento referente a este tema é fundamentalmente diferente... Não há re-encarnação no Buddhismo pois não há entidade espiritual imutável; em termos últimos, nenhuma alma pode ser encontrada que possa se reencarnar. O Buddhismo não constrói a dicotomia entre um corpo perecível de um lado e uma alma eterna  de outro” (Buddhism Explained. Bangkok: Mahamakut Rajavidyalaya Press, 1986). Renascimento significa no contexto buddhista a transmissão ou influência das ações intencionais nos seus frutos. Toda ação intencional, para o bem ou para o mal, gera conseqüências. Diz-se, assim, que a ação “renasce” nos seus frutos, ou seja, há uma interdependência entre ações e reações.

O que o Buddhismo ensina é que a vida é una e uma só, tomando formas diferentes, mas estreitamente dependentes e ligadas entre si. É uma só vida que anima tudo. Daí “vida” ser na Bíblia traduzida muitas vezes do latim anima que significa “alma”. Esta única vida ou “alma” assume várias formas, todas elas impermanentes e transitórias, como tudo o que é criado. Estas formas nascem, morrem, renascem, tornam a nascer e assim por diante. Uma semente também nasce, se desenvolve, se transforma em árvore, que por sua vez morre, mas gera muitas sementes. De certa forma, podemos falar que aquela árvore “renasce” na semente.Entretanto, nem a árvore e sua semente são a mesma, nem são radicalmente diferentes. Se falamos que são iguais, então, caímos no reencarnacionismo. É o mesmo que dizer que a árvore se “reencarnou” na semente! Que ela é o mesmo “ser” em um outro “corpo”. Um completo absurdo! Mas falar que são completamente diferentes entre si é cair no que podemos chamar de ceticismo, agnosticismo ou casuísmo: a concepção que vê tudo como isolado e independente. É a concepção de que uma vez que se morre é o fim e pronto! Ou ainda significa falar que tudo acontece por acaso sem nenhuma ligação anterior. O Buddhismo poderia falar, pelo contrário, que a “ressurreição” ocorre quando estas “porções de vida” compreendem que não são isoladas do todo, mas são expressões de uma única vida. É a Libertação da Ilusão, a Iluminação, o encontro com o Absoluto. Isto tem a ver com responsabilidade universal por todas as coisas. O que fazemos aqui se reflete pelos dez cantos do universo. O pecado (ignorância) de um, mancha todo o resto, como uma gota de tinta jogada em uma bacia de água. Mas também a Iluminação de um salva todo o universo, como uma lâmpada que, quando acesa, ilumina todo o quarto escuro. Desta forma, o Buddhismo terá uma preocupação especial para com o sofrimento. Quando os primeiros ocidentais e cristãos chegaram à Ásia, ficaram surpresos de ver, dentro de templos buddhistas, pinturas e quadros com uma figura masculina e outra feminina se abraçando. Tomaram isto como profanação e idolatria do sexo. Pena que não se lembraram de perguntar aos orientais e aos seus monges o que isto significava. Estas duas figuras se abraçando simbolizam a Sabedoria e o Método.

A Sabedoria é a primeira resposta do Buddhismo para o sofrimento nos dias de hoje. É necessário que o homem cultive um maior entendimento de quem é ele, o que é o Real, o que é o mundo em torno. O nível de compreensão que temos de tudo isto é muito superficial. Somente agora, por exemplo, é que o homem moderno, em escala global, está percebendo que tudo está interligado, e isto devido à tremenda crise ecológica em que vivemos. É necessário aprofundarmos nosso entendimento da realidade e isto inevitavelmente colaborará para a diminuição do sofrimento. A segunda resposta vem através do Método. Isto significa possuir formas efetivas de ação. Ter técnicas e ensinamentos que nos levem a compreender o sofrimento e a dor do mundo e atuar convenientemente para extirpar suas causas. No Buddhismo o método mais supremo é a Compaixão. Somenteela poderá fazer com que quebremos a barreira de nossos egoísmos, e num movimento para frente, possamos ir de encontro às necessidades do próximo, com os corações abertos. É porque tudo está interligado que nossa responsabilidade aumenta. Desfrutamos as ações sábias e as ações que rebaixam a espécie humana. De certo modo, tais ações “renascem” em nós, pois sofremos todas as suas conseqüências.

COMPREENDENDO MELHOR O ENSINAMENTO DO BUDDHA
(RICARDO SASAKI, © 1995)
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