quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O Ensinamento da Não-Alma






Anatta: O Ensinamento da Não-Alma

O Buddha contrapôs toda teoria de uma alma e especulação sobre uma alma com Sua doutrina de Anatta. Anatta tem sido traduzido sob vários rótulos: não-Alma, não-Self, não-Ego.

Para entender a doutrina de Anatta, é preciso entender que a teoria de uma alma eterna – ‘eu tenho uma alma’ – e a teoria materialista – ‘eu não tenho alma’ – ambas são obstáculos para a autorealização ou salvação. Elas surgem do conceito enganado do ‘EU SOU’. Assim, para compreender a doutrina de Anatta, não se pode apegar a nenhuma opinião ou crença em teorias da alma; ao contrário, deve-se tentar ver as coisas objetivamente como são e sem quaisquer projeções mentais. É preciso aprender a ver o assim chamado ‘eu’, alma ou Self como realmente é: meramente uma combinação de forças mutantes. Isso requer alguma explicação analítica.

O Buddha ensinou que aquilo que concebemos como algo eterno dentro de nós, é meramente uma combinação de agregados físicos e mentais, ou forças (pancakkhandha) constituídos de corpo ou matéria (rupakkhandha), sensações (vedanakkhandha), percepções (saññakkhandha), formações mentais (sankharakkhandha) e consciência (viññanakkhandha). Essas forças trabalham juntas num fluxo de mudança momentânea; nunca permanecem iguais por dois momentos consecutivos. São as forças constitutivas da vida psicofísica. Quando o Buddha analisou a vida psicofísica, Ele descobriu somente esses cinco agregados ou forças. Não encontrou nenhuma alma eterna. Entretanto, muitas pessoas ainda carregam a idéia errônea de que a alma é a consciência. O Buddha declarou em termos inequívocos que a consciência é dependente da matéria, sensação, percepção e formações mentais e que não pode existir independentemente destes.

O Buddha disse: ‘O corpo, ó monges, não é o Self. Sensação não é o Self. Percepção não é o Self. As construções mentais não são o Self. E nem a consciência é o Self. Percebendo isso, ó monges, o discípulo não coloca valor no corpo, na sensação, na percepção, nas construções mentais ou na consciência. Não colocando valor neles, ele se torna livre da paixão e é liberto. O conhecimento da libertação surge dentro dele. E então ele sabe que fez o que tinha que ser feito, que viveu a vida santa, que não há mais tornar-se isso ou aquilo, que seu renascimento está destruído’ (Anatta-lakkhana Sutta)

A doutrina de Anatta do Buddha tem mais de 2500 anos. O pensamento corrente no mundo científico moderno flui na direção do Ensinamento do Buddha sobre Anatta ou Não-Alma. Aos olhos dos cientistas modernos, um ser humano é meramente um agregado de sensações sempre mutantes. Os físicos modernos dizem que o universo aparentemente sólido não é, na realidade, composto de substâncias sólidas de modo algum, mas é, de fato, um fluxo de energia. O físico moderno vê todo o universo como um processo de transformação de várias forças, o qual inclui os processos que constituem um ser humano. O Buddha foi o primeiro a perceber isso.

W.S. Wily disse certa vez: ‘A existência do imortal nos seres humanos tem se tornado cada vez desacreditada a partir da influência das escolas dominantes do pensamento moderno’. A crença na imortalidade da alma é um dogma que contradiz a investigação mais clara e empírica.

A mera crença em uma alma imortal ou a convicção de que algo em nós sobrevive à morte não nos torna imortais a menos que saibamos o que é isto que sobrevive e que somos capazes de nos identificar com isso. A maioria dos seres humanos escolhe a morte ao invés da imortalidade identificando-se com o que é perecível e impermanente por meio do teimoso apego ao corpo ou aos elementos momentâneos da personalidade presente, os quais se iludem tomando-os como sendo a alma ou a forma essencial de vida.

