
Anatta: O Ensinamento da Não-Alma
O Buddha contrapôs toda teoria de uma alma e especulação sobre uma alma com Sua doutrina de Anatta. Anatta tem sido traduzido sob vários rótulos: não-Alma, não-Self, não-Ego.
Para entender a doutrina de Anatta, é preciso entender que a teoria de uma alma eterna – ‘eu tenho uma alma’ – e a teoria materialista – ‘eu não tenho alma’ – ambas são obstáculos para a autorealização ou salvação. Elas surgem do conceito enganado do ‘EU SOU’. Assim, para compreender a doutrina de Anatta, não se pode apegar a nenhuma opinião ou crença em teorias da alma; ao contrário, deve-se tentar ver as coisas objetivamente como são e sem quaisquer projeções mentais. É preciso aprender a ver o assim chamado ‘eu’, alma ou Self como realmente é: meramente uma combinação de forças mutantes. Isso requer alguma explicação analítica.
O Buddha ensinou que aquilo que concebemos como algo eterno dentro de nós, é meramente uma combinação de agregados físicos e mentais, ou forças (pancakkhandha) constituídos de corpo ou matéria (rupakkhandha), sensações (vedanakkhandha), percepções (saññakkhandha), formações mentais (sankharakkhandha) e consciência (viññanakkhandha). Essas forças trabalham juntas num fluxo de mudança momentânea; nunca permanecem iguais por dois momentos consecutivos. São as forças constitutivas da vida psicofísica. Quando o Buddha analisou a vida psicofísica, Ele descobriu somente esses cinco agregados ou forças. Não encontrou nenhuma alma eterna. Entretanto, muitas pessoas ainda carregam a idéia errônea de que a alma é a consciência. O Buddha declarou em termos inequívocos que a consciência é dependente da matéria, sensação, percepção e formações mentais e que não pode existir independentemente destes.
O Buddha disse: ‘O corpo, ó monges, não é o Self. Sensação não é o Self. Percepção não é o Self. As construções mentais não são o Self. E nem a consciência é o Self. Percebendo isso, ó monges, o discípulo não coloca valor no corpo, na sensação, na percepção, nas construções mentais ou na consciência. Não colocando valor neles, ele se torna livre da paixão e é liberto. O conhecimento da libertação surge dentro dele. E então ele sabe que fez o que tinha que ser feito, que viveu a vida santa, que não há mais tornar-se isso ou aquilo, que seu renascimento está destruído’ (Anatta-lakkhana Sutta)
A doutrina de Anatta do Buddha tem mais de 2500 anos. O pensamento corrente no mundo científico moderno flui na direção do Ensinamento do Buddha sobre Anatta ou Não-Alma. Aos olhos dos cientistas modernos, um ser humano é meramente um agregado de sensações sempre mutantes. Os físicos modernos dizem que o universo aparentemente sólido não é, na realidade, composto de substâncias sólidas de modo algum, mas é, de fato, um fluxo de energia. O físico moderno vê todo o universo como um processo de transformação de várias forças, o qual inclui os processos que constituem um ser humano. O Buddha foi o primeiro a perceber isso.
W.S. Wily disse certa vez: ‘A existência do imortal nos seres humanos tem se tornado cada vez desacreditada a partir da influência das escolas dominantes do pensamento moderno’. A crença na imortalidade da alma é um dogma que contradiz a investigação mais clara e empírica.
A mera crença em uma alma imortal ou a convicção de que algo em nós sobrevive à morte não nos torna imortais a menos que saibamos o que é isto que sobrevive e que somos capazes de nos identificar com isso. A maioria dos seres humanos escolhe a morte ao invés da imortalidade identificando-se com o que é perecível e impermanente por meio do teimoso apego ao corpo ou aos elementos momentâneos da personalidade presente, os quais se iludem tomando-os como sendo a alma ou a forma essencial de vida.
Com relação a tais pesquisas dos cientistas modernos que agora estão mais inclinados a afirmar que a chamada ‘Alma’ não é mais que um aglomerado de sensações, emoções, sentimentos, todos esses relacionados a experiências físicas, o prof. William James diz que o termo ‘Alma’ é uma mera figura de linguagem que não corresponde a nenhuma realidade.
É a mesma doutrina de Anatta do Buddha que foi introduzida na Escola Mahayana do Buddhismo como Sunyata ou vazio. Embora esse conceito tenha sido elaborado pelo grande erudito Mahayana, Nagarjuna, provendo várias interpretações, não há qualquer coisa extraordinária no conceito de Sunyata que seja muito diferente da doutrina original do Buddha sobre Anatta.
A crença na Alma ou Self e no Deus Criador é tão fortemente enraizada nas mentes de muitas pessoas que elas não podem imaginar porque o Buddha não aceitou esses dois conceitos que são indispensáveis em muitas religiões. De fato, algumas pessoas ficam chocadas ou nervosas e emotivas quando escutam que o Buddha rejeitou esses dois conceitos. Essa é a razão principal porque para muitos acadêmicos e psicólogos imparciais o Buddhismo é único quando comparado a outras religiões. Ao mesmo tempo, alguns outros acadêmicos que apreciam os vários outros aspectos do Buddhismo estão convencidos de que o Buddhismo ficaria mais rico se deliberadamente reinterpretasse a palavra ‘atta’, de maneira a introduzir o conceito de Alma e Self no Buddhismo. O Buddha estava consciente dessa insatisfação da humanidade e da turbulência conceitual com relação a essa crença.
Todas as coisas condicionadas são impermanentes,
Todas as coisas condicionadas são Dukkha-Sofrimento,
Todas as coisas condicionadas ou não (dhamma) são sem alma ou sem self.
(Dhammapada 277, 278, 279)
Há uma parábola em nossos textos buddhistas com relação à crença numa alma eterna. Um homem, que se iludiu tomando uma corda por uma cobra, ficou apavorado pelo medo em sua mente. Quando descobriu que era somente um pedaço de corda, seu medo se dissipou e sua mente ficou pacífica. A crença numa alma eterna é igualada à corda – uma imaginação do homem.
Muito mais em:
http://noqueosbuddhistasacreditam.wordpress.com/2009/09/28/anatta-o-ensinamento-da-nao-alma/
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