quinta-feira, 1 de julho de 2010

Achando a própria mente.

Achando a própria mente

Quando estamos estressados com alguma coisa, ou muito ocupados, dizemos freqüentemente que estamos “perdendo a cabeça” [i.e, a mente]. Mas onde a sua mente estava antes de se perder e para onde ela teria ido? No Sutra Surangama um texto budista popular no Vietnã e China, Buda e seu discípulo Ananda discutem como localizar a mente. Ela está dentro do corpo, fora do corpo ou entre o corpo e o mundo exterior? Em última instância, o sutra nos ensina que a mente não é localizável. Em outras palavras, você não pode dizer que ela está dentro do corpo, fora do corpo, ou entre eles. A mente não tem um local estabelecido.
Não só a mente é não-localizável, tudo é assim. Hoje de manhã eu peguei uma tenra folha verde solta no chão. Esta folha está em minha mente ou fora dela? Que pergunta! É uma pergunta muito simples, mas muito difícil de ser respondida. A noção de fora e dentro não pode ser aplicada a realidade.
Nós temos a tendência de pensar na mente como “aqui dentro” e no mundo como “lá fora”, a mente como subjetiva e o mundo, o corpo, como objetivo. Buda ensinou que mente e objeto da mente não existem separadamente, eles interexistem. Sem este, o outro não pode ser. Não há observador sem o observado. Objeto e sujeito se manifestam juntos. Geralmente quando pensamos em mente, pensamos somente em consciência mental. Mas mente não é apenas consciência mental, ela também é manas, ela também é consciência armazenadora.
Podemos nos treinar para ver o nosso corpo como um rio, e a nossa mente como parte daquele mesmo rio, sempre fluindo, sempre mudando. De acordo com a psicologia budista, o maior dos obstáculos à nossa habilidade de ver a realidade claramente é a nossa tendência de ficar muito envolvido na noção do sujeito ser algo diferente do objeto, e objeto ser algo independente do sujeito. Este modo de olhar se tornou um hábito, um padrão influenciador do nosso pensamento e comportamento.
Quando eu era um jovem noviço, nós estudávamos que a consciência possui três partes. A primeira e a segunda partes são: darshana, o observador, e nimita, o observado – isto é, o sujeito e o objeto. Sujeito e objeto se apóiam um no outro para se manifestar. Se você acredita que sujeito pode existir sem objeto, este é o maior dos erros. Temos a tendência de acreditar que o sujeito de cognição, a nossa mente, é algo que pode existir separadamente e independentemente do objeto de cognição, ou objeto da experiência. E nós acreditamos que o objeto de cognição, o que está lá fora, é algo que existe separado do sujeito de cognição.
No budismo existe o termo namarupa.* Namarupa é equivalente ao psicossomático. A realidade se manifesta em duplo aspecto: psique e soma; o mental e o biológico. E um não pode existir sem o outro. Cérebro e mente são dois aspectos da manifestação de uma coisa. Então, nós temos que nos treinar para ver o cérebro como a consciência e a não ver a consciência como algo totalmente separado e diferente do cérebro.
Quando você convida a chama a se manifestar, você pode pensar que a chama é algo totalmente diferente do fósforo. Mas você sabe que a chama é imanente, está escondida no combustível da cabeça do fósforo, está escondida no oxigênio do ar, a chama não tem localidade real. E quando as condições se reúnem, a chama se manifesta. A natureza da consciência também não é localizável. Sabemos que consciência é sempre consciência de algo. Objeto e sujeito estão sempre juntos. Olhando dentro desta parte, você vê a outra parte. Olhando dentro da outra parte, você ver esta parte. Esta é a natureza da interexistência. Um está dentro do outro.

Nama em sânscrito significa “mente”, e “rupa” significa “corpo”.

Sangha Virtual
Estudos Budistas
Tradição do Ven. Thich Nhat Hanh

Mestre Zen Thich Nhat Hanh já foi indicado ao prêmio Nobel da Paz.

http://www.pazacadapasso.org/

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