Com relação a tais pesquisas dos cientistas modernos que agora estão mais inclinados a afirmar que a chamada ‘Alma’ não é mais que um aglomerado de sensações, emoções, sentimentos, todos esses relacionados a experiências físicas, o prof. William James diz que o termo ‘Alma’ é uma mera figura de linguagem que não corresponde a nenhuma realidade.

É a mesma doutrina de Anatta do Buddha que foi introduzida na Escola Mahayana do Buddhismo como Sunyata ou vazio. Embora esse conceito tenha sido elaborado pelo grande erudito Mahayana, Nagarjuna, provendo várias interpretações, não há qualquer coisa extraordinária no conceito de Sunyata que seja muito diferente da doutrina original do Buddha sobre Anatta.

A crença na Alma ou Self e no Deus Criador é tão fortemente enraizada nas mentes de muitas pessoas que elas não podem imaginar porque o Buddha não aceitou esses dois conceitos que são indispensáveis em muitas religiões. De fato, algumas pessoas ficam chocadas ou nervosas e emotivas quando escutam que o Buddha rejeitou esses dois conceitos. Essa é a razão principal porque para muitos acadêmicos e psicólogos imparciais o Buddhismo é único quando comparado a outras religiões. Ao mesmo tempo, alguns outros acadêmicos que apreciam os vários outros aspectos do Buddhismo estão convencidos de que o Buddhismo ficaria mais rico se deliberadamente reinterpretasse a palavra ‘atta’, de maneira a introduzir o conceito de Alma e Self no Buddhismo. O Buddha estava consciente dessa insatisfação da humanidade e da turbulência conceitual com relação a essa crença.

Todas as coisas condicionadas são impermanentes,
Todas as coisas condicionadas são Dukkha-Sofrimento,
Todas as coisas condicionadas ou não (dhamma) são sem alma ou sem self.
(Dhammapada 277, 278, 279)

Há uma parábola em nossos textos buddhistas com relação à crença numa alma eterna. Um homem, que se iludiu tomando uma corda por uma cobra, ficou apavorado pelo medo em sua mente. Quando descobriu que era somente um pedaço de corda, seu medo se dissipou e sua mente ficou pacífica. A crença numa alma eterna é igualada à corda – uma imaginação do homem.

Muito mais em:
http://noqueosbuddhistasacreditam.wordpress.com/2009/09/28/anatta-o-ensinamento-da-nao-alma/

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Location:R. Inácio Francisco de Souza,Penha,Brazil

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Existe uma Alma Eterna?





A crença numa alma eterna é uma concepção errônea da consciência humana

Teorias da Alma

Com relação à teoria sobre a alma, há três tipos de professores no mundo: O primeiro ensina sobre a existência de uma entidade de ego eterna que sobrevive à morte: ele é o eternalista. O segundo ensina a respeito de uma entidade de ego temporária que é aniquilada com a morte: ele é o materialista. O terceiro não ensina sobre uma entidade de ego nem eterna nem temporária: ele é o Buddha.

O Buddha ensina que aquilo que chamamos de ego, self, alma, personalidade, etc., consiste de meros termos convencionais que não se referem a qualquer entidade independente e real. De acordo com o Buddhismo não há razão para acreditar que há uma alma eterna que vem do céu ou que é criada por si mesma e que irá transmigrar ou prosseguir para céu ou inferno após a morte. Os buddhistas não podem aceitar que haja qualquer coisa nesse mundo ou em qualquer outro mundo que seja eterno ou imutável. Apenas nos apegamos a nós mesmos e esperamos encontrar algo imortal. Somos como crianças que desejam pegar um arco-íris. Para as crianças, um arco íris é algo vivo e real; mas os adultos sabem que ele é meramente uma ilusão causada por certos raios de luz e gotas d’água. As cores são somente uma série de ondas ou ondulações que não têm mais realidade do que o próprio arco-íris.

Vivemos bem sem a descoberta da alma. Não mostramos sinais de fadiga ou degeneração por não ter encontrado uma alma. Ninguém já produziu qualquer coisa a fim de promover a raça humana por meio da postulação de uma alma e de seu funcionamento imaginário. Buscar por uma alma no homem é como buscar por algo num quarto escuro e vazio. A pobre pessoa nunca perceberá que aquilo que procura não está no quarto. É muito difícil fazer tal pessoa compreender a futilidade de sua busca.

Aqueles que acreditam na existência de uma alma não têm condição de explicar o que ela é e onde está. O conselho do Buddha é não desperdiçar nosso tempo com essa especulação desnecessária e devotar nosso tempo a entender a realidade. Quando atingirmos a perfeição então seremos capazes de perceber se há uma alma ou não.

Um asceta andarilho chamado Vacchagotta perguntou ao Buddha se havia um Atman (self/alma) ou não. Eis a história:

Vacchagotta se aproximou do Buddha e perguntou:
‘Venerável Gotama, existe um Atman?’
O Buddha ficou em silêncio.
‘Então, Venerável Gotama, não há um Atman?’
Novamente, o Buddha ficou em silêncio.
Vacchagotta se levantou e foi embora.

Após o asceta ter partido, Ananda perguntou ao Buddha porque não havia respondido a pergunta de Vacchagotta. O Buddha explicou Sua posição:

‘Ananda, quando perguntado por Vacchagotta, o Andarilho: “Há um Self?”, se Eu tivesse respondido: “Há um Self”, então, Ananda, isso seria tomar partido dos reclusos e brahmanas que mantêm a teoria do eternalismo (sassata-vada)’.

‘E Ananda, quando perguntado pelo Andarilho: “Não há um Self?”, se Eu tivesse respondido: “Não há um Self”, então Eu teria tomado partido dos reclusos e brahmanas que mantêm a teoria da nihilismo (uccedavada)’.

‘Também, Ananda, quando perguntado por Vacchagotta: “Há um Self?”, se Eu tivesse respondido: “Há um Self”, isso estaria de acordo com meu conhecimento de que todos os dhammas são sem Self?’

‘Certamente não, Senhor’.

‘E também, Ananda, quando perguntado pelo Andarilho: “Não há um Self?”, se Eu tivesse respondido: “Não há um Self”, então isso teria criado uma grande confusão no já confuso Vacchagotta. Pois ele teria pensado: Antigamente, de fato, eu tinha um Atman (Self), mas agora eu não tenho um’ (Samyutta Nikaya).

O Buddha considerou a especulação sobre a alma como sendo ilusória. Disse certa vez: ‘Somente pela ignorância e ilusão os homens se indulgem no sonho de que suas almas são separadas e entidades que existem por si mesmas. Seu coração ainda se agarra ao Self. Ficam ansiosos pelo céu e procuram o prazer do Self no céu. Assim, não podem ver a bênção da corretude e a imortalidade da verdade’. Idéias egoístas aparecem nas mentes dos seres humanos devido a sua concepção de Self e do apego pela existência.

Fonte Original:
http://noqueosbuddhistasacreditam.wordpress.com/2009/10/12/existe-uma-alma-eterna/

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Location:R. Luiz Bortolini,Jaraguá do Sul,Brazil

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Abhidhamma





O Abhidhamma lida com realidades existentes num sentido último (paramattha dhamma em pali). Há quatro dessas realidades:

1. – Citta, mente ou consciência: definida como ‘o que conhece ou experiencia’ um objeto. Citta ocorre como estados momentâneos distintos de consciência.
2. – Cetasika: fatores mentais que surgem e ocorrem junto com citta.
3. – Rupa: fenômenos físicos e forma material.
4. – Nibbana: o estado incondicionado de bênção, que é o objetivo final.

Citta, cetasika e rupa são realidades condicionadas. Surgem devido a condições e desaparecerão quando cessarem as condições que os sustentam. São estados impermanentes. Nibbana, por outro lado, é uma realidade incondicionada. Não começa e, portanto, não desaparece. Essas quatro realidades podem ser experienciadas, não importando os nomes que escolhemos dar a elas. Além dessas realidades, tudo – estando dentro ou fora de nós, seja no passado, presente ou futuro, seja grosseiro ou sutil, inferior ou sublime, seja perto ou longe – não é mais que um conceito e não a realidade fundamental.

Citta, cetasika e Nibbana são também chamados de nama. Nibbana é um nama incondicionado. Os dois namas condicionados, isto é, citta e cetasika, quando adicionados a rupa (forma), constituem os organismos psicofísicos, inclusive os seres humanos. Mente e matéria (nama-rupa) são analisados no Abhidhamma como se submetidos a um microscópio. Eventos conectados com o processo de nascimento e morte são explicados em detalhe. O Abhidhamma clareia pontos intrincados do Dhamma e capacita o surgimento de uma compreensão da realidade, delineando assim, em claros termos, o Caminho para a Emancipação. A realização que obtemos por meio do Abhidhamma em relação às nossas vidas e ao mundo não pode ser entendida num sentido convencional, mas no de realidade absoluta.

A exposição clara dos processos de pensamento no Abhidhamma não pode ser encontrada em nenhum outro tratado psicológico seja do oriente como do ocidente. A consciência é definida, enquanto os pensamentos são analisados e classificados principalmente de um ponto de vista ético. A composição de cada tipo de consciência é delineada em detalhes. O fato de a consciência fluir como uma corrente, uma visão proposta por psicólogos como William James, se torna extremamente claro para quem entende o Abhidhamma. Além disso, um estudante do Abhidhamma pode compreender totalmente a doutrina de Anatta (não-self), que é importante tanto do ponto de vista filosófico quanto ético.

O Abhidhamma explica o processo do renascimento em vários planos após a ocorrência da morte sem nada passando de uma vida para outra. Essa explicação apóia a doutrina do Kamma e do Renascimento. Provê também uma riqueza de detalhes sobre a mente, bem como sobre as unidades das forças mentais e materiais, propriedades da matéria, fontes da matéria e relacionamento de mente e matéria.

No Abhidhammattha Sangaha, um manual de Abhidhamma, há uma breve exposição da ‘Lei da Originação Dependente’, seguida por um relato descritivo das Relações Causais, do qual não se encontra paralelo em nenhum outro estudo da condição humana em qualquer lugar do mundo. Por causa de suas exposições analíticas e profundas, o Abhidhamma não é um tema de interesse passageiro para um leitor superficial.

Como podemos comparar a psicologia moderna com a análise oferecida no Abhidhamma? A psicologia moderna, limitada como é, faz parte do escopo do Abhidhamma tanto quanto lida com a mente – com pensamentos, processos de pensamento e estados mentais. A diferença jaz no fato de que o Abhidhamma não aceita o conceito de uma psiquê ou alma.

A análise da natureza da mente dada no Abhidhamma não está disponível em qualquer outra fonte. Mesmo os psicólogos modernos andam no escuro em relação a temas como os impulsos mentais ou o compasso mental (javana citta), tais como discutidos no Abhidhamma. O Dr. Graham Howe, um eminente psicólogo de Harley Street, escreveu em seu livro ‘A Anatomia Invisível’:

Durante o curso de seus trabalhos, os psicólogos descobriram, assim como a obra pioneira de C.G. Jung mostrou, que estamos mais perto do Buddha. Ler um pouco de Buddhismo é perceber que os buddhistas já conheciam, 2500 atrás, bem mais sobre nossos problemas modernos de psicologia do que foi dado o crédito. Eles estudaram esses problemas há tempos e também descobriram as respostas. Estamos agora redescobrindo a Antiga Sabedoria do Oriente’.

Original:
No que os Buddhistas acreditam.
http://noqueosbuddhistasacreditam.wordpress.com/2010/08/30/o-que-e-abhidhamma/

